Tartarugas marinhas passam quase toda a vida no mar, e agora o uso de satélites pode ajudar cientistas a evidenciarem os caminhos que elas tomam e facilitar medidas de conservação da espécie
As tartarugas marinhas enfrentam diversos perigos em diferentes fases de vida e habitats e, embora passem a maior parte de suas vidas na água, ainda existem grandes lacunas de conhecimento sobre essa parte de sua existência. Há mais de 20 anos, a Sea Turtle Conservancy (STC), uma organização sem fins lucrativos dos Estados Unidos, trabalha com medidas de conservação de tartarugas marinhas, incluindo com métodos de rastreamento desses animais.
Isso é possível devido a tecnologia de transmissores de satélite, que são presos no casco de algumas tartarugas e conseguem monitorar seus movimentos e padrões de migração. “As tartarugas estão indo para lugares que normalmente não frequentavam”, explica Daniel Evans, biólogo e pesquisador na STC, à BBC. “Estamos observando elas expandirem seu alcance, explorando novas áreas que antes não conseguiam acessar ou pelas quais não tinham preferência.”
A importância da conservação de tartarugas marinhas
Especialistas estimam que 50% do oxigênio do mundo vem dos oceanos, mas, para isso, dependemos de mares saudáveis. As tartarugas marinhas são consideradas espécies-chave, ou seja, são essenciais para manter a saúde geral de um ecossistema. Um exemplo são as tartarugas-verdes, que atuam como jardineiras dos recifes, pastando nos leitos de grama marinha e ajudando a manter um ciclo de nutrientes saudável. Já as tartarugas-de-pente controlam populações de esponjas, permitindo que os corais tenham espaço para crescer. Enquanto isso, as tartarugas-de-couro caçam águas-vivas para se alimentar, mantendo suas populações sob controle.
As tartarugas também são transportadoras biológicas importantes, pois carregam nutrientes marinhos para a terra e deixam esses nutrientes no local após a desova. Elas e seus ovos também são fontes importantes de alimento para outros animais.
Seu desaparecimento pode criar uma série de impactos negativos nos ecossistemas marinhos e de praia. Por isso, o rastreamento de tartarugas é um ponto chave para manter o equilíbrio local e ainda permitir que se compreenda formas de conservação da espécie.
A ajuda valiosa dos satélites
O uso de satélites para rastrear tartarugas já ajudou os cientistas a identificar algumas informações importantes, como áreas de alimentação, corredores migratórios e locais de reprodução, além de entender sua distribuição espacial. Combinar essas informações com dados como temperatura da superfície do mar, atividades pesqueiras e de embarcações e concentração de clorofila — um indicador da quantidade de fitoplâncton presente no oceano, que influencia a desova — tem sido crucial para os trabalhos de conservação.
“Isso fornece informações sobre os movimentos das tartarugas, e então você pode combinar esses dados com outros para maximizar o entendimento sobre a exposição da espécie a fatores de estresse”, pontua Mariana Fuentes, bióloga de conservação marinha e professora na Universidade Estadual da Flórida. “Acredito que a telemetria por satélite tem sido uma das ferramentas que mais ajudou na conservação das tartarugas marinhas”, declara à BBC.
Em um projeto de 2018, Fuentes e outros autores identificaram áreas de alta utilização por jovens tartarugas-verdes ameaçadas nas águas ao redor de Bimini, nas Bahamas, habitats que estavam sendo severamente degradados pelo desenvolvimento costeiro. Eles dividiram a área de estudo em células de um quilômetro quadrado e as preencheram com informações sobre a densidade de tartarugas e seu uso local, entre outros dados. Isso permitiu priorizar áreas de alto valor de conservação para as tartarugas e suas presas, ao mesmo tempo recomendar a consideração do impacto na comunidade local, custos e outros fatores socioeconômicos.
Esse tipo de acompanhamento só tornou-se possível devido ao uso da tecnologia de rastreamento. “É por isso que os rastreadores por satélite são ótimos, porque não precisamos recuperá-los e podemos simplesmente sentar com nossos computadores e observar onde as tartarugas estão”, conclui Fuentes.
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