Está cada dia mais eloquente o esvaziamento e a desarticulação da Suframa, um debate que se revela inócuo à medida que pendura suas vestes no varal da alteridade. É entediante e repetitivo ficar insistindo que a autarquia foi invadida pelo descaso e perdeu seu poder de decisão e gestão por culpa do governo federal. Quem é o governo federal? A presidente, mergulhada no isolamento político e à procura de um GPS para economia, ou o ministro Joaquim Levy, que deixou os empresários frustrados na semana passada com suas evasivas em relação à continuidade dos investimentos em Cuba, Venezuela ou Bolívia, com recursos subsidiados do BNDES. Que sabe o ministro sobre verbas da Suframa confiscadas para este fim? No limite, que sabe sobre o terceiro PIB industrial do Brasil, localizado no meio da maior floresta tropical do planeta? Que chances têm as mazelas da Suframa e a desindustrialização da Zona Franca de Manaus de alcançar qualquer resquício de prioridade nesse atoleiro de indefinições chamado Brasil? “Eu não sei se eu sei responder essa pergunta.”, diria Levy, como disse sobre as questões cubanas e do BNDES e seu acervo de confisco tropical. “O ministro não respondeu aos principais questionamentos”, diz Wilson Périco, o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), participante da reunião com o ministro na semana passada. “A máquina pública está muito inchada e o governo gasta mal e muito mais do que deve.”, declarou o empresário à revisto Isto É Dinheiro. Fica claro que a Suframa, nesse contexto, só tem peso e vez na medida em que representa 50% da receita de toda a Região Norte. Neste momento, onde o refluxo tributário se amplia, os desafios enfrentados pela indústria só atrapalham: sua perda de competitividade, o encolhimento do mercado, a redução de 14 mil postos de trabalho… O governo precisa arrecadar.
Identificando saídas
Foi item destacado na conversa entre as lideranças empresariais e o governo do Estado o cenário preocupante e sem perspectivas de reação no curto prazo: a produção industrial do Amazonas caiu 18,9% na comparação de fevereiro com igual mês do ano passado, no segundo pior desempenho entre as regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), perdendo apenas para a Bahia (-23,2%). A conversa, nestes momentos de adversidade, buscam resguardar os empregos através de identificação de saídas, onde governo e indústria – na perspectiva maior do interesse coletivo – expõem limitações e demandas. É sintomático lembrar que este estrago foi puxado por um polo que é um dos pilares de sustentação da indústria local. Os dados foram divulgados nesta terça, mas seus reflexos já estavam na pauta diária de inquietações do setor produtivo. No acumulado de 12 meses, o Amazonas registrou nova queda (-8,6%), no pior resultado do país. A retração maior se deu no segmento industrial de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos. Este registrou queda de 43,4% na comparação de fevereiro com o mesmo período do ano passado, em resultado impactado pela menor produção de televisores. O governo já acendeu a luz amarela ao confirmar a terceira redução consecutiva de arrecadação. Para a indústria, “…o resultado da retração não é nenhuma novidade. A atividade econômica do nosso Estado está interligada com as demais do país. A queda na produção industrial pode ser atribuída a equívocos cometidos em anos anteriores”, explicou o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco. Diante dos números negativos dos últimos meses, a indústria amazonense está cautelosa em relação às expectativas para os próximos meses. “Para corrigir isso, é necessário estabilizar a média econômica do Estado e as empresas estão trabalhando para manter esse equilíbrio para fazer frente à demanda, que está em baixa no Polo Industrial de Manaus”. A solução, portanto, passa pelo aprofundamento do debate e pelo enfrentamento corajoso dos dados da realidade.
Novas matrizes econômicas
Na reunião com o governador José Melo, nesta quarta-feira, os representantes de entidades de classe da indústria, comércio e setor primário, além de empresários, na sede do Governo, foram mostrar sua disposição para encontrar saídas. Ao governo interessa mobilizar os setores produtivos do Estado no enfrentamento à atual crise econômica e na busca de uma nova política de diversificação da matriz econômica do Amazonas. Afinado com as propostas insistentes do CIEAM, a sugestão é criar grupos setoriais para discutirem com o setor público os novos caminhos da economia do Amazonas. A reunião começou com um balanço sobre o cenário macroeconômico brasileiro e as dificuldades do Estado em função da crise, as medidas de redução de gastos e os ajustes para manter o equilíbrio fiscal. O governo pretende reunir ainda com a comunidade científica, economistas e usar as Câmaras Setoriais na Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (Seplanct) para criar uma política de diversificação da matriz econômica que não dependam exclusivamente dos incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus. Além de Afonso Lobo, estavam na reunião, o secretário estadual de Planejamento, Thomaz Nogueira, os presidentes da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Manaus (CDL), Ralph Assayag, da Federação do Comércio do Estado do Amazonas (Fecomercio), José Azevedo, da Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas, Muni Lourenço, e os empresários Dênis Minev e Jaime Benchimol. “Quero ressaltar a coragem e a iniciativa do governador em convocar os representantes da classe produtiva para apresentar o cenário atual na questão da sustentabilidade do Estado e abrir discussão sobre quais seriam as melhores ações para enfrentarmos o momento em que o país passa e que o nosso Estado está inserido”, disse o presidente Wilson Périco, ao destacar os riscos sociais da crise, principalmente o desemprego e desaceleração da economia.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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