Entrevista com Wilson Périco – Presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas
Nesta terça-feira, 10 de agosto, há 37 anos, o empresário da agroindústria, Mário Expedito Guerreiro, mobilizava os parceiros da indústria, tecelagem, serrarias, eletroeletrônicos, duas rodas, todo o espectro industrial e agroindustrial do Estado, para implantar o Centro da Indústria do Estado do Amazonas. O comércio de importados ainda era vibrante e, de quebra, atraia a classe média para conhecer e gostar da região, suas belezas, beldades e culinária. Depois transferimos para o Paraguai a atividade, não necessariamente o glamour que o varejo de Manaus resgatou. O CIEAM inicia a fase industrial do modelo ZFM e acompanha/assume desde então seus desafios, sempre voltado para a mobilização de esforços para resguardar e ampliar os acertos da Zona Franca de Manaus, como descreve o presidente do CIEAM, Wilson Périco. Confira a entrevista.
Follow-Up – Qual é o papel do Centro da Indústria do Estado do Amazonas para os próximos 50 anos da Zona Franca de Manaus?
Wilson Périco – Inicialmente, quero resgatar a figura dos fundadores desta Casa, um fórum de defesa da Indústria e do Amazonas, como queriam nossos pioneiros. É importante destacar a figura de Mário Guerreiro, Edgar Monteiro de Paula, Moysés Israel e Moysés Sabbá, Fernando Bonfim, Mário Sussmann, Mário Moraes, Luiz e José Cruz, Daniel Feder, Mário Hauser, Otto Fleck, Afonso Hennel, Waldemiro Lustoza, Francisco Garcia Rodrigues, Abe Kryss, Marcílio Junqueira, José Moura Teixeira Lopes, Cristóvão Marques Pinto, José Milton Bandeira, entre outros guerreiros da prosperidade. Eles já anteviram na Zona Franca de Manaus o roteiro que cumprimos parcialmente nestes 50 anos de muitos acertos e de muita distorção no uso dos recursos aqui gerados para promover uma economia diversificada e regionalizada. Não falo do papel do CIEAM, sozinha, a entidade não sobrevive. Somos uma associação representativa da indústria mas só seremos atuantes se nos unirmos às demais entidades da Ação Empresarial para defender os avanços da ZFM, resgatar seus direitos e fazer cumprir a Lei que apogeu dá suporte.
FUp – Como se daria esta articulação?
WP – O CIEAM nasceu junto com a Fucapi e a Utam, num Estado que tinha o CODEAMA, um centro de informação da economia do estado, portanto, com instrumentos de planejamento e de governança. Tínhamos a Utam, Universidade de Tecnologia para formar técnicos de acordo às demandas de um polo industrial crescente e a Fucapi para promover a agregação de tecnologia aos produtos do polo industrial. O que faltou foi visão de longo prazo e vontade política para reter na região a riqueza aqui produzida na linha de criar novas modulações de adensamento, diversificação e interiorização da economia, em comum acordo com a academia, incluindo INPA e Embrapa e, sobretudo, com as entidades do comércio e do setor primário. O Brasil já teria integrado e respeitado a ZFM. Com a Federação da Indústria, do Comércio, Agricultura, a Associação Comercial, a Câmara e a Federação dos Dirigentes Lojistas, podemos e devemos ir longe, para planejar e executar o Amazonas que sonhamos e queremos, próspero na capital e no interior.
FUp – E que tarefa compete ao CIEAM nesse contexto?
WP – Acho que ao CIEAM cabe o papel de fermento e de fomento da aproximação. No âmbito da Ação Empresarial – com as verbas do Fundo de Turismo e Interiorização do Desenvolvimento, precisamos exigir do governo a criação de um serviço de informações sobre o setor produtivo da ZFM, suas oportunidades nos três segmentos: comércio/serviços, indústria/bioindústria, pecuária/agroindústria. Um centro de estatísticas, com informações consolidadas e um Centro de Exposições/Venda/Rodada de Negócios ao lado do Estádio, Sambódromo, Vila Olímpica. São ações que ajudariam nossos jovens a planejar seu futuro, amar o que estamos fazendo e defender nosso direito de criar os próprios caminhos, assumir nosso destino de criar riqueza sem destruir o meio ambiente. Temos, isoladamente, boas iniciativas, que vão prosperar na medida em que trocarmos ideias e condutas de crescimento integral.
FUp – O que falta para avançar nesta direção?
WP – Entendo que o Brasil está passando por um momento de mudanças significativas. Do desencanto com a classe política surge um movimento para olhar com mais atenção o fator político na definição dos rumos da sociedade. Nessas eleições já iremos perceber a diferença. Com novas representações políticas, efetivamente comprometidas em cuidar da base econômica, podemos colocar em pauta a Lei que criou a Zona Franca de Manaus, este modelo de acertos, transformado em fonte exportadora de recursos para a União. A ilegalidade fez da ZFM o paraíso do fisco, justamente quem sempre teve a fama de paraíso fiscal. A hora é de fazer cumprir a Lei. Fora dela não há solução. Não adianta um segmento ou um ator isolado fazer bem seu dever de casa e estar em paz com sua consciência legal. Se a Lei não for cumprida não há segurança para o investimento, não há referência jurídica para a rotina, nem envolvimento efetivo entre capital, trabalho e poder público. Sem a Lei, fica mais difícil exigir a contrapartida para prover a infraestrutura da competitividade da economia local. Vamos resgatar a pedagogia da Lei, desde o jardim da infância de nossa aprendizagem. O resto é consequência.
FUp – Quais os caminhos para a indústria? Os polos industriais existentes, 2 rodas, eletroeletrônicos-informática e linha marrom, os mais robustos, estão ameaçados. A desindustrialização do modelo é irreversível?
WP – Apenas três setores do polo industrial respondem por 50% da produção e faturamento da ZFM. E isso tem sido assim há décadas, mas não vai perdurar por muito tempo. Em 10 anos as mudanças serão drásticas para os três setores. Por isso é essencial reter os recursos que o modelo tem gerado para criar novas saídas. Somos o terceiro PIB Industrial do país e a planta industrial mais generosa do ponto de vista fiscal, diz a USP, a respeitável universidade de São Paulo, com apenas 0,6% das indústrias do Brasil. São Paulo tem 30% delas. Aquilo que, insistentemente, temos chamado de novas matrizes econômicas não significa abrir mão de novas indústrias, pelo contrário. Temos que adensar e diversificar, apenas, e isso só sai do papel se o poder público parar de meter a mão nos recursos para este fim. Isto é uma ilegalidade fiscal e funcional contra a ZFM. Buscar novas matrizes significa aproximar economia e academia, como fizemos há pouco com o INPA, com a Embrapa, a quem queríamos entregar o CBA Centro de Biotecnologia da Amazônia. Por isso temos orgulho de financiar integralmente a Universidade do Estado do Amazonas. Homenageamos o empresário Sérgio Vergueiro, neste clima de aniversário do CIEAM, porque reflorestou Itacoatiara com mais de 2 milhões de árvores de castanha, pupunha, copaíba… E porque ali nasceu um caminho novo, promissor, coerente com a vocação de negócios inteligentes para a região, com a inclusão de insumos e tecnologia local. Tecnologia da informação e da biotecnologia, articuladas e agregadas em novos produtos, são as premissas da consolidação, diversificação e regionalização produtiva da indústria existente. Ou seja, basta de confisco, de conter essa transformação do modelo em mecanismo de exportação de recursos para o governo federal.
FUp – E qual é sua mensagem final de aniversário para os 37 anos do CIEAM?
WP – Precisamos trabalhar mais próximos um do outro. As entidades do setor produtivo precisam estar presentes nos conselhos que administram os fundos estaduais e federais que as empresas recolhem. E precisamos juntos ajudar a torná-los mais efetivos e mais de acordo com que a Lei determina. De gestão de recursos nos entendemos e queremos emprestar esta expertise. Verbas da Suframa, de P&D, de Turismo e Interiorização do Desenvolvimento, da UEA, e das Cadeias Produtivas da Afeam estão à espera de uma revolução de negócios. Hoje, com apenas um naco, a rigor, menos de 10% dos recursos para interiorizar o desenvolvimento, oriundos das contribuições pagas pelo setor produtivo da ZFM, a Afeam, Agência de Fomento do Amazonas, em menos de um ano, promoveu mais de 80 mil operações de crédito. Oficinas, salão de beleza, barcos de pesca artesanal, pequenas padarias, confeitarias são fomentadas com a chancela do Banco do Povo, uma iniciativa que merece mais atenção do próprio governo para incentivar o empreendedorismo. Muito mais eficaz que o assistencialismo das bolsas sem contrapartida do cidadão. De quebra, juntos, na Ação Empresarial podemos exigir a consolidação definitiva das estruturas funcionais da Suframa, não apenas da recuperação das crateras urbanas, mas da desautonomia, da ingerência burocrática de alguns entes federais. Parabéns aos parceiros, todos eles, que constroem a riqueza de nosso Estado, um compromisso do qual o CIEAM se orgulha de integrar.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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