Ele era um verdadeiro ministro das comunicações e da partilha. Todos os anos, Guilherme Aluízio, o ex-aluno de Dom Bosco, sempre se destacou na liturgia da Semana Santa, especialmente, na Cerimônia do Lava-Pés, uma das mais emblemáticas da Teologia da Humildade na doutrina cristã. E a mais parecida com ele. Quem frequenta a Catedral Metropolitana de Manaus, nas solenidades de passagem da Quaresma para o Domingo de Ressurreição, invariavelmente, viu Guilherme no presbitério da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, com as vestes solenes de um Congregado Mariano, togado ao Ministério da Eucaristia, aquele que distribui o pão e tudo aquilo que a liturgia católica traduz em seu acervo de significância. Era ali que ele revivia suas lições e recomendações religiosas que lhe marcaram a vida. A Eucaristia, no contexto fraterno da partilha, foi a marca registrada deste amazonense empreendedor e diplomata. Era delicioso para as autoridades do mundo político, empresarial, cultural e religioso assentar-se nas confortáveis poltronas do Jornal do Comércio antes de desfrutar um acolhedor e delicioso almoço. Uma conversa suave e ao mesmo tempo fecunda na leitura dos desafios que Manaus e o Amazonas precisavam segundo a ótica atenta e comprometida de Guilherme.
O dedo diplomático
Adepto e incentivador desta Coluna Follow Up, Guilherme deu todo apoio institucional, jornalístico e ético desde o momento de sua criação. Constituiu, em comum acordo com o presidente do CIEAM, Maurício Loureiro, a indicação de Ronaldo Bonfim, o responsável editorial pela Follow Up. E fez festa na primeira edição publicada em 16 de maio de 2003. A última, sob a responsabilidade de Ronaldo Bonfim, ficou sob a chancela de dois de seus atuais conselheiros editoriais, José Alberto Costa Machado e Augusto César Barreto Rocha. Nela, os autores falavam de um Ciclo que se encerrava ali, no dia 5 de março de 2013. Os autores lembraram o canal de tomada de posição do CIEAM como “um novo canal de comunicação com o setor produtivo” e “um fórum de ideias” para exercer uma “função de catálise”, sempre com ética e responsabilidade.
Pauta e devoção
Na última edição da coluna em homenagem a Ronaldo Bonfim, que serve literalmente para homenagear Guilherme Aluízio, a Follow Up destacava a onda que se agigantava no Brasil em busca de ética em todos os âmbitos da sociedade, alertando que as empresas que não estivessem sintonizadas com demandas sociais teriam muito a perder. Noticiava a vinda do Frei Betto, reconhecido intelectual de origem eclesiástica, com formação em antropologia, filosofia e jornalismo, para proferir palestra para os associados do Cieam. Informava, também, a assunção da economista Flávia Grosso ao comando da Superintendência da Suframa. E, ainda, registrava o envio de manifestação do Cieam contra informações distorcidas veiculadas pelo jornal O Globo, pelo professor da FGV-RJ, Pedro Cavalcanti Ferreira reparando ataques. Para Guilherme, o Brasil era a pauta essencial e o Amazonas sua devoção diária.
Alfabetização e politização
Num belo texto de Eustáquio Libório, um dos esteios do JCAM nos anos recentes, o jornal de Guilherme é tratado como extensão de sua visão de mundo. “É fato conhecido e contado pelo autor de Os Bucheiros, o escritor Áureo Nonato, ter tido as páginas do Jornal do Commercio como cartilha para alfabetização. Ele, assim como muitos outros naqueles tempos de dificuldade e estagnação econômica, tiveram a oportunidade de conhecer o Jornal do Commercio num período de grande florescência e realização. Entre figuras destacadas que aqui prestaram valiosos serviços, ajudando a manter acesa por período que já ultrapassa um século a chama desta instituição, podemos citar o escritor e compositor Aníbal Beça; o atual secretário estadual de Cultura Robério dos Santos Pereira Braga; o ex-diretor de redação de ‘A Crítica’, Frânio Lima; o historiador e escritor Mário Ypiranga Monteiro; o renomado professor João Crisóstomo de Oliveira além de Epaminondas Barahuna e José Cidade de Oliveira. Este são alguns dos muitos colaboradores que ajudaram a construir e por muito tempo fizeram o Jornal do Commercio”.
Caminhos e descaminhos da ZFM
Entre fatos marcantes vividos na longa história do Jornal do Commercio um se reveste da maior importância por discutir as bases em que estava assentada a legislação de incentivos propostos e praticados pela Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus). Trata-se da sonegação praticada naquela autarquia, e que veio à tona em 1986 pelas páginas do Jornal do Commercio, tendo ficado conhecido como o ‘Escândalo do Colarinho Verde’. Podemos dizer que havia um esquema para burlar o Fisco através de importações mascaradas, internação de mercadorias sem que estas chegassem a seu destino (Manaus). Como resultado das informações veiculadas por este matutino, que foi virtualmente o único a cobrir os fatos, houve a demissão do superintendente da autarquia e sua substituição por um interventor. Por causa disso, o Jornal do Commercio sofreu retaliações pela postura assumida, sem falar nos interesses contrariados…
Gestão compartilhada
Guilherme associou-se ao empresário Paulo Girardi, gestor do Jornal do Norte, no final dos anos 90, para compartilhar equipamentos, equipes e linha editorial de resistência contra as contravenções da política do Amazonas. Mantendo sua postura pioneira, o Jornal do Commercio, em 1999 adota novo modelo de gestão ao optar pela administração em sistema de cooperativa, fase que durou até janeiro de 2000, quando volta a ser à forma tradicional de administração pelos seus atuais sócios-proprietários. A partir daí o JC adota postura mais dinâmica certificar-se pela norma 9001-2000, conquista pioneira para empresas jornalísticas brasileiras na época na qual ocorreu, no início da 1ª década do século 21.
Defesa da Amazônia
Ao segmentar-se, buscando atender os interesses específicos, deu a seus leitores a oportunidade de conseguir ler, na Amazônia, um veículo impresso voltado basicamente para atividade econômica, direcionando para a defesa dos interesses de crescimento e desenvolvimento econômico do Estado do Amazonas e de toda a região. Em 2007, ao optar por descentralizar sua administração, o JC confia a seus colaboradores a oportunidade de opinar sobre os destinos da instituição de maneira mais formal ao criar colegiado, em nível de diretoria, com esta atribuição específica. Guilherme, enfim, era um diplomata no trato, um negociador otimista na partilha fraterna e um parceiro ativista da primeira do plural. Se todos ganham todos crescem. Costumava dizer… Descanse em paz, nobre parceiro!!!
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected] |
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