Em tempos de revisão dos paradigmas que devem nortear a prática política, neste Brasil que se prepara para eleger seus dirigentes, o processo de escolha do novo diretor do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), ora em andamento sob a tutela do Comitê de Busca do Ministério de Ciência e Tecnologia, merece reconhecimento e aplauso.
Desencadeado o processo, um grupo de atores direta ou indiretamente ligados à instituição – o maior centro de pesquisa tropical do planeta – tratou de mobilizar o maior número de interlocutores, a começar pelos integrantes da instituição, visando não a escolha de um nome, mas de uma carta compromisso que pudesse ser endossada por qualquer um dos escolhidos. Estamos diante da preciosa conjugação do verbo escolher na primeira do plural.
A saudável metodologia compartilha propostas, acertos e eventuais equívocos, e que certamente será seguida de outras conjugações de acompanhar a conduta gerencial e avaliar o resultado geral à luz do interesse comum.
E de onde surge a emergência da iniciativa, além de evitar novo risco da escolha paraquedista, de um gestor ausente e indiferente a história, dilemas e projetos de futuro da instituição? No caso do Inpa, a escolha considera que ninguém é suficientemente iluminado para promover uma gestão frutuosa e, ao mesmo tempo, isolada e personalizada de costas ao interesse público. E isso é excepcionalmente delicado quando se trata de um momento definições do futuro da ciência e tecnologia na Amazônia e no Brasil, neste contexto de brasilidade em que navegamos à deriva, em que a administração da coisa pública descamba para a insensatez e contravenção.
E o que propõem, até aqui, os atores envolvidos? O objetivo do documento traduz o detalhamento das sugestões: “subsidiar os candidatos ao cargo de direção do Inpa na elaboração de uma proposta de trabalho comprometida com os desafios institucionais prioritários, assegurando o olhar para o futuro do Inpa sem perder de vista a cultura, os valores e as boas práticas de sua comunidade”.
E quais as prioridades institucionais, senão a gestão da pesquisa, o protagonismo das questões mundiais sobre a Amazônia à luz de seu portfólio de quase 70 anos, além da revisão da eficácia e urgência do conjunto das pesquisas à luz do interesse nacional e da disponibilidade de recursos e, finalmente – medida muito importante – promover e interlocução com os atores da economia e do desenvolvimento regional, colher suas expectativas e submeter a todos os resultados das linhas e grupos de trabalho.
Ao longo de um documento denso e concatenado, que traduz o rigor habitual dos cientistas – segmento dominante do processo de consulta – o que dizem os integrantes dessa empreitada cívica é que não dá para seguir fazendo gestão pública sem transparência e sem democratizar decisões e escolhas de prioridades. E isso se aplica a tudo em todas as empresas e repartições públicas.
O acervo do Inpa, a bagagem do saber acumulado, a potencialidade, relevância e alcance de suas descobertas e recomendações não incalculáveis sob qualquer paradigma de valor. Daí a sabedoria de todos em pautar a agenda da interlocução com a sociedade como fator prioritário da nova administração.
É vital o endosso do tecido social através de seus representantes. Eles vão abismar-se ao tomar contato com a rotina de descobertas espantosas de tantas décadas de obstinada dedicação. E se os cientistas desenvolveram intimidade com a lente das descobertas, é vital que a sociedade descubra um novo modo de olhar a Ciência, seus esforços de compreensão da vida, para decifrar os enigmas de sua perenidade, os benefícios e riscos da evolução, o nexo entre biologia e política para promover relações mais democráticas, transparentes e benfazejas para todo o conjunto da sociedade, como todos queremos, de modo translúcido e participativo.
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