A afirmação é oficial e traduz o posicionamento da Organização das Nações Unidas. O encaminhamento se situa no contexto das mudanças climáticas e foi publicada na ‘Folha de São Paulo’ na quarta-feira, dia 30. Neste mesmo dia o presidente Temer empreendeu uma viagem à China, levando na bagagem um Decreto que autorizaria o governo a remover uma área de proteção florestal. Ou seja, eliminar o ativo que o mundo deve pagar, e derrubar a floresta para explorar recursos minerais.
Este mandamento de depredar para gerar riqueza imediata é o mesmo espírito que levou alguns parlamentares da Amazônia a pedirem a redução legal de áreas de conservação do Amazonas para pecuária extensiva ou outras atividades de resposta econômica rápida. O mundo vai na direção de promover uma economia sustentável, como faz a ZFM há 50 anos, e o Brasil defende a expansão do modelo do agronegócio do Centro-Oeste para a Amazônia, comprometendo sua contabilidade ambiental.
Há alguns anos o Cieam tem alertado para a precificar este ativo. Colocar preço no serviço ambiental, propiciado pela economia instalada no Amazonas, é um dos inúmeros benefícios de uma indústria sem chaminés na Amazônia. Quanto custa manter uma floresta frondosa em 95% de seu porte e poder incentivar atividades produtivas de baixo carbono? Na busca de parcerias nacionais e estrangeiras para ampliar essa proteção, o Cieam se dispõe a demonstrar por A+B, ou seja, Articulação e Boa Vontade, que é possível gerar riqueza e seguir mantendo a saúde florestal. Reduzir a conservação do bioma, portanto, é adotar o velho esquema predatório que nos faria perder credibilidade e nossa efetiva contribuição para o planeta.
Constrangimento
Enquanto o chefe de governo se preparava para oferecer de bandeja a depredação privatizada da Amazônia, as autoridades brasileiras do judiciário lembraram a ele, um constitucionalistas, que a matéria não se esgota num decreto, mas exige apreciação do Congresso Nacional. Não é de se espantar que a canetada tem sido a grande ferramenta de gestão da Amazônia.
Decisões de gabinete, comprovadamente, não servem para definir o que podemos e devemos fazer para a gestão inteligente da Amazônia. Por isso, o constrangimento da governança nacional é, no mínimo, justo e merecido. No início de agosto, este mesmo governo do Brasil apresentou ao governo da Noruega a prestação de contas dos 8 anos de Fundo Amazônia, recursos originalmente da ordem de U$1 bilhão que o país não foi capaz de aplicar de modo satisfatório. O cidadão norueguês quis contribuir com a proteção da Amazônia e desenvolver na região uma economia de baixo carbono, ou seja, sem derrubar a mata. Disso depende o planeta. Entretanto, no relatório do país foram anotadas distorções grosseiras, ações infundadas e resultados pífios. Por isso, além de cortar a metade seus investimentos na Amazônia, o governo norueguês passou ao colega brasileiro uma descompostura. Mais uma.
Credencial científica
Qual é a importância econômica da floresta amazônica na busca do equilíbrio climático da Terra? Eis a pergunta da hora que o Brasil precisa continuar a responder se quiser consolidar seu protagonismo ambiental na comunidade internacional. Em 2014, numa parceria com o governo japonês – ávido por consolidar na Amazônia as respostas para as grandes demandas climáticas – o Brasil cumpriu uma etapa robusta dessas investigações, que durou 4 anos, através do projeto Dinâmica do Carbono da Floresta Amazônica, CADAF, da sigla em inglês.
Entre altos e baixos da timidez dos financiamentos de pesquisa, o Inpa, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, está pilotando/consolidando estes dados desde 1998, com parceiros internacionais. E já consolidou um sistema de inventário florestal contínuo para o Estado do Amazonas, com abundância de informações que demandam mais informações e elucidações vitais.
Iniciativas em curso
São diversas as ações do setor produtivo, com a colaboração direta do CIEAM, para colocar prévio nos serviços ambientais. Atrair a FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da USP é uma delas. Com as instituições locais, busca-se uma metodologia para dar sequência e suporte ao trabalho do INPA com o governo japonês, que é metrificar a dinâmica alimentar deste organismo chamado Amazônia com vinte bilhões de tonelada de carbono, o dobro das emissões do planeta a cada ano.
Como se dá a troca alimentar da floresta com a atmosfera, onde, além do carbono, estão dispersos outros resíduos que a civilização predatória emite a cada instante? No caso do organismo humano, a estimativa estudada é o consumo/ingestão média de duas vezes o peso de cada indivíduo por ano. Isto se aplica à floresta? Em que proporções? Quanto, como e onde a floresta evacua este consumo? Poderíamos – e em quanto tempo? – Descobrir que fixamos o equivalente a quantas vezes o volume de emissões da Terra? Como ampliar este processo de saneamento, ou seja, o metabolismo das emissões? Como promover mudanças no padrão predatório desta civilização rumo à economia de emissões equilibradas? Provavelmente é trabalho deste envergadura que a ONU e a Humanidade gostaria de ver em desenvolvimento e oferecendo resultados. Como sistematizar e colocar preço nesta façanha monumental?
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