Presidente da COP30, André Corrêa do Lago destaca o afastamento dos EUA da transição energética enquanto a China acelera renováveis e altera a correlação de forças no debate climático global.
A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), realizada em Belém do Pará, já começa a evidenciar uma nova divisão geopolítica no cenário global. Em entrevista à TV Brasil, o presidente da COP30 e embaixador André Corrêa do Lago destacou o contraste entre as posturas adotadas por China e Estados Unidos frente à agenda climática.
Segundo Corrêa do Lago, enquanto a China se apresenta como grande apoiadora da transição para uma nova economia de baixo carbono, os EUA defendem um retorno ao modelo baseado em combustíveis fósseis. “Tornou-se quase um embate geopolítico dentro desta negociação de qual direção o mundo deve tomar”, afirmou.
Dados recentes do Carbon Monitor reforçam essa leitura. Entre janeiro e junho de 2025, as emissões de CO₂ dos EUA cresceram 4,2% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Já na China, houve queda de 2,7%, concentrada nos setores de energia e indústria, reflexo direto do avanço das fontes renováveis. Apenas em maio, o país asiático instalou 92 GW de energia solar, quase igualando toda a capacidade histórica dos Estados Unidos (134 GW).
O presidente da COP30 alertou ainda para a emergência de um novo tipo de resistência à ação climática, o que chamou de “negacionismo econômico”. Ele citou a visão do secretário de Energia dos EUA, Chris Wright, que reconhece a influência humana nas mudanças climáticas, mas considera que o desenvolvimento econômico é mais importante do que medidas de mitigação. “Portanto, acredita que a solução está mais ligada a se adaptar do que a mitigar”, afirmou Corrêa do Lago.
Apesar da ausência oficial do governo dos EUA nas negociações, Corrêa do Lago destacou a presença de governadores como o da Califórnia, que juntos representam 60% do PIB norte-americano. Para ele, o real impacto da ausência norte-americana se dará caso o país mantenha o foco em retroceder na agenda de transição energética.
O embaixador também comentou o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), iniciativa brasileira voltada à preservação das florestas, biodiversidade e apoio às comunidades locais. Por operar fora dos mecanismos tradicionais da convenção da ONU, o fundo pode atrair aportes de países como China e Brasil, além de fundos soberanos em busca de investimentos sustentáveis. Segundo ele, por ser um modelo novo, ainda levará tempo para ser plenamente compreendido pelos países interessados.