Com o DNA dos pioneiros que construíram a robustez da economia do Amazonas, o empresário Antônio Azevedo já integra a galeria dos grandes líderes que conseguem promover a mobilização da sociedade na direção de um novo amanhã. Foi com esse espírito que ele assumiu, há 18 meses, o Codese (Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Manaus), um projeto que começa a empinar na medida em que os atores que representam os diversos setores assumem o protagonismo civil, não governamental, para ocupar o vazio de lideranças regionais. Para contar os avanços do movimento ele recebe, novamente, a coluna Follow Up, numa entrevista agradável e entusiasmada.
Follow Up – A sociedade começa a ver nas ações do Codese a chance de assumir o protagonismo no enfrentamento de suas demandas essenciais. o que o senhor destacaria, entre as ações do conselho, explicar essa percepção cívica?
Antônio Azevedo – Eu poderia destacar como as ações do Codese até hoje em praticamente, um ano e meio de atuação, a própria constituição do Codese no momento em que a sociedade de um modo geral anseia por mudanças, então o Codese é uma grande plataforma de ressonância dos anseios da sociedade como um todo, principalmente no que diz respeito ao nosso estado aqui particularmente a questão econômica que nós estamos atravessando. Então, o Codese vem como uma grande plataforma para fazer com que as ações do governo possam ser orientadas no longo prazo, que normalmente o governo tem ações de curto prazo, normalmente são quatro anos. Entretanto, as ações estruturantes levam bem mais tempo, dentre as ações que nós levamos a efeito e que já são realidade, destaco primeiro a própria constituição das Câmaras Técnicas. São seis Câmaras Técnicas no total de 9 e 3 estão por serem implantadas e dessas 6 que estão implantadas, eu destacaria a Câmara Técnica de Tecnologia e Inovação, que fez acontecer no ano passado a Primeira Feira do Polo Digital. Foi um evento com o objetivo especifico de institucionalizar e de criar realmente um Polo Digital em Manaus. Criamos um polo gerador de atividade econômica na região, isso é possível sim desde que nos organizemos todo o ecossistema de tecnologia e de pesquisa, que hoje estão cada um navegando separadamente. Queremos coordenar e organizar isso de tal forma que os recursos alocados na pesquisa possam gerar atividade econômica, pois tecnologia é transversal a todas as atividades. Criamos, também, a Câmara Técnica de Atividades Econômicas Prioritárias. São atividades econômicas essenciais. Por isso, priorizamos cinco: o Turismo, uma atividade vocacionada para região. A Piscicultura, pela própria pujança da nossa diversidade em peixes e também pela maior lâmina de água doce do planeta. Trata-se de uma vantagem competitiva extraordinária e exclusivamente nossa. A outra atividade é a mineração, que tem muitos projetos que estão realmente represados. Precisamos de destravar os gargalos para gerar emprego e renda de uma forma segura e sustentável. A outra atividade econômica é a bioeconomia e sabemos que o potencial de recursos naturais é muito grande. Precisamos de parceiras de pesquisa, de geradores de empresa, de startups que comecem a trabalhar em cima disso, a outra matriz econômica é a própria Tecnologia e Inovação. Nós temos recursos de P&D de mais de R$ 1 bilhão que precisam ser convenientemente alocados para deixar um legado futuro para ser estruturante na geração de empresas e no incentivo dessas empresas. Essa Câmara Técnica é a mais estratégica pra ela nós estamos encomendando, via BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, um grande estudo que será detalhado em questões futuras. Outra câmara técnica importante é de Atração em Investimentos, que visa melhorar a ambiência de negócios. Hoje o investidor, ou mesmo quem já mora e investe aqui, enfrentam uma burocracia assustadora. Isso compromete a ambiência de flexibilidade de negócios e afasta os investidores. Portanto, nossa missão nessa é colocar Manaus entre as 20 melhores cidades a se investir, por incrível que pareça estamos quase na 70ª posição o que é uma vergonha para nós. Outra Câmara Técnica é a de Planejamento Urbano. Nossa cidade cresceu de uma forma desestruturadas e nós precisamos urgentemente de um estratégia de planejamento da cidade, um plano que possa no longo prazo corrigir distorções. Temos, ainda, a Câmara Técnica de Educação. Vamos fazer um levantamento de tudo que existe na área de Educação com o objetivo principal de formar mão-de-obra nas novas matrizes de negócios. E usar os recursos de P&D principalmente para formação de programadores, técnicos etc. Temos planos de instalar as Câmaras de Saúde, Segurança e Gestão Pública que serão instaladas mais adiante. O mais prioritário é a atividade econômica, sem geração de emprego e renda nós não vamos fazer nada com relação às demais Câmaras. Então é fundamental que isso aconteça e que essas novas matrizes complementares ao modelo ZFM possam ser responsáveis por 2/3 do PIB em 20 anos.
FUp – Na última reunião da Plenária, ocorrida dia 20, último, na Suframa, vc desfraldou com veemência a bandeira emergencial na geração de emprego. Como o Codese se programou para enfrentar esse desafio e quais são as primeiras medidas?
A.A – O Codese pensa sempre no longo prazo, então nós não vamos hoje, em curtíssimo prazo, gerar emprego, vamos gerar empresa/empreendedorismo, na área de tecnologia/inovação, entre outras. A ideia é formar start-ups que possam depois se transformar em grandes empresas e isso são start-ups vocacionadas às matrizes econômicas, e não pesquisar algo que esteja fora da ZFM. Todo o polo de tecnologia e inovação tem uma vocação e aqui tem que estar vocacionado para turismo, para piscicultura, para bioeconomia, para mineração etc, na geração de emprego nesse polo por exemplo está sendo alocado recursos de P&D para formação de programadores, futuros doutores, ou seja, de mão-de-obra necessária para fazer com que essa indústria do conhecimento possa ser gerado, possa ser impulsionada, até porque sem cérebros aqui nós não iremos fazer nada, não adianta nós querermos criar aqui um polo digital sem ter mão-de-obra de alto nível. Para trazer algumas empresas que vieram para o Polo Digital, precisamos de mobilização especial. Sabemos que aqui a ambiência para atrair pessoas passa pela segurança, passa pela mobilidade, passa pela atratividade da cidade que não é atrativa. Nós temos concorrentes de outros estados que tem praias que tem mais segurança, que tem mais qualidade de vida, mas como não podemos fazer tudo de uma vez, o o dinheiro é curto, então temos que priorizar a atividade econômica, e essas matrizes são fundamentais. Precisamos gerar emprego no interior do estado também, não adianta a gente pensar em matrizes econômicas pensando em apenas emprego na capital, tem que pensar no homem no interior e gerar oportunidades. Ainda bem que a Educação está descentralizada, a UEA está praticamente nos principais municípios e como fazer com que tudo isso esteja conectado com as necessidades de mão-de-obra, como formar um contingente que possa ser absorvida pelas novas atividades e essa geração de emprego passa também pelo destravamento estrutural do país. Sem falar que precisamos da reforma da previdência, reforma tributária, que temos que olhar com muito carinho em função da nossa ZFM, para preservar o que está nos dando a sustentação. As novas matrizes não vão substituir, elas vão complementar e à medida que o tempo passar elas vão se fortalecendo mas precisamos de tempo para fazer essas ações estruturantes de longo prazo.
FUp – Nessa terça-feira, substituindo o discurso por atitudes, o Codese se reuniu com a direção maior do BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento para detalhar parcerias da instituição com o setor privado, algo inédito na história de uma instituição que trabalha cotidianamente com o setor público? Conte para nossos leitores o alcance dessa iniciativa?
A.A – A Reunião com o BID foi algo muito importante e marcante, foi um divisor de águas. Primeiro pelo fato da reunião ter a participação da sociedade civil como um fator de referência da encomenda deste grande estudo de levantamento do potencial econômico da região. Então o papel do Codese nessa região foi coordenar. E oferecer para o BIDE a segurança de que isso não é um projeto de governo e sim um projeto de estado e nós vamos fazer uma carta de intenções junto com o BID endereçado ao governo do estado para que esse trabalho que vai ser feito possa ser realmente implementado no governo, ou seja, vai haver uma pressão da sociedade civil para que esse seja o plano de desenvolvimento estruturante para o estado e fundamentalmente o estudo vai ser encomendado a uma grande empresa internacional, a McKinsey, que já recebeu a encomenda e fez uma proposta inicial num trabalho bem mais abrangente. O primeiro passo é levantarmos as potencialidades e priorizar quais seriam as atividades complementares e vocacionadas para região, que tem maior impacto na agregação de renda. E essa encomenda está sendo feita com três participantes, tem o BID, o governo do estado e o Codese, e uma parte do custo desse trabalho virá do próprio BID, a outra parte virá de uma forma compartilhada com a sociedade. Nós vamos fazer com o que o setor privado participe de tal forma que vai haver uma participação efetiva da sociedade para que possa cobrar do governo a implementação desse plano para que ele não seja engavetado, temos que ter a garantia que isso vai realmente surtir efeito.
FUp – O envolvimento da Suframa com o Codese, na fala de seu Superintendente, o Coronel Alfredo Menezes, é um fato consolidado. Pelo protagonismo assumido pelo Codese esta é uma via de mão dupla, tanto na mobilização da presença federal no Amazonas, comprovadamente desconectada, como na pressão fraterna dos dirigentes do Conselho para que a autarquia recupere sua autonomia administrativa e financeira no cumprimento de suas atribuições. Você concorda com essa especulação?
A.A. – Com relação à Suframa, nós concordamos plenamente com as declarações do Coronel Menezes, ele tá em perfeita sintonia com o Codese, o governo federal tem um pensamento liberal e vamos ter que realmente buscar a autonomia da Suframa, tanto na questão do PPB quanto na questão financeira para que ela também seja um agente de desenvolvimento efetivo para ajudar nas novas matrizes econômicas. E com relação a essa complementariedade o governo federal olha com bons olhos por esse movimento, e quer preparar o estado para receber grandes investimentos internacionais Tem muito recurso querendo ser investido no Brasil mas precisa de segurança institucional, melhoria no ambiente de negócio e precisa de projetos. E então esses projetos serão essas matrizes complementares que nós estamos encomendando e fazendo esses estudos e levantamentos preliminares. Claro que isso tudo precisa estar bem alinhado com todos os governos, então estamos num momento muito singular de alinhamento da sociedade com os governos para que possamos realmente fazer o que tem que ser feito mas pensando no longo prazo.
FUp – Levando em conta os avanços de algumas Comissões do Conselho, sobretudo aqueles mais empenhados na geração virtuosa de emprego, como o Codese está planejando a colaboração das empresas nessa parceria com o BID para financiamento dos projetos e programas mais urgentes?
A.A. – A participação do setor privado nesse grande estudo, que será feito pela McKinsey, será decisiva. Considerando que parte dos recursos serão do BID e isso já é certo, a nossa contrapartida é uma parte desse investimento que virá de governos internacionais (Noruega, Japão…). Além disso, temos uma parte vai vir do setor privado, iremos escalonar a participação para ter uma representatividade e legitimidade no plano. Se tiver 100 empresas participando com uma cota, vai dar uma força muito maior no plano do que se tivesse 2 ou 3 empresas bancando a iniciativa. O Codese se orienta pelo bem da sociedade e não o bem de A, B ou C, mas sim um bem-comum, então pensamos fazer esse escalonamento com cotas master, outros e cotas menores, mas que dê a oportunidade para o maior número de empresas participarem desse esforço inicial pois esse projeto vai ser apenas um estudo das potencialidades e depois de priorizado e levantado o potencial vai ter que ter estudos complementares. E isso depois vai ter o aporte do governo e terá que estar no orçamento, a sociedade depois vai ter que ter força para exigir que o poder público aloque recursos nesse grande projeto de transformação no nossas vidas.
FUp – Agora, suas considerações finais. A.A. Pra finalizar, falamos que esse projeto vai ser um case mundial, então lançamos um grande desafio pra toda equipe inclusive pro BID, nós temos um desafio grande que é salvar a floresta, até hoje a floresta foi preservado graças ao modelo ZFM, mas como o modelo está em constante ataque e a cada ano ele vem definhando o que fazer para que a floresta não seja devastada de uma forma desorganizada e desastrosa?
Então é um case em que nós vamos juntos construir junto com o BID, sociedade civil organizada, com o governo, fazendo novas matrizes econômicas de forma sustentável, tanto do ponto de vista ecológico como também do ponto de vista social promovendo o homem da Amazônia, diminuindo as desigualdades sociais tanto com relação a renda, quanto em relação a conhecimento, ao acesso à modernidade pois o interior está completamente desassistido, desconectado do mundo, com sub renda, com sub emprego. Esse trabalho será um case interessante em que todos os participantes estarão vivenciando um momento histórico de inflexão, podemos legar daqui a anos um case para o mundo de como o Brasil consegue preservar sua floresta gerando emprego e renda para a Humanidade.
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