Foi oportuna e emblemática a iniciativa da Rede Amazônica de Televisão em produzir uma série de programas – para celebrar a Semana do Amazonas e da Pátria, no início de setembro – e debater essa esfinge chamada BR-319. No final das 5 matérias, feitas com profissionalismo e talento, restaram algumas constatações: uma delas é o descaso federal, habitual e histórico, com infraestrutura regional. Sem infraestrutura não dá para gerar riqueza. E sem riqueza é mais difícil proteger o bem natural. A outra é a certeza de que muitos inimigos do Amazonas estão aqui no Amazonas.
Messianismo ambiental
Algumas indagações, portanto, já podem ser esclarecidas, vários preconceitos esvaziados e, acima de tudo, com as reportagens, se escancarara a hipocrisia do discurso político e do messianismo ambiental. Muito falatório e pouco conhecimento e compromisso com a região. Na última proibição do IBAMA, fica clara a confusão entre construção e recuperação da rodovia, o que reafirma a distância e o descaso do olhar federal. A rigor, não há mais qualquer entrave objetivo para a recuperação – ninguém falou nem propôs construção – da estrada, pois o traçado existe, a pavimentação foi feita e os recursos estão ou estiveram disponíveis. Na verdade, foram confiscados da ZFM e dariam para equacionar este e outros gargalos de infraestrutura, como o balizamento e drenagem da hidrovia do Madeira, a distribuição da energia, e comunicação de dados e voz. Lembremos que mais de 50% da riqueza produzida pela ZFM vai para o governo federal.
Recuperação é diferente de construção
A estrada, senhores burocratas, já foi construída, mas foi abandonada por quem deveria cuidá-la. E foi até, impunemente, bombardeada por seus oponentes, para inviabilizar sua recuperação. Ela é uma via extremamente necessária para a economia da região e para permitir o direito constitucional de ir e vir do cidadão do Amazonas. O que se deu foi o descaso, a negligência e a má-fé, de sua manutenção e conservação. Um descaso que acontece com outros segmentos e aspectos da infraestrutura local, alvo preferencial do abandono, em alguns casos, oportunista, e até delituoso, posto que incluiu a destruição objetiva do patrimônio público.
Urgentemente, colaborativamente
Tomara que o Ministério Público, ou a Polícia Federal tenham assistido às reportagens e ouvido o depoimento das pessoas e visto as imagens da destruição criminosa com uso de explosivos de trechos da rodovia para comprometer seu tráfego e assim resguardar outros interesses. Em lugar do proibicionismo, ou deixar essa denúncia sem apuração, por que não rever as implicações, os prejuízos e as complicações desses vetos intempestivos – danosos à competitividade e sobrevivência do modelo ZFM – e que se somam a tantos outros, que alegam, por exemplo, o alarmismo faccioso da destruição do Encontro das Águas para impedir a modernização portuária das demandas do polo industrial da ZFM, ou condenam o ordenamento da indústria de estaleiros, com a construção do Polo Naval, em nome de um formalismo estéril e falacioso? Ou é melhor deixar as indústrias espalhadas caoticamente na orla fluvial de Manaus? Com transparência e à luz do interesse público, é hora de sentar para conversar e avançar, em nome do bom senso e da justiça, urgentemente e colaborativamente, em favor do Amazonas.
Hoje, excepcionalmente, esta Coluna foi escrita por Wilson Périco – Presidente do Cieam. [email protected]
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