Nessa quarta-feira, na sala do Conselho Universitário da USP, o diretor-executivo do Banco Mundial, professor Octaviano Canuto, na palestra sobre ‘O que aconteceu com a economia brasileira?’, esclareceu as três linhas ‘contra’ a ZFM contidas no relatório sobre o desgoverno do Brasil. O Documento pediu eficácia para novos caminhos dos incentivos fiscais. “A indústria de Manaus não terá sobrevida tecnológica em 5 anos. Temos que pensar, juntos, novos cenários e econômicos. O Banco e a OMC querem ajudar o Amazonas. Só isso”. Reproduzimos, neste artigo, os rumos que precisamos pensar de imediato para a região.
Na Amazônia, economia tem que alinhar com a ecologia
Alfredo MR Lopes(*)
Debater é diferente de impor opinião. Em Manaus, na segunda-feira, 27, com o propósito de “debater o Futuro da Amazônia”, a mídia do Sudeste veio acompanhada de “especialistas” nacionais em isenção fiscal e algumas autoridades regionais, escolhidas pelo critério dos patrocinadores, naturalmente. E veio, com certeza, atrás de novos formatos jornalísticos que afugentem o esvaziamento global dos grandes veículos de comunicação por aí afora dessa mudança de parâmetros e velocidade da informação. Todos estes veículos estão em vias de encerrar suas atividades editoriais.
Vade retro, Futrica!
Como grande jornal, a Folha será sempre bem-vinda, sempre e quando, porém, o propósito seja o de integrar esta economia de acertos e incompreensões a uma política nova de ciência, tecnologia, inovação industrial e de sustentabilidade que o Brasil precisa construir. E, sinceramente, vade retro, se não resistir à tentação dominante, em determinados círculos da imprensa Sudeste, em difamar sem conhecer as nuances, história e acertos da economia incentivada do Amazonas, a Zona Franca de Manaus.
Campanha de extinção da ZFM
Na semana passada, alguns desses veículos transformaram as três linhas do Relatório do Banco Mundial, dedicados à ZFM, recomendando a revisão de sua eficácia, em bode expiatório da gestão desastrosa da economia brasileira. E trataram de recomendar, em vez de seus ajustes, explicitamente sua extinção. Ora, numa das primeiras matérias, publicadas após a fala de abertura do prefeito de Manaus, Arthur Neto, o jornalista tratou de associar o atraso da diversificação econômica à existência e dependência da ZFM “O Estado do Amazonas explora pouco sua natureza e recursos naturais, devido à grande dependência financeira que criou em relação à Zona Franca de Manaus”, levando seus leitores pelo país afora reforçar o preconceito contra o que fazemos no Amazonas.
Preconceito, desinformação ou má-fé
O que o prefeito disse estava claramente relacionado a recessão econômica, não ao caráter de isenção fiscal. Ele não emitiria um comentário desairoso contra quem lhe ajuda a formar o grosso de suas receitas. Seu recado, dado mais adiante, e que se aplica exatamente ao preconceito e desinformação com relação à ZFM, é exatamente o que impede o florescer de uma nova economia, ou seja, é o confisco da riqueza aqui gerada e que aqui deveria ser aplicada. “Prevalece aquele julgamento canhestro de que o incentivo que vem para cá é dinheiro desperdiçado. Isso não é absolutamente verdade, esse dinheiro é bem inferior ao que retorna para o Tesouro a partir dos tributos aqui recolhidos.”. O que o prefeito propôs, com apoio de pseudo-especialistas em renúncia fiscal, é aquilo que as lideranças empresariais não cessam de reivindicar. “… uma parceria com outros Estados, como São Paulo, geralmente visto como antagonista no setor industrial, para pensar estratégias que estimulem o desenvolvimento da região”.
Agronegócio ou bioeconomia
Há exatamente um ano, em São Paulo, no Insper, em parceria com o Instituto Escolhas, um parceiro que a indústria local tem mobilizado na discussão dos serviços ambientais que as empresas do Polo Industrial de Manaus oferecem, a Folha ajudou a promover um evento sobre crescimento econômico, com baixa emissão de carbono, contrapondo aos prejuízos ambientais de alguns segmentos do agronegócio.
O evento concluiu que o “futuro da economia do Brasil passa pela Amazônia” pelo desenvolvimento de inovação tecnológica dos produtos da biodiversidade, a dermocosmética, a nutracêutica e os fitoterápicos. 100 produtos, em 10 anos, poderiam gerar em 10 anos, o dobro da receita do agronegócio, 50% da balança comercial, atualmente, concluiu o concorrido evento. As empresas de informática, recolheram por força do estatuto legal que lhes confere isenção, aos cofres do FNDCT, o Fundo de Ciência e Tecnologia, nos últimos 5 anos, a bagatela de R$2,4 bilhões.
O Amazonas pouco ou quase nada viu dessa dinheirama ser aplicado na região. Portanto, a ZFM não é o problema, é sim a solução dessa nova ecologia, digo, dessa bioeconomia, ambientalmente correta e socialmente equilibrada, como as empresas incentivadas costumam tratar o desenvolvimento regional por aqui, apesar da desarticulada presença federal na Amazônia…
(*) Alfredo é consultor do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas ([email protected] )
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