O tráfico de animais silvestres e a destruição de seu habitat coloca a arara-azul-de-lear em risco de extinção; espécie vive em grupo e raramente é vista sozinha na natureza
O Núcleo de Conservação da Fauna Silvestre (Cecfau), em Araçoiaba da Serra, São Paulo, celebrou no ínicio do mês o nascimento da primeira arara-azul-de-lear de 2025, somando-se aos 14 indivíduos já presentes no local. O Cecfau, conhecido como maternidade de animais ameaçados de extinção, registrou em 2024 o nascimento de seis araras dessa espécie.
Os pais do novo filhote, Maria Eduarda e Dumont, são sobreviventes do tráfico de animais, resgatados e mantidos sob cuidados permanentes no núcleo. Após aprender a voar e se alimentar sozinho, o filhote será avaliado para uma possível reintegração à natureza.
“Só o tempo vai dizer. A gente segue um protocolo bem rigoroso de não ficar conversando com o filhote, nem fazendo carinho, tentar ao máximo evitar esse contato para que eles não fiquem tão mansos. Mas isso depende muito de cada ave. Quando ela tiver uma idade suficiente, será avaliado o seu comportamento para saber se há chances de soltura ou não. Isso a gente só vai saber no futuro”, explicou a bióloga Giannina Piatto Clerici, gestora do Cecfau. A avaliação ocorrerá quando a arara tiver por volta de um ano de idade.
Desde 2019, o Núcleo registrou o nascimento de 26 filhotes de araras-azuis-de-lear, dos quais dez foram reintroduzidos na natureza na região do Parque Nacional do Boqueirão da Onça, na Bahia. Fundado em 2015, o Cecfau integra o Programa de Manejo Populacional da Arara-azul-de-lear, sendo uma referência nacional na reprodução e conservação de espécies ameaçadas fora de seu habitat natural. Os pesquisadores promovem a procriação dessas espécies com o objetivo de evitar a extinção e garantir a reinserção dos animais na natureza sempre que possível, reforçando os esforços de conservação da biodiversidade.
Sobre a arara-azul-de-lear
Segundo a SEMIL (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo), a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) é uma espécie ameaçada endêmica do Brasil, habitando principalmente a caatinga no nordeste da Bahia. Essas aves vivem em grupos, utilizando paredões de arenito-calcário cheios de fendas como ninhos e dormitórios. Conhecidas por sua inteligência, são fiéis aos locais de alimentação e reprodução, raramente sendo vistas sozinhas na natureza.
Com uma expectativa de vida de até 50 anos na natureza, elas são menores que a arara-azul-grande, mas possuem uma longa cauda e um bico poderoso. Suas penas apresentam tons de cobalto nas asas e cauda, esverdeado na cabeça e pescoço, e manchas amarelas próximas ao bico.
A dieta é baseada principalmente nos coquinhos da palmeira Licuri (Syagrus coronata), mas inclui outros alimentos como baraúnas, pinhões, umbus, mucunãs e milho verde. As maiores ameaças à espécie são o tráfico de animais silvestres e a destruição de seu habitat, o que coloca a arara-azul-de-lear em perigo de extinção.