Além da logística e da vontade política de sua representação parlamentar, empreender de forma competitiva na Amazônia exige estreita aproximação entre o setor produtivo e os órgãos de pesquisa. Economia e academia. Empreendedores e cientistas precisam amiudar sua conversa e objetos de interesse. Por isso foi gratificante – e não deve parar por aí – este encontro promovido pelo GEEA, Grupo de Estudos Estratégicos da Amazônia, no último dia 2, entre o CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas e os pesquisadores do INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, para debater exatamente esta intersecção fecunda entre o conhecimento e o empreendimento. O modelo industrial existente precisa de agregar valor e insumos locais no desafio de ampliar sua planta manufatureira na direção da bioeconomia. E bioeconomia, na Amazônia, com 20% dos princípios ativos de todo o planeta, é o melhor caminho ou o mais inteligente. Por isso, a indústria do fazer e do conhecer devem estar integradas. Afinal, a demanda mundial por produtos de beleza, da dermocosmética, da nutrição orgânica e harmônica do ponto de vista do sabor e da saúde, bate à porta das novas oportunidades. E o que dizer da farmacopeia após a conquista do projeto genoma, que dará longevidade ao ser humano na medida em que passa a entender a seqüência bioquímica de evolução ou finitude da vida. Esta é a percepção das entidades da indústria, comércio e agricultura, a Ação Empresarial do Estado do Amazonas.
Desarticulação inaceitável
Há mais de seis décadas o INPA fincou pé nesta Amazônia que o mundo inteiro cobiça desde a chegada europeia. E é gratificante perceber esta interação do Instituto com a sociedade, que lhe dá sustento e lhe fornece os insumos da pesquisa dos seus acervos e inventários. É gratificante verificar as Forças Armadas abrirem espaço em seus pelotões de fronteira para pesquisadores criarem opções de pesquisa e desenvolvimento nesses rincões da imensa Amazônia. Não faz sentida vê-la tão empobrecida em seus indicadores de desenvolvimento humano por viver sobre tesouros inestimáveis da biodiversidade e da geodiversidade que o mundo precisa. O Tribunal de Contas da União, depois de 10 anos de exaustivos levantamentos, com todos os atores públicos e privados da gestão da Amazônia, acionou o Ministério Público Federal, seção Amazonas, para promover uma revisão das política públicas federais na região, à luz da desarticulação encontrada, entre os atores da União. Recursos são desperdiçados por conta dessa desarticulação e da ausência de planejamento conjunto e de longo prazo. O TCU também aponta que os recursos destinados a pesquisa, desenvolvimento e infraestrutura são contingenciados em frontal desrespeito às leis que os criou. O texto do Acórdão, firmado com o MPF-AM, em abril último, está no portal www.cieam.com.br, e se refere exatamente às verbas de P&D e taxas da Suframa, recolhidas pelas empresas da Zona Franca de Manaus, e 80% confiscadas pela União para outros fins.
As novas trilhas
A atividade industrial de Manaus tem orgulho de manter integralmente a Universidade do Estado do Amazonas, presente em todos os 62 municípios do de um Estado que é maior, territorialmente, do que todo o Nordeste, e toda a Europa Ocidental. Além do orgulho, temos, sobretudo, a expectativa de debater com esta academia e demais estudiosos das vocações de negócios sustentáveis da região, os novos caminhos que diversifiquem e interiorizem a economia, hoje concentrada de modo injusto e desequilibrado em Manaus. Por tudo isso, é promissor o debate entre cientistas e empresários, entre os atores federais aqui presentes, muitos deles aplicando um legalismo cego, que proíbe atividades produtivas em lugar de incentivar a produção de riqueza com inteligência e responsabilidade. Hoje, com a ajuda do INPA e da Embrapa, produzimos 30 toneladas de proteína de peixe, por hectare, em Rondônia, que abastece Manaus. No Centro-Oeste apenas 300 quilos de proteína são extraídos da pecuária bovina. Já temos as lições de como propagar em laboratório as espécies da flora com alto valor comercial e não mais derrubar o pau-rosa para a indústria de perfumaria francesa. A Industria financiou o Centro de Biotecnologia da Amazônia, que a União, só agora, começa a perceber seu papel. Precisamos de mais conversas, mais infraestrutura, mais vontade política… A prosperidade, que daí advêm, a gente sabe produzir.
(*) Périco é economista, presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas e vice-presidente da Technicolor para a América Latina.
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