Com a velocidade, diversidade e simultaneidade da comunicação, o mundo virou um arraial onde a informação, apesar de fragmentada e inteligentemente desarticulada, se oferece, no esplendor de sua superficialidade, ao alcance de qualquer um. Por isso, não faz sentido – se é que algum dia já fez – o conceito de nacionalismo, ligado ao fechamento de fronteiras e a criminalização da informação sobre, por exemplo, as oportunidades da biodiversidade tropical. Conceitos como o de biopirataria precisam ser revistos e, no limite, abolidos, pelos equívocos e estragos que o atraso provoca no avanço civilizatório. Cabe lembrar os argumentos – de nacionalistas do esquerdismo anacrônico – de biopirataria expulsaram uma empresa do calibre corporativo da Novartis, há 16 anos, e a empurram para outro país tropical, Cingapura, onde fundou uma cidade de biotecnologia. As circunstâncias econômicas e as emergências de saídas nos obrigam a virar e arrancar essa página de imprecações. Hoje, assistimos ao alarmante impasse do desemprego estrutural decorrente do modelo gerencial desenvolvido por esta civilização. As previsões dos planejadores não apontam para o curto, médio prazo a retomada dos zilhões de empregos diretos e indiretos que o Brasil deixou de resguardar e ampliar com seus paradigmas burocrático e jurássico de gestão de suas oportunidades. Ironicamente, o contraponto dessa percepção vesga da administração de oportunidades, e os estragos gerados pelo avanço tecnológico, incluindo a robotização intempestiva, responsável por essa situação alarmante, no caso da Amazônia se constitui numa saída disponível/necessária para contribuir com o encaminhamento do desequilíbrio socioambiental dominante.
Pelo Acordo do Clima, para ficar num exemplo, o Brasil assumiu reflorestar (?) 12 milhões de hectares. Ou seja, a mesma tecnologia que deslocou/dispensou a mão de obra do mercado de trabalho pode desenvolver alternativas de inovação para cumprir esta meta com inteligência, sustentabilidade e geração de múltiplas oportunidades. Isso, porém, há que se promover com fronteira aberta, como em Cingapura ao propiciar e facilitar o acesso de uma centena de renomados bioespecialistas que consignaram um feito de ciência, tecnologia e oportunidades como jamais se viu e dificilmente reprisará: uma cidade de biotecnologia. Hoje, esta cidade da bioindústria abastece a demanda mundial na farmacopeia de ponta.
É inócuo lamentar fatos consumados, como é insano não refletir sobre as lições que oferecem. As riquezas de nossa biodiversidade, o leque das alternativas energéticas ecologicamente corretas de que dispomos, nossa potencialidade na produção de alimentos e fármacos estão disponíveis para a Humanidade, e de quebra para cumprir o Acordo do Clima, instaurar um padrão decente que contrarie a galopante insegurança alimentar e a miserabilização da Amazônia e, de resto, no arraial do planeta, a tal da sociedade global.
Certamente estas ponderações vão descabelar o nazismo escondido no nacionalismo tardio que ainda campeia nos corações e mentes da burocracia federal. A ocupação da Amazônia, aliás, é uma emergência da sustentabilidade, para partilharmos erros e acertos de seu manejo racional. Os acertos da engenharia florestal de recomposição alemã, os avanços da inovação na silvicultura canadense – eles corrigiram os danos do arraste na floresta, o que é mais predatório que o corte aloprado – a agricultura orgânica do Peru, que adensa e conserva a floresta, a produção de proteína da piscicultura dos ex-pecuaristas de Rondônia, e a milenar sabedoria alimentar dos orientais para inventar saídas proteicas com manejo insetos são soluções que precisam invadir a Amazônia… Ora, o setor florestal brasileiro é o mais atrativo do mundo em termos de investimento. Tecnologias florestais no Piauí, Maranhão, Tocantins são paradigmáticos em termos de programas florestais de suporte à indústria, atração de investimento, geração de emprego e renda, colocando o Brasil no topo no ranking mundial de manejo florestal sustentável. Quando olhamos para a Amazônia, porém, vemos que a tecnologia florestal estancou no século XIX, tanto pela exclusão social como pela depredação ambiental. A dendrocronologia, método de precisão do corte sustentável para adensar e renovar floresta, fixar carbono e gerar riqueza não desembarcou por aqui. Tecnologia, gestão e sustentabilidade para a Amazônia, portanto, são as premissas da inadiável invasão…
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