Com avanço rápido da devastação, espécies na Amazônia podem sumir sem serem conhecidas pela ciência. Novos métodos e expedições buscam acelerar o conhecimento da biodiversidade para protegê-la.
A Amazônia segue revelando espécies inéditas, mesmo diante da devastação acelerada. Pesquisadores alertam para uma corrida contra o tempo, muitos animais e plantas da Amazônia estão desaparecendo antes mesmo de serem conhecidos pela ciência. A descoberta de espécies na Amazônia tornou-se um desafio urgente para a conservação da biodiversidade.
O primatologista Rodrigo Costa Araújo, especialista em saguis, é um dos que se dedicam a preencher essa lacuna. Em seu doutorado, revelou duas novas espécies de macacos e criou um banco de dados com 99% das espécies conhecidas de saguis da Amazônia. Em 2018, descreveu o Plecturocebus grovesi, hoje entre os 25 primatas mais ameaçados do planeta, segundo a IUCN.
“Enquanto estou querendo chegar a um lugar que para a ciência é desconhecido, os madeireiros, a mineração já chegaram lá”, afirma Araújo. A Amazônia já perdeu 13% de sua área total, segundo o MapBiomas, e 83% das zonas alteradas surgiram apenas nos últimos 40 anos.
Um estudo da Nature revelou que o Brasil concentra 10,4% do potencial mundial para novas descobertas de vertebrados, principalmente em florestas tropicais como a Amazônia. Mas obstáculos logísticos, falta de recursos e escassez de taxonomistas comprometem o avanço da descoberta de espécies na Amazônia, apesar do alto potencial identificado por cientistas.
A professora Ana Prudente, do Museu Emílio Goeldi, que já descreveu 31 espécies de cobras, destaca a falta de profissionais para garantir a continuidade do trabalho. “Ter outro pesquisador trabalhando com a descrição de cobras, lagartos e sapos seria fundamental para que eu possa me aposentar tranquilamente e saber que tudo que fiz terá continuação”, diz.
Na tentativa de acelerar as descobertas, pesquisadores apostam em novos métodos. Um deles, usado pela UnB em parceria com o Inpa, consiste na extração e sequenciamento de DNA de amostras para identificar espécies ainda não catalogadas. “A gente sabe que usar a taxonomia clássica não vai conseguir suprir”, afirma Paulo Câmara, da UnB.
Mesmo com iniciativas como o programa Amazônia +10, que destinou R$ 78,2 milhões para financiar expedições científicas, o ritmo de descoberta de espécies na Amazônia segue atrás do avanço da destruição. Para os cientistas, descobrir novas espécies é parte fundamental da proteção da floresta amazônica.