Organismos versáteis, os fungos transformam lixo em insumo, substituem plásticos e inspiram tecnologias sustentáveis para enfrentar crises ambientais globais.
Uma fralda que se transforma em adubo, materiais de construção que crescem a partir de resíduos agrícolas e espumas biodegradáveis para combater incêndios são apenas algumas das soluções inovadoras baseadas em fungos que vêm ganhando destaque no cenário global. Esses exemplos foram reconhecidos pelo prêmio Future is Fungi Awards, voltado a iniciativas que exploram o potencial desse reino biológico ainda pouco compreendido.
No centro das aplicações está o micélio, a estrutura filamentosa que constitui a base dos fungos. Com ele, é possível produzir materiais leves e resistentes, além de enzimas capazes de degradar compostos complexos como madeira, plásticos e até hidrocarbonetos. A empresa Hiro, por exemplo, desenvolveu uma fralda que, ao entrar em contato com a umidade, ativa fungos capazes de degradar seus componentes plásticos em até um ano. Segundo a CEO Miki Agrawal, os testes em laboratório mostraram decomposição em menos de seis meses.
“Ainda enfrentamos desafios com materiais como polietileno e polipropileno, que permanecem difíceis de degradar em escala industrial”, explica o professor Andrew Adamatzky, da Universidade do Oeste da Inglaterra. Mesmo assim, ele acredita que os fungos possuem o tipo de propriedades ideais: “Eles prosperam em ambientes hostis e transformam recursos de baixo valor em algo útil. São organismos oportunos, com exatamente o tipo de propriedades de que precisamos agora.”
Além da biorremediação, os fungos estão sendo usados como fábricas vivas para a produção de corantes, emulsificantes e outros compostos complexos, sendo alternativas mais limpas a aditivos derivados do petróleo. A CEO da Mycolever, Britta Winterberg, afirma que “percebemos que são capazes de muito mais” após o sequenciamento de diversas espécies. Já Ricky Cassini, da Michroma, destaca o potencial de fungos filamentosos na fabricação de pigmentos naturais de alto desempenho.
Outras aplicações incluem sensores vivos, materiais eletrônicos que se autorreparam e espumas para combate a incêndios desenvolvidas a partir de resíduos. Apesar de ainda em fase experimental, essas tecnologias apontam para um futuro em que os fungos poderão tornar setores inteiros mais sustentáveis. Como resume a fundadora do prêmio, Susanne Gløersen: “Os fungos são os engenheiros originais da natureza. Estamos apenas dando a eles o palco que merecem.”