Existe ao longo desta coluna Follow Up um verdadeiro memorial de inquietações do setor produtivo, suas demandas, proposições históricas, incluindo as não atendidas e as expectativas em relação aos próximos governantes e representação parlamentar. A rigor, a explicitação das questões imediatas e domésticas de nossa economia e sua expansão no entorno amazônico precisam, de uma vez por todas, ser objeto das políticas públicas de quem recebeu a incumbência da representação política. E este olhar significa propor aos próximos gestores e parlamentares a formação de alianças e parcerias de trabalho em favor da região, sua vitalidade econômica e sustentabilidade socioambiental.
Significa, portanto, pensando regionalmente, que precisamos saber o que temos em comum – não apenas em termos de gargalos, sobremaneira na área de infraestrutura – mas em termos de demandas de investimento para criarmos uma rede partilhada e conectada de negócios complementares entre si. E por aí vão os gargalos de infraestrutura e os modelos de negócios. Ou seja, temos que alinhar nossas principais dificuldades e propor saídas regionais.
Isso se faz com um planejamento estratégico estruturado em mutirão regional. Esse planejamento pode ser feito, inicialmente na Amazônia Ocidental e Amapá, área sob gestão fiscal da Suframa, e posteriormente com toda a Amazônia brasileira e continental, levando em conta, por exemplo, o planejamento em execução do Pará e outros estados que já oferecem sobejos resultados.
Agenda Amazônia
Que moeda de troca poderá dar vitalidade e motivar a motivação regional senão a extensão para toda a Amazônia brasileira do desafio de lutar para que sejam aplicados na região os recursos ora confiscadas, principalmente, para pesquisa, desenvolvimento e inovação. Estes recursos podem ser administrados pelos órgãos ora responsáveis, tipo o Comitê de Administração das verbas de P&D&I, a serem, necessariamente, ampliados por representação dos estados alcançados pela Suframa. Eventualmente, também, poderia ser pensada a integração entre Suframa e Sudam para que as verbas recolhidas pelas empresas incentivadas pudessem ser distribuídas para projetos a serem avaliados pelos Conselhos dessas autarquias ou por um novo Conselho que um colegiado representativo das questões aqui averbadas.
A rigor, esse encaminhamento tem por propósito mobilizar o viés político dessa luta, mobilizando as representações parlamentares de todos os estados amazônicos. Uma Agenda Amazônica, capaz de impor a obviedade de uma frente parlamentar da região, nos moldes do Centro-Oeste -e do Nordeste, principalmente – que conseguem mobilizar, há décadas, seus parlamentares, com inteligência, eficiência e um portfólio robustos de resultados, conquistados com o peso político de seus governadores.
Planejamento estratégico
O que temos em comum com os estados amazônicos alcançados pela Suframa além de uma coordenação fiscal comum? Muitos interesses, não tenhamos dúvida, com um potencial de negócios inimaginável. Hoje, vendemos e compramos de nossos vizinhos um cardápio generoso de itens que podem ser levados a multiplicação incessante. Por exemplo, na área de insumos, alimentos, produtos industrializados – que, infelizmente, ainda precisam passear pelo Sudeste por conta de uma política fiscal sem sentido – entre outros potenciais negócios. Na área de alimentos e/ou insumos para o polo industrial de Manaus, podemos formalizar as relações comerciais com os incentivos atraentes que as empresas do Sudeste usufruem para vender para Manaus. E as verbas de pesquisa e inovação poderiam ajudar a fortalecer, diversificar e regionalizar cadeias de produção desses novos parceiros. Ou seja, estamos conjecturando um leque criativo e promissor de novos empreendimentos. Essa é a base motivacional da aliança política regional.
Ciência e agenda parlamentar
De quebra, essa Aliança Parlamentar Amazônica poderá vender, em bloco e com argumentos irrefutáveis, os serviços ambientais que a Amazônia oferece. Lembramos que partiu da Amazônia a proposição do PIB Verde, uma legislação nova, sobre a qual devemos meditar, para recalcular a riqueza do Brasil a partir das moedas de sustentabilidade e benefícios efetivos para a saúde climática da Terra.
O mundo emite 10 bilhões de toneladas de carbono a cada ano. A Amazônia brasileira, com sua floresta saneadora, tem fixado, com o milagre de sua fotossíntese, a bagatela de 20 bilhões de toneladas de carbono. Lembrando que o governo japonês financiou o CADAF. Esse projeto, base científica e operacional para o cálculo do PIB Verde da Amazônia, deve ser revisitado a luz dessa nova configuração política, pois dá bases científicas, ambientais e econômicas para fomentar o trabalho conjunto, a precificação do que temos feito e a distribuição regional dos dividendos.
Parceria japonesa
O Projeto CADAF é o resultado de uma parceria do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) com os Institutos de Pesquisas de Florestas e Silvicultura do Japão (FFPRI) e da Universidade de Tókio, financiado pelo JICA (Japan International Cooperation Agency). O projeto denominado CADAF, tem como foco o conhecimento da Dinâmica de Carbono na Floresta Amazônica.
Com duração prevista de 2010 a 2013, seu objetivo foi de desenvolver uma técnica de avaliação, em grande escala, da dinâmica do carbono na floresta amazônica. Produziu informações que começam a consolidar: 1. um sistema de inventário florestal contínuo para monitorar o carbono florestal da Amazônia central; 2. a identificação de uma relação entre tipos florestais e a dinâmica do carbono, em florestas maduras e manejadas; e, 3. a elaboração de um mapa da dinâmica de carbono utilizando dados dos inventários florestais contínuos e de sensoriamento remoto. Com isso, já podemos pensar nos negócios infinitos que essa ferramenta possibilita a partir dos serviços ambientais que ela sugere.
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