A recente investigação da Polícia Federal trouxe à tona a atuação de uma rede ilegal de espionagem na Abin “Paralela”, durante o governo de Jair Bolsonaro. Entre os alvos monitorados estava o servidor do Ibama, Hugo Ferreira Netto Loss, conhecido por suas ações de combate ao garimpo e ao desmatamento na Amazônia.
Operação “Última Milha”
A Polícia Federal deflagrou a quarta fase da Operação “Última Milha” na última quinta-feira, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa que utilizava recursos da Abin para monitorar ilegalmente autoridades públicas e produzir notícias falsas. Foram expedidos cinco mandados de prisão preventiva e sete de busca e apreensão em várias cidades, incluindo Brasília, Curitiba, Juiz de Fora, Salvador e São Paulo.
Alvo na mira
Hugo Loss, servidor de carreira do Ibama, foi um dos principais alvos da espionagem. Conhecido por coordenar ações contra garimpeiros e madeireiros ilegais, suas operações frequentemente contrariavam os interesses políticos do governo da ocasião. Em entrevista ao GLOBO, Loss afirmou que a espionagem foi uma tentativa do governo de obter informações privilegiadas sobre suas operações.
Durante suas ações, maquinários utilizados pelos criminosos foram destruídos, o que gerou críticas de Bolsonaro.
Loss foi exonerado do cargo de coordenador de Operações de Fiscalização em 2020 e ficou impedido de atuar na Amazônia por mais de um ano. “Existia uma política ambiental desastrosa por parte do governo Bolsonaro, em ataques repetidos e voltados para a desestruturação dos órgãos de controle ambiental”, explicou. Em fevereiro deste ano, sob a gestão da ministra Marina Silva, o servidor foi reconduzido ao cargo e agora busca reparação pelos danos sofridos.
“Fiquei 414 dias impedido de ir para a Amazônia após as ações de combate ao garimpo e grilagem em terras indígenas. Tomarei as medidas cabíveis para a reparação das ações de assédio executadas por integrantes do governo Bolsonaro “, afirmou.
Espionagem digital e monitoramento
A estrutura de espionagem utilizava o programa espião FirstMile, capaz de detectar a localização de aparelhos celulares. Em outubro de 2021, o agente da PF Marcelo Araújo Bormevet identificou o perfil no X (ex-Twitter) “O FISCAL do IBAMA” como um dos alvos. A análise e identificação dos perfis considerados “criminosos” envolviam o levantamento de informações e o monitoramento digital.
A revelação da espionagem provocou reações imediatas. O perfil “O FISCAL do IBAMA” no X repercutiu a notícia, afirmando que incomodaram tanto que foram investigados pela “Abin paralela”. A investigação também confirmou que outros servidores do Ibama foram monitorados por cumprirem seus deveres no combate aos crimes ambientais.
Os investigados podem responder pelos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ressaltou a importância da responsabilização dos culpados e destacou a necessidade de um forte trabalho de educação ambiental e conscientização para evitar futuros crimes ambientais.
A operação “Última Milha” continua em andamento, buscando desmantelar a rede de espionagem e garantir a responsabilização dos envolvidos.
Com informações d’O Globo e da CNN
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