Descubra algumas das aves mais exuberantes, raras e fascinantes da Amazônia, com belezas únicas, comportamentos curiosos e papéis vitais na floresta amazônica.
A Amazônia abriga uma das maiores diversidades de aves do planeta, são cerca de 1300 espécies de aves. Entre elas, algumas das mais fascinantes, coloridas e surpreendentes do mundo. Nesta seleção, reunimos espécies que se destacam não apenas pela beleza exuberante, mas também por seus comportamentos curiosos, sons inusitados e funções vitais para o equilíbrio da floresta. Conheça algumas das aves mais fascinantes da floresta amazônica.
Cantos da floresta, aves que se destacam por sons e cortejos inusitados
Com vocalizações potentes, comportamentos de exibição elaborados e rituais de acasalamento únicos, essas aves são as protagonistas sonoras da Amazônia. Entre elas estão o mítico uirapuru e a araponga-da-Amazônia, conhecida por emitir o som mais alto já registrado no mundo das aves.
Anambé-branco-de-rabo-preto (Tityra cayana)
Comum em grande parte da Amazônia, o anambé-branco-de-rabo-preto vive em florestas de terra firme, várzeas e bordas de mata, sendo facilmente avistado em galhos altos e expostos. Encontrado amplamente na região Norte do Brasil, costuma viver aos pares ou pequenos grupos.
Sua vocalização áspera e metálica lhe rendeu o apelido de “catarrenta” em algumas regiões do Tocantins. A dieta dessa ave é baseada em frutos, mas inclui também insetos. A espécie se destaca pelo canto nada melódico, parecido com uma buzina.

Araponga-da-Amazônia (Procnias albus)
A araponga-da-Amazônia é dona do canto mais alto do mundo entre as aves: um canto metálico que pode atingir 125 decibéis, sendo mais alto que uma turbina de avião. O som é emitido pelo macho durante o cortejo, a poucos centímetros da fêmea. Pelo canto, é conhecida popularmente como “pássaro bigorna”.
O macho é totalmente branco e exibe uma carúncula escura, próxima ao bico, que balança ao cantar. Já a fêmea é verde-oliva, o que permite sua camuflagem. A espécie vive nas florestas úmidas do norte da América do Sul, com registros no Pará, Roraima e Amazonas. Apesar de ser classificada como Pouco Preocupante (LC) em nível global, subespécies brasileiras enfrentam risco pela perda de habitat.

Cabeça-de-ouro (Ceratopipra erythrocephala)
Com cerca de 9 cm, o cabeça-de-ouro é uma pequena ave florestal da família dos dançarinos (Pipridae), encontrada ao norte do Rio Amazonas e em países vizinhos como Guianas, Colômbia e Peru. O macho realiza elaboradas exibições em arenas, onde vários indivíduos competem para atrair fêmeas. Durante o ritual, eles fazem saltos rápidos entre galhos baixos, erguendo as penas brancas das pernas e destacando a cabeça dourada com movimentos precisos.
As vocalizações curtas e repetitivas ajudam a marcar presença e ritmo durante a dança. A fêmea escolhe o parceiro e cuida sozinha da prole. A espécie é frugívora e tem papel importante na dispersão de sementes.

Galo-da-serra (Rupicola rupicola)
Os machos exibem plumagem laranja intensa e uma crista semicircular que cobre o bico, em contraste com a fêmea, de coloração marrom discreta. A espécie vive somente em ambientes rochosos, o nome científico Rupicola significa “habitante das rochas”. É encontrado em florestas úmidas, próximas a escarpas, cavernas e maciços rochosos, onde forma arenas de cortejo em que machos competem com danças e vocalizações estridentes.
Presente no norte do Brasil, em estados como Amazonas e Pará, o galo-da-serra dispersa sementes em áreas rochosas, contribuindo com a regeneração florestal. Também possui importância cultural, sendo citado na toada “Deuses Pássaros” do Boi Garantido, em que aparece como ser mítico que oferece frutos aos guerreiros indígenas.

Gritador-da-Guiana (Sirystes subcanescens)
O gritador-da-Guiana é uma ave de vocalização potente, comum no dossel das florestas úmidas da Amazônia brasileira, ao norte do Rio Amazonas e leste do Rio Negro. Pertencente à família dos tiranídeos, que inclui os bem-te-vis. Vive solitário ou em pares, mas costuma acompanhar bandos mistos de aves, aproveitando a movimentação conjunta para caçar insetos e evitar predadores.
O canto dessa ave é forte e repetitivo, ecoando no alto das copas, o que o torna mais ouvido do que visto.

Japu-verde (Psarocolius viridis)
Grande, verde-oliva e com bico amarelado, o japu-verde impressiona pelas vocalizações estranhas e pelos ninhos pendentes em colônias, muitas vezes escolhe árvores lisas e escorregadias para evitar a subida de predadores, como serpentes. Habita o dossel da floresta amazônica, sendo frequentemente observado em grupos ruidosos.
Seu canto metálico e sua vida social intensa o tornam inconfundível.

Maú (Perissocephalus tricolor)
Conhecido como pássaro-boi, o maú mede cerca de 35 cm e tem corpo canelado, mas o que chama atenção é a cabeça completamente nua, de tom azul-acinzentado, que contrasta com a plumagem. Essa “máscara” lhe confere aparência quase mística, lembrando um pequeno urubu da floresta. O macho possui penas longas e enroladas na base da cauda, que exibe durante o cortejo para aumentar o volume corporal.
O canto é igualmente inusitado e lhe rende o nome popular de pássaro-boi: um som grave e vibrante, parecido com o mugido de um boi ou o rugido de uma onça. Habita as florestas entre o Rio Negro e o Amapá.

Rabo-de-arame (Pipra filicauda)
O rabo-de-arame se localiza na Amazônia ocidental. Pequeno e ágil, deve seu nome às penas da cauda alongadas e finas, que lembram fios metálicos e são usadas durante o cortejo. O macho exibe plumagem vibrante — vermelho e amarelo sobre o corpo negro —, enquanto a fêmea, verde-oliva, é quase invisível na mata. No período reprodutivo, os machos se reúnem e realizam danças acrobáticas com giros e voos curtos.
O que torna essa espécie única é o comportamento tátil: o macho esfrega suas “penas de arame” na fêmea, um gesto raro entre aves. Habita o sub-bosque de florestas úmidas, especialmente várzeas e igarapés, sendo comum no oeste da Amazônia brasileira, entre Amazonas, Acre e Roraima.

Saurá (Phoenicircus carnifex)
Pássaro vermelho, conhecido como um ponto de fogo da floresta. O macho exibe plumagem escarlate intensa, com penas no topo da cabeça projetadas para a frente e tons mais escuros nas asas e no dorso. A fêmea, em contraste, é verde-acinzentada e ligeiramente maior, uma inversão rara entre as aves. Habita o estrato médio e inferior de florestas úmidas e campinaranas, ocorrendo em ambos os lados do Rio Amazonas, do Amapá ao Maranhão.
O macho emite um canto rouco e curto, acompanhado por ruídos das asas em suas exibições. Os filhotes têm plumagem escura e penugem branca, lembrando lagartas peludas, uma camuflagem eficaz contra predadores.

Uirapuru (Cyphorhinus arada)
Ave dona de um dos cantos mais famosos da Amazônia. A melodia complexa e clara, parecida com o som de uma flauta, inspirou lendas que dizem que a floresta silencia para ouví-lo. O canto ocorre por poucos dias ao ano, no início da manhã e ao anoitecer, durante o período reprodutivo. Difícil de ser avistado, vive no sub-bosque e constrói ninhos esféricos, geralmente em palmeiras espinhosas ou árvores com formigas, como defesa contra predadores.
A espécie ocorre em quase toda a Amazônia brasileira, tanto ao norte quanto ao sul do Rio Amazonas. O músico Heitor Villa-Lobos dedicou a peça sinfônica Uirapuru (1917) à ave.

Uirapuru-estrela (Lepidothrix serena)
O uirapuru-estrela é uma ave pequena da Amazônia, conhecida pelo contraste entre o macho, preto com topo da cabeça azul-brilhante, a testa do macho é branca e brilhante e parece um capacete. Já a fêmea é verde e discreta. O canto é simples e repetitivo, usado para marcar território. Vive no sub-bosque de florestas úmidas e ocorre principalmente no norte da Amazônia, incluindo Guianas e norte do Amapá.

Aves sociais e barulhentas: Araras e papagaios
As araras e papagaios são ícones da Amazônia. Inteligentes, sociáveis e barulhentos, estabelecem vínculos profundos com o ambiente e também com a cultura popular. Com cores vibrantes, vocalizações marcantes e comportamento sociável – tanto entre si, quanto com os humanos – fazem dessas aves símbolos da biodiversidade brasileira.
A perda de habitat é uma das principais ameaças à sobrevivência das araras e papagaios. O desmatamento, as queimadas e os efeitos das mudanças climáticas reduzem drasticamente as áreas onde se alimentam, se reproduzem e encontram abrigo. Com a floresta cada vez mais fragmentada, muitas invadem plantações em busca de alimento, o que pode gerar conflitos com agricultores. A situação se agrava com o tráfico ilegal de animais silvestres, que continua a pressionar suas populações.
Araras
Com plumagens vibrantes e voos poderosos, são facilmente reconhecidas pelo bico curvo e resistente, capaz de quebrar castanhas e sementes duras, como a castanha-do-pará. Não constroem ninhos, utilizando ocos em árvores mortas ou de grande porte e fendas ou grutas em áreas rochosas para nidificação.
Também possuem pés com dois dedos voltados para frente e dois para trás, que funcionam como garras para escalar e segurar alimentos. São aves sociais e monogâmicas, vivendo em pares ou bandos. Comunicam-se por gritos fortes e estrondosos, usados para manter contato durante o voo ou marcar território em árvores-dormitório ao entardecer. Em cativeiro, podem viver 50 anos ou mais.
Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus)
A arara-azul-grande é a maior espécie de arara, chegando a 1 metro. Vive em áreas com palmeiras, das quais depende para se alimentar e dispersar sementes. Nidifica em cavidades naturais e tem reprodução lenta, com apenas um filhote sobrevivente por ciclo. Já esteve ameaçada de extinção, mas se recupera hoje graças a projetos de conservação.

Arara-vermelha (Ara chloropterus)
Grande porte, chega a 90 cm. O nome chloropterus significa “asa verde” e faz referência à faixa verde nas asas, que a diferencia de outras espécies. Habita copas de florestas altas e buritizais. Vocaliza de forma alta e complexa. A população sofre com o tráfico de animais silvestres e a fragmentação e destruição de seu habitat, especialmente onde a agropecuária avança sobre as florestas. É considerada na cultura popular símbolo da Amazônia.

Arara-canindé (Ara ararauna)
Essa ave é de grande porte, pode chegar até 90 cm. A arara-canindé tem ampla distribuição na Amazônia, habitando florestas úmidas e várzeas com palmeiras, onde nidifica. Ela é conhecida por praticar geofagia, ou seja, comer argila. Acredita-se que o hábito seja usado para eliminar toxinas da sua dieta ou obter minerais essenciais. Também ameaçada pelo tráfico e perda de habitat.

Araracanga (Ara macao)
A araracanga exibe asas tricolores vibrantes e não apresenta dismorfismo sexual, ou seja, as fêmeas e os machos são idênticos. Habita copas de florestas úmidas e margens de rios. A aracanga foi desenhada no primeiro mapa do Brasil, em 1502, destacando sua importância cultural e visibilidade. É um grande atrativo do ecoturismo, fazendo parte de projetos de conservação da Amazônia.
É frequentemente confundida com a arara-vermelha, mas ambas têm diferenças sutis. A arara-vermelha tem uma faixa de cor verde no meio do corpo, enquanto a Araracanga tem uma faixa de cor amarela. Além disso, a arara-vermelha se caracteriza por pequenas penas vermelhas que preenchem seu rosto, enquanto o rosto da araracanga é branco por inteiro.

Maracanã-guaçu (Ara severus)
Uma das menores araras. Única arara do Brasil com plumagem verde-escura, habita florestas, áreas úmidas e até regiões urbanas. O voo dessa ave é rápido e direto. O nome da espécie é de origem tupi e inspirou o apelido do famoso estádio de futebol Maracanã, no Rio de Janeiro, devido à presença de muitas aves deste gênero naquela região.

Papagaios
Os papagaios amazônicos são conhecidos pela inteligência, capacidade de vocalizar sons complexos e comportamento social altamente desenvolvido. De médio porte, com bicos fortes e plumagens geralmente verdes, com detalhes vibrantes, essas aves vivem em pares ou bandos barulhentos, comunicando-se com chamados altos e variados.
Ocupam desde florestas densas até áreas de transição e bordas de mata, sempre próximas a árvores com ocos, fundamentais para a sua reprodução. Assim como as araras, os papagaios enfrentam graves ameaças pelo tráfico ilegal, sendo capturados ainda filhotes para o comércio de animais de estimação. Essas aves desempenham papel essencial como dispersoras de sementes, ajudando a manter viva a floresta.
Anacã (Deroptyus accipitrinus)
Ave de porte médio e discreta. Quando se alarma, levanta e estufa as penas da nuca, pescoço e peito, formando um grande e imponente leque ou “cocar indígena”, característica que lhe rendeu o nome científico que significa “ave com cocar eriçado como um falcão”. Vive em florestas úmidas e voa baixo.

Papagaio-campeiro (Amazona ochrocephala)
Reconhecido pela testa amarela, a mancha vermelha nas asas e o verde predominante na plumagem, esse papagaio mede cerca de 35 cm e forma bandos barulhentos e sociáveis. É uma espécie amplamente adaptável, ocorrendo em diferentes habitats, desde florestas úmidas de terra firme até buritizais, campos abertos e regiões semiáridas. Costuma nidificar em cavidades de árvores e pode viver por décadas.

Papagaio-Moleiro (Amazona farinosa)
Maior papagaio do Brasil, o papagaio-moleiro pode atingir até 40 cm de comprimento. A plumagem é predominantemente verde com um tom esbranquiçado nas penas do dorso, o que dá origem ao nome popular “moleiro”, em alusão à aparência de “empanado em farinha”. Habita o dossel de florestas densas e úmidas, tanto de terra firme quanto de áreas montanhosas, podendo ocorrer até 1.100 metros de altitude.

Papagaio-do-Mangue (Amazona amazonica)
Com o nome popular de curica, mede até 34 cm e habita manguezais, várzeas e matas ribeirinhas. Provavelmente foi o primeiro papagaio avistado pelos portugueses ao chegarem ao Brasil, já que sua distribuição inclui o litoral atlântico e estuários do norte do país, os primeiros pontos de contato durante as expedições marítimas. Vocal e sociável, é comum em áreas alagadas da Amazônia.

Papagaio-da-várzea (Amazona festiva)
Chamado de papa-cacau, devido à preferência pelo fruto do cacau. Vive em florestas sazonalmente alagadas e áreas de várzea. Colorido e barulhento, é frequente nas margens de rios amazônicos. Costuma formar grupos vocais e ativos, sendo facilmente ouvido antes de ser visto.

As cores tropicais dos pequenos pássaros da Amazônia
Pequenos e ágeis, esses pássaros chamam atenção pelas plumagens vibrantes e pelo papel ecológico essencial. Tangarás, sanhaçus, azulões e afins vivem em bordas de mata, clareiras e sub-bosques, onde se alimentam de frutas, insetos e néctar. São dispersores de sementes e ajudam a controlar populações de insetos, contribuindo para a regeneração do ecossistema amazônico.
Azulão-da-amazônia (Cyanoloxia rothschildii)
O azulão-da-Amazônia é um pássaro de porte médio e plumagem azul-escura intensa, presente no sul da Amazônia. Vive em bordas de mata e clareiras, onde emite cantos repetitivos e melodiosos, mas não estridentes. Discreto, é mais ouvido do que visto na floresta.

Cardeal-da-amazônia (Paroaria gularis)
O cardeal-da-Amazônia se destaca pela plumagem branca com cabeça vermelha vibrante, seu nome diz respeito justamente à crista vermelha que lembra a aparência dos barretes usados por cardeais da Igreja Católica. Vive em margens de rios, igarapés e áreas abertas com vegetação ribeirinha. É comum em pares ou pequenos grupos e tem vocalização forte, seus ninhos são construídos em formato de taça.

Sanhaçu-da-amazônia (Tangara episcopus)
O sanhaçu-da-Amazônia é um dos pássaros mais comuns da região, facilmente identificado pela plumagem azul-clara com tons acinzentados. Habita bordas de floresta, clareiras e áreas urbanas. Espécie inquieta e barulhenta, com canto alto e estridente. Tem se mostrado resiliente a espaços alterados pela ocupação humana.

Sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis)
Com plumagem vibrante em tons de azul, verde, amarelo e preto, o sete-cores-da-Amazônia é um dos pássaros mais coloridos da floresta. Vive em bordas de mata e clareiras, alimentando-se de frutas e pequenos insetos. É ativo, sociável e chama atenção mesmo à distância. O nome científico “chilensis” remete ao Chile, mas a espécie nunca foi encontrada no país. No tupi, o gênero Tangara significa “dançarino”, embora o sete-cores não seja conhecido por danças elaboradas de cortejo.

Surucuá-violáceo (Trogon violaceus)
Com plumagem violeta iridescente, peito amarelo e olhos amarelos, o surucuá-violáceo é uma ave discreta da floresta. Vive em pares no interior das matas, onde permanece imóvel por longos períodos. Alimenta-se de insetos e frutos, capturados em voos curtos a partir de poleiros escondidos.

Gaturamo-verde (Euphonia chrysopasta)
O gaturamo-verde é uma ave pequena, de plumagem verde-oliva com brilho metálico e detalhes amarelos. Vive no dossel e bordas de florestas úmidas, onde se alimenta de frutos, principalmente de figueiras. É discreto, mas vocaliza com frequência em dueto com o par.

Saíra-negaça (Ixothraupis punctata)
A saíra-negaça tem plumagem verde com peito e ventre claros, cobertos por pintas escuras, que lhe dão uma aparência escamosa e salpicada. Vive em florestas úmidas e bordas de mata na Amazônia, sendo ativa e rápida. Alimenta-se de frutas e insetos e costuma se juntar a bandos mistos. Possui um canto agudo.

Saí-de-perna-amarela (Cyanerpes caeruleus)
O saí-de-perna-amarela é uma ave pequena e ativa. Vive em bordas de floresta e clareiras, alimentando-se de néctar, frutas e insetos. Costuma ser vista em bandos e é bastante ágil nos galhos. Trata-se de um nectarívoro especializado, que usa seu singular bico longo e curvo para se alimentar do néctar das flores (especialmente bromélias). O gênero Cyanerpes (saís) é conhecido por se alimentar do néctar de plantas, com bico longo e fino, similar ao beija-flor (embora sejam de famílias diferentes).

Figuinha-amazônica (Conirostrum margaritae)
Vive no dossel e nas bordas de florestas úmidas da Amazônia, onde se alimenta de pequenos frutos e insetos. Difícil de ser avistada. Seu status e conservação é vulnerável, pois a poluição de rios e o desmatamento das matas de várzea ameaçam diretamente seu habitat, que é restrito a ambientes fluviais.

Polícia-inglesa-do-norte (Leistes militaris)
A polícia-inglesa-do-norte chama atenção pela plumagem preta com peito vermelho vivo. Habita áreas abertas, savanas e campos úmidos na Amazônia, onde anda pelo solo em pequenos bandos. Em áreas urbanas pode se empoleirar em postes de cerca ou fios. O nome popular vem da plumagem, que lembra os trajes militares britânicos.

João-pinto (Icterus croconotus)
Costuma viver em pares ou pequenos grupos no dossel e nas bordas de florestas da Amazônia, é muito visível em campos arborizados. É conhecido por seu canto melodioso e encadeado, descrito como “flautoso”. Ele é um nidoparasita facultativo, ou seja, ocupa com frequência ninhos abandonados ou prontos de outras aves.

Freirinha (Arundinicola leucocephala)
A Freirinha macho chama atenção pela plumagem preta com a cabeça branca, que lembra um hábito de freira. Vive em áreas alagadas, margens de rios e igarapés na Amazônia, é especialista em nichos próximos à água. É inquieta, pousando em arbustos baixos e voando curtas distâncias.

Tesourinha (Tyrannus savana)
A Tesourinha macho exibe longas penas caudais em forma de “V”, lembrando uma tesoura aberta. Migratória, se reúne em bandos de milhares e aparece na Amazônia durante a estação seca. Habita áreas abertas, como campos, cerrados e até pastagens e áreas agrícolas. Ave conhecida por fazer acrobacias em voo.

Beija-flor, a menor ave da floresta
Pequenos, velozes e essenciais para a floresta, os beija-flores amazônicos se destacam pela agilidade no voo e pelo papel crucial na polinização. Alimentam-se principalmente de néctar, mas também consomem pequenos insetos e aranhas. São aves solitárias, muitas vezes territoriais e agressivas, comuns em bordas de floresta e clareiras floridas.
Beija-flor-tesoura-verde (Thalurania furcata)
Comum em áreas de floresta e bordas, destaca-se pela cauda bifurcada e plumagem verde metálico nos machos. Alimenta-se de néctar e pequenos insetos. Costuma ser territorial e agressivo, defendendo suas flores preferidas com agilidade no voo. Espécie migratória, passa o outono e inverno no norte e retorna ao sul para se reproduzir.

Asa-de-sabre-da-guiana (Campylopterus largipennis)
Beija-flor robusto, com asas longas e curvadas que lembram sabres. Machos têm plumagem verde-azulada brilhante e comportamento territorial. Habita florestas úmidas e bordas em toda a Amazônia. Alimenta-se de néctar de flores (com preferência por flores do gênero Heliconia), mas também consome insetos e aranhas. Tem o voo mais pesado em relação a outros beija-flores. Espécie solitária e agressiva na defesa do território de alimentação.

Bicos longos e coloridos: Tucanos e Araçaris
Com corpos leves, pés fortes e bicos longos e ocos, os Ramphastídeos — grupo que inclui tucanos e araçaris — são adaptados à vida nas copas das árvores. Habitam florestas tropicais densas e áreas de borda, onde se alimentam principalmente de frutas, mas também consomem insetos, ovos e pequenos vertebrados, como ovos e filhotes de outras aves, lagartos, serpentes e anfíbios.
Apesar do tamanho, seu bico é leve e funcional e ajuda a alcançar frutos distantes e regular a temperatura corporal. Além de belos, são importantes dispersores de sementes, contribuindo para a regeneração da floresta.
Tucanos
Tucanos são aves de bico grande e colorido, comuns nas copas da floresta amazônica. A estrutura do seu bico por dentro é em “favo de mel”, o que o torna leve. Além disso, o bico é altamente vascularizado e atua como superfície de troca de calor, auxiliando na regulação da temperatura. São importantes dispersores de sementes e vivem em pares ou pequenos grupos, emitindo vocalizações graves e sons semelhantes a coaxos.
Tucano-toco (Ramphastos toco)
Maior dos tucanos, pode atingir até 65 cm. Tem um enorme bico alaranjado com mancha preta na ponta. Habita bordas de florestas, clareiras e áreas abertas da Amazônia. Apesar da aparência desajeitada, voa bem em curtas distâncias e vocaliza sons roucos e curtos.

Tucano-de-papo-branco (Ramphastos tucanus)
Tem cerca de 55 cm e vive em florestas densas e várzeas da Amazônia, preferindo o dossel e raramente descendo ao solo. Emite vocalizações graves e roncadas, semelhantes a latidos abafados, o que lhe rendeu o nome popular de “tucano-cachorrinho”. É sensível à mudanças no habitat.

Tucano-de-bico-preto (Ramphastos vitellinus)
Tem porte médio, cerca de 48 cm, habita florestas úmidas de terra firme e várzeas na Amazônia, sendo frequente no dossel e nas bordas de mata. Frugívoro de forma predominante, mas também consome insetos e ovos. Vocaliza com sons curtos, secos e repetitivos.

Tucano-de-peito-amarelo (Ramphastos sulfuratus)
Encontrado em florestas úmidas e bordas de mata da Amazônia ocidental, especialmente no alto Rio Negro. Alimenta-se de frutas, insetos e pequenos vertebrados. Vocaliza com sons curtos e roucos, semelhantes a coaxos. Também chamado de tucano-de-bico-arco-íris, é um dispersor de sementes essencial nas florestas tropicais.

Araçaris
Os araçaris são como pequenos tucanos da Amazônia e ambos pertencem à família Ramphastidae. Com bicos longos e curvados, alimentam-se principalmente de frutos, ajudando na dispersão de sementes. Vivem em bandos e são comuns no dossel e nas bordas da floresta, onde sua plumagem vibrante se destaca.
Araçari-negro (Selenidera piperivora)
Discreto e de menor porte, o araçari-negro mede cerca de 33 cm e vive nas florestas densas da Amazônia, preferindo o sub-bosque e as copas sombreadas. O macho é facilmente reconhecível pela plumagem preta contrastando com o peito amarelo e o bico colorido em tons de marfim, vermelho e preto. Já a fêmea tem a cabeça castanha. É um importante dispersor de sementes e costuma se deslocar de forma ágil entre os galhos.

Araçari-miudinho (Pteroglossus viridis)
Um dos menores araçaris da Amazônia, mede cerca de 30 cm. Habita florestas tropicais e secundárias, frequentemente em bordas de mata e clareiras. Alimenta-se principalmente de frutos, mas também consome insetos e pequenos vertebrados. Costuma ser avistado em grupos ruidosos, com voo rápido e reto entre copas e vocalizações agudas. Para dormir em lugares apertados, as aves dobram a cauda sobre o dorso e apoiam o bico nas costas para economizar espaço.

Caçadoras de dia e de noite, as aves de Rapina
Na Amazônia, as aves de rapina se dividem entre caçadoras do dia e da noite. Gaviões, falcões e caracarás dominam os céus com visão aguçada, enquanto corujas caçam no silêncio da escuridão. Todas essas aves são predadoras eficientes, essenciais para o controle de pragas e o equilíbrio ecológico da floresta.
Gavião-real / Harpia (Harpia harpyja)
Com garras maiores que as de um urso e uma envergadura que pode ultrapassar 2 metros, a harpia é a maior águia das Américas e uma das mais imponentes. Vive nas copas da Amazônia, onde caça macacos, preguiças e outros animais arborícolas, estando no topo da cadeia alimentar. Além da força impressionante, destaca-se pela plumagem cinza e branca e pelo “penacho” de penas eretas na cabeça. Atualmente, está ameaçada pelo desmatamento e caça ilegal. A presença da harpia é vista como um indicador da qualidade ambiental.

Gavião-branco (Pseudastur albicollis)
Com plumagem majoritariamente branca e pontas das asas pretas, esse gavião habita florestas densas. É ágil, discreto e costuma planar em silêncio. Alimenta-se de répteis, insetos e pequenos mamíferos. Também é conhecido como uiraçu-branco.

Gavião-carijó (Rupornis magnirostris)
Comum em áreas urbanas e rurais, é um dos gaviões mais avistados no Brasil. Importante para o controle de pragas nas cidades. Tem peito rajado (“carijó”) e hábito diurno. Caça insetos, lagartos, roedores e pequenos pássaros. Adapta-se bem a ambientes modificados e costuma vocalizar com frequência, com um som descrito como similar a uma “risada longa e ascendente”.

Gavião-tesoura (Elanoides forficatus)
Tem esse nome por sua cauda longa e bifurcada, ele se destaca no céu amazônico com voos graciosos e acrobáticos. Caça insetos em pleno ar e costuma migrar em grandes bandos. É mais comum em áreas abertas e bordas de floresta, onde planeja em círculos largos, aproveitando as correntes térmicas. É facilmente reconhecível pela silhueta em forma de tesoura quando visto de baixo.

Uiraçu (Morphnus guianensis)
Conhecido como “uiraçu-falso”, o Uiraçu é a segunda maior águia da Amazônia, atrás apenas da harpia. Possui uma crista destacada, plumagem cinzenta e marrom e é uma ave rara. Vive no interior de florestas densas e caça presas como macacos, aves e répteis. Tem hábitos solitários e é um predador de topo na cadeia alimentar amazônica. A presença dessa ave é considerada um indicador de florestas bem preservadas.

Cancão (Ibycter americanus)
Também conhecido como gavião-de-cara-vermelha ou gralhão, o cancão se destaca por uma aparência incomum entre aves de rapina. Vive em bandos barulhentos, frequentemente observados sobrevoando a Amazônia. Alimenta-se de insetos, pequenos vertebrados e até carniça. Especialista em ninhos de vespas e abelhas, ataca e destrói colmeias para se alimentar de larvas, pupas e insetos adultos.

Águia-pescadora (Pandion haliaetus)
Com cerca de 60 cm de comprimento e envergadura que pode ultrapassar 1,5 metro, a águia-pescadora é especialista em capturar peixes com precisão. Possui garras afiadas e reversíveis, adaptadas para segurar presas escorregadias. É uma espécie migratória, que pode ser observada na Amazônia durante o período de migração, especialmente próxima a grandes rios e lagos.
Apesar de sua aparência semelhante à de outras águias, pertence a um gênero próprio. É considerada uma espécie com menor risco de extinção, mas depende de corpos de água saudáveis para sobreviver.

Mãe-da-lua-gigante (Nyctibius grandis)
O urutau-grande/mãe-da-lua-gigante é uma ave noturna inconfundível por seu porte esguio, olhos enormes e o hábito de se empoleirar imóvel em troncos ou galhos secos, imitando um galho quebrado com a sua camuflagem. Durante o dia, permanece estático e quase invisível, à noite, alimenta-se de insetos capturados em voo.
Produz vocalizações longas e melancólicas, parecidas com lamentos, o que rendeu à espécie diversos mitos e lendas populares, sendo conhecida como uma “ave-fantasma” ou um mensageiro de mau agouro no folclore.

Corujinha-da-Guiana (Megascops watsonii)
Pequena coruja amazônica, com cerca de 20 cm, conhecida por sua camuflagem eficaz e cantos sutis que lembram um trinado. Possui plumagem parda com manchas escuras e olhos grandes, adaptados para visão noturna. Vive em florestas densas, frequentemente em áreas de terra firme, onde passa o dia escondida em ocos de árvores ou ramos camuflados. Alimenta-se de insetos e pequenos vertebrados. É mais ouvida do que vista e sua presença indica ambientes florestais bem conservados.

Caburé-da-Amazônia/Coruja-pigmeia-da-Amazônia (Glaucidium hardyi)
Com apenas 14 cm, é uma das menores corujas do mundo. Pode parecer inofensiva, mas é uma caçadora ágil. Apesar do tamanho, tem comportamento ativo e vocalizações frequentes durante o dia, o que a diferencia da maioria das corujas noturnas. Vive na copa das florestas tropicais da Amazônia, onde caça pequenos insetos e vertebrados, sua presença está ligada à conservação das florestas.

Urubu-rei (Sarcoramphus papa)
É o maior e mais colorido urubu do Brasil. Necrófago, alimenta-se de carcaças em decomposição, mas também pode predar pequenos animais vivos. Ganha o título de “rei” pela hierarquia no consumo da carniça: quando chega, os urubus menores se afastam para que ele, com seu bico em gancho, abra a carcaça. É de grande porte, mede entre 75 e 85 cm de comprimento e pode alcançar até 2 metros de envergadura. Habita florestas com clareiras, bordas de mata e savanas.
Essencial no equilíbrio ecológico, ajuda a evitar a propagação de doenças ao eliminar restos de animais mortos. Está classificado como Quase Ameaçado (NT), com populações em declínio devido à perda de habitat e à ingestão de carcaças contaminadas por venenos.

Moradoras das Águas: Aves que Habitam Rios, Brejos e Alagados
Entre margens, igarapés e alagados, diversas aves amazônicas desenvolveram adaptações únicas para viver em ambientes aquáticos, como comportamentos noturnos, digestão similar a de vacas e bicos especializados para a pesca. Saiba mais sobre essas aves, essenciais aos ecossistemas ribeirinhos.
Cigana (Opisthocomus hoazin)
Vive em áreas alagadas da Amazônia. Tem aparência pré-histórica, com penacho e cheiro forte – descrito como semelhante ao mofo – por causa da fermentação de folhas no estômago. É a única ave do mundo com um sistema digestivo similar ao de ruminantes, como as vacas. Os filhotes possuem garras nas asas, ajudando na escalada de galhos, mas que desaparecem depois.

Socó-boi (Tigrisoma lineatum)
Com um canto grave que lembra o mugido de um boi, habita margens de rios e áreas alagadas. Costuma permanecer imóvel por longos períodos à espera de presas, como peixes e pequenos anfíbios. Comportamento crepuscular, ativo ao amanhecer e entardecer. Quando perturbado, permanece estático ou voa lentamente com o pescoço encolhido. Tem o hábito de ficar em pé, com as asas viradas para cima, acredita-se que para regulagem de temperatura.

Garça-da-mata (Agamia agami)
Também chamada de garça-joia e socó-beija-flor, tem cores variadas e iridescentes. Vive em igarapés sombreados e alagados da floresta. Raramente é vista, é arisca e prefere caçar na penumbra da floresta alagada. É classificada como vulnerável devido a perda de habitats de floresta aquática, que estão sob ameaça de degradação. Ave muito rara em áreas urbanas.

Trinta-réis-grande (Phaetusa simplex)
É comum em rios largos, praias e bancos de areia da Amazônia. Possui voo ágil e mergulha para capturar pequenos peixes. Reconhecível pelo corpo claro, dorso escuro e cabeça preta, vive em grupos e vocaliza de forma estridente. A espécie é vulnerável à alteração entre cheias e vazantes dos rios e ao pisoteio do gado em praias usadas como pasto. Comum de ser vista nos Lençóis Maranhenses.

Corta-água/Talha-Mar (Rhynchops niger)
Com seu bico inferior mais longo que o superior, assemelha-se a uma lâmina de tesoura e desliza rente à água para capturar peixes, comportamento que dá nome à espécie. Vive em rios e lagos amazônicos, em grupos barulhentos e ativos ao entardecer. Coloca ovos nas praias em períodos de vazante (seca).

Aracuã-pequeno (Ortalis motmot)
Ave discreta de médio porte, habita as bordas de florestas e clareiras amazônicas. Vive em grupos e se comunica com vocalizações fortes e ritmadas, especialmente ao amanhecer. Alimenta-se de frutos, sementes e brotos. Muito adaptável, tolera bem a fragmentação e se beneficia de clareiras. Evita florestas densas e fica em pequenos bosques com vegetação espessa e matas ribeirinhas. Muito comum ao norte do Rio Amazonas.

Tamborileiros da Amazônia
Com bicos afiados e crânios reforçados, os picídeos — família que inclui os pica-paus e afins— são verdadeiros engenheiros da floresta. Habitantes de troncos e galhos, passam o dia tamborilando em busca de insetos e larvas escondidos sob a casca das árvores.
Além de seu som característico, essencial para comunicação e marcação de território, exercem um papel ecológico vital: as cavidades que escavam servem depois de abrigo e ninho para inúmeras outras aves e pequenos mamíferos. Na Amazônia, estão entre os principais responsáveis por manter viva a “infraestrutura” da floresta.
Pica-pau-bufador (Piculus flavigula)
Habita florestas úmidas e bordas de mata na Amazônia. O nome popular “bufador” é uma referência ao seu canto, que é um som forte e rouco, semelhante a um bufar ou um “grito zangado”. Além disso, ele produz sons de tamborilar em troncos ocos, usados tanto para comunicação, quanto para escavação de ninhos. Costuma viver sozinho ou em pares e é visto em alturas médias da floresta. Além de insetos, se alimenta de frutas e pequenos artrópodes escondidos sob a casca das árvores.

Pica-pau-de-peito-pontilhado (Colaptes punctigula)
Vive em bordas de floresta, clareiras e áreas secundárias. O nome punctigula significa “garganta pontilhada” e se refere a sua principal marca: a garganta e o peito são cobertos por pintas e pontos negros sobre um fundo branco-amarelado. Pertence a um gênero de pica-paus que frequentemente procura alimento no solo.
Busca insetos, principalmente formigas e cupins. Assim como outros da família, escava cavidades em troncos que podem ser reutilizadas por várias espécies, contribuindo para a biodiversidade da região.

Pica-pau-amarelo (Celeus flavus)
Escala troncos em busca de insetos, mas também pode descer ao solo, comportamento menos comum entre picídeos. Um traço curioso é o cheiro forte de resina que exala da plumagem. Está amplamente distribuído na Amazônia brasileira, mas pode ser encontrado, com menor frequência, em outras regiões do país.
É possível que o nome “pica-pau-amarelo”, que inspirou Monteiro Lobato no título de seu famoso livro, tenha vindo da observação dessa ave no interior de São Paulo — embora não haja confirmação de que se tratava exatamente desta espécie.

Benedito-de-testa-vermelha (Melanerpes cruentatus)
Está amplamente distribuído na Amazônia, sendo comum em florestas úmidas e bordas de mata. Também visita clareiras e áreas com árvores isoladas, adaptando-se bem a ambientes com ação humana. É um dos picídeos mais sociáveis da região e seu comportamento inquieto faz dele uma presença marcante no dossel amazônico.

Aves camufladas e discretas
Estas aves amazônicas são discretas não só pela camuflagem, mas também pelo comportamento furtivo. Muitas vivem no sub-bosque, evitam áreas abertas e vocalizam pouco, estratégias que ajudam a escapar de predadores e se mover sem serem notadas.
Arapaçu-galinha-da-guiana (Dendrexetastes rufigula)
O nome popular vem do seu canto forte, que lembra o cacarejar de uma galinha. Possui bico longo e levemente curvado, ideal para extrair insetos e larvas sob cascas e em fendas de árvores. Habita florestas tropicais úmidas da Amazônia, sendo visto geralmente em pares ou acompanhando bandos mistos. Costuma escalar troncos grossos em movimentos espiralados. Apesar de discreto, seu chamado alto e repetitivo, principalmente nas primeiras horas da manhã, revela sua presença.

Arapaçu-assobiador (Xiphorhynchus pardalotus)
O nome popular vem de seu canto, um assobio fluente e melodioso. Forrageia ativamente sob cascas, caçando insetos e larvas. Vive no estrato médio de florestas primárias e secundárias ao norte do Rio Amazonas e leste do Negro. Nidifica em cavidades naturais ou abandonadas por pica-paus, mostrando a interdependência da floresta.

Chorozinho-de-costas-manchadas (Herpsilochmus dorsimaculatus)
Habita o estrato médio e superior de matas de terra firme, igapós (florestas alagadas) e caatingas amazônicas (formações florestais sobre solos arenosos). Ocorre no noroeste da Amazônia brasileira (Amazonas, Pará e Roraima). É difícil de observar, pois se move rapidamente entre a vegetação densa e costuma acompanhar bandos mistos na floresta.

Formigueiro-de-hellmayr (Percnostola subcristata)
Espécie que ocorre somente no Brasil, restrita a partes da Amazônia. Vive em áreas de transição e clareiras naturais da floresta. Discreto e difícil de observar, alimenta-se de insetos. A sua classificação taxonômica é tema de estudos e sua existência, exclusivamente na Amazônia, ressalta a importância da conservação dos habitats da floresta.

Choca-de-crista-preta (Sakesphorus canadensis)
O macho possui uma crista proeminente de penas eriçadas, que lembra um capacete, justificando o nome do gênero, Sakesphorus significa “segurando um escudo”. Vive no sub-bosque da floresta, onde caça insetos, larvas e artrópodes. Apesar do termo canadensis no seu nome científico, é uma ave exclusivamente sul-americana.

Fruxu-do-carrasco (Neopelma chrysocephalum)
Pertence à família dos Manaquins, mas não realiza as danças lek típicas do grupo. Vive no sub-bosque e no estrato baixo, sendo discreto e adaptado a ambientes abertos da Amazônia. O habitat dessa ave é composto por locais de areia branca, como campinaranas próximas ao Rio Negro. A coroa amarela-ouro no topo da cabeça é sua marca mais visível. O termo “carrasco” no nome popular refere-se à vegetação densa e baixa dos matagais áridos que habita.

Poaieiro-da-guiana (Zimmerius acer)
Minúsculo, mede entre 9 e 11 cm e pesa de 6 a 11 gramas. Habita o dossel e as bordas de florestas úmidas, de terra firme e várzea, matas de galeria e florestas secundárias na Amazônia Oriental. Trata-se de uma ave onívora, alimentando-se de insetos e pequenos frutos, especialmente de visco. Vive solitário ou em pares e costuma participar de bandos mistos no estrato médio e superior. Pode ser observado também em áreas urbanas arborizadas da região amazônica.

Tem-tem-de-topete-ferrugíneo (Maschile Thraupis surinamus)
Ave reconhecida pelo discreto topete, crista, de coloração laranja ou bege-ferrugíneo, que nem sempre está ereto. Habita os estratos médio e inferior de florestas de terra firme e várzeas, além de áreas abertas como campinas e campinaranas. Tem ampla distribuição na Amazônia brasileira, mas prefere ambientes florestais primários. Por isso, a degradação de habitats pode afetar suas populações.

Bico-chato-da-copa (Tolmomyias assimilis)
Tem bico achatado e largo na base, típico do gênero Tolmomyias, e vive no subdossel e estrato médio de florestas úmidas da Amazônia. Comum também em bordas e clareiras florestais. É uma ave residente, não migratória. Constrói ninhos pênseis, em formato de bolsa com túnel de entrada, presos por fibras e teias de aranha. A sua vocalização varia regionalmente, mas tende a ser nasal e estridente. Ocupa quase toda a Amazônia brasileira e é um morador típico das copas.

Jacus
Com comportamento discreto e aparência semelhante a perus silvestres, os jacus são aves grandes e terrestres, comuns em florestas da Amazônia e outras regiões tropicais do Brasil. Pertencem à família Cracidae, a mesma dos mutuns e aracuãs, e exercem papel ecológico importante como dispersores de sementes. Vivem em grupos familiares e são mais ativos nas primeiras horas da manhã ou ao entardecer.
Jacu-Amazônico (Penelope jacquacu)
Espécie de grande porte, é um dos principais dispersores de sementes da floresta, alimentando-se de frutos grandes e contribuindo para a regeneração natural. Reconhecido pela barbela vermelha proeminente na garganta, habita matas de terra firme, de galeria e de várzea. Ocorre no Brasil, especialmente na Amazônia Ocidental (Acre, Amazonas e Rondônia).
A partir das fezes do Jacu, encontradas próximas aos cafezais na América Central e do Sul, é feito um café exótico. Como a ave ingere os frutos do café, digerindo somente a polpa e casca, ela deixa intacto o grão, o qual é higienizado, torrado e comercializado. Segundo apreciadores, o café de Jacu tem um gosto suave e com baixa acidez.

Jacupiranga (Penelope pileata)
É a maior espécie de jacu do gênero Penelope no Brasil. A sua plumagem contrasta fortemente entre o corpo escuro e as penas brancas da crista, característica que inspira o nome científico pileata, que significa “que usa chapéu”. É uma espécie endêmica da Amazônia Oriental, com ocorrência restrita ao Brasil, o que a torna uma prioridade para ações de conservação.
Habita o interior e o estrato médio de florestas primárias densas de terra firme. Ave classificada como Vulnerável (VU) devido à perda de habitat e à pressão intensa de caça em sua área restrita.

Jacu-do-Norte (Ex. Cujubi – Pipile cujubi)
Habita matas ribeirinhas, de terra firme e de galeria na Amazônia brasileira (Amazonas, Pará, Rondônia, Mato Grosso) e no extremo nordeste da Bolívia. É classificado como Vulnerável (VU) em listas internacionais, principalmente devido à perda de habitat e à pressão de caça. No Brasil, dá nome ao município de Cujubim (RO).
Tem papel ecológico importante na dispersão de sementes, mas sua população vem diminuindo em diversas regiões amazônicas.

Jacupemba (Penelope superciliaris)
Espécie de jacu com a distribuição mais ampla no Brasil, ocorrendo desde o sudeste e centro-oeste até partes da Amazônia, especialmente em bordas de floresta e fragmentos. Mede cerca de 55 cm, sendo a menor espécie do gênero Penelope. A sua plumagem é escura, com destaque para a sobrancelha clara, que inspira o nome científico superciliaris.
Alimenta-se de frutos, sementes e brotos, atuando como importante dispersora de sementes. Adaptável, tolera áreas alteradas, mas também sofre pressão por caça e desmatamento.

Mutuns
Grandes dispersores de sementes, essas aves são fundamentais para a regeneração natural da floresta. No entanto, a maioria das espécies está sob ameaça devido à perda de habitat provocada pelo avanço da fronteira agropecuária, além da intensa pressão da caça e do desmatamento. Por dependerem de florestas conservadas e serem sensíveis a alterações ambientais, são consideradas bioindicadoras, ou seja, sua presença ou ausência ajuda a avaliar o grau de integridade e equilíbrio ecológico do ambiente.
Mutum-Poranga (Crax alector)
Reconhecido por sua vocalização grave e profunda, o Mutum-Poranga recebe o nome popular derivado do tupi “poranga”, que significa bonito ou vistoso. Habita o interior e bordas de florestas densas, matas de galeria e capoeiras altas. No Brasil, ocorre somente ao norte do Rio Amazonas, do Amapá ao Rio Negro, estendendo-se ainda pela Colômbia, Venezuela e Guianas.
Assim como outros mutuns, exerce papel crucial como dispersor de sementes, contribuindo para a regeneração e equilíbrio das florestas tropicais.

Mutum-de-fava (Crax globulosa)
O Mutum-de-fava é uma das maiores aves da fauna brasileira, conhecido pelo bico forte com base amarela e pela crista enrolada em forma de cacho, característica do gênero Crax. O nome popular faz referência ao tamanho de suas fezes, semelhantes a uma “fava”, um indicativo de sua dieta frugívora. Habita florestas densas, matas ciliares, áreas de cerrado e bordas de mata, preferindo ambientes com vegetação densa e acesso a recursos hídricos.
Está presente em diversas regiões do Brasil (principalmente no Centro-Oeste, Sudeste e parte da Amazônia). Desempenha papel ecológico vital como dispersor de sementes de frutos grandes. No entanto, sofre o avanço da caça e perda de seu habitat, fatores que contribuíram para sua classificação como Vulnerável (VU) na lista da IUCN.

Mutum-de-penacho (Crax fasciolata)
Habita o interior de florestas tropicais primárias e, ocasionalmente, áreas de várzea e bordas de mata. É encontrado no norte da Amazônia brasileira (Amapá, norte do Pará, Roraima, noroeste do Amazonas) e também em países vizinhos como Colômbia, Venezuela e Guianas.
É frugívoro e dispersor de sementes de espécies florestais importantes, desempenhando um papel fundamental na regeneração da floresta. Vive aos pares ou em pequenos grupos, sendo uma ave arisca e de comportamento reservado. Corre risco de extinção e já desapareceu em alguns biomas devido à perda de habitat para agropecuária industrial.

Mutum-cavalo (Pauxi tuberosa)
O Mutum-cavalo é uma ave grande e robusta da Amazônia, com até 90 cm de comprimento e cerca de 3 kg. O nome popular vem do som grave e repetido de seu canto, que lembra o trotar de um cavalo na mata. Habita florestas densas de terra firme, raramente saindo do interior da mata. A distribuição da espécie inclui o sudoeste da Amazônia brasileira (Acre, sul do Amazonas, Rondônia) e partes do Peru e Bolívia.
É uma espécie frugívora, fundamental na dispersão de sementes de árvores amazônicas. Vive geralmente aos pares e é pouco vocal, o que, somado ao seu comportamento discreto, torna os encontros com a espécie raros.
