Sigo a acreditar que os nossos inimigos não estão no exterior, mas nos autoenganos. Todos sabemos que há potencial, mas, como nos primórdios do Google ou da BioNTech, seguimos sem o modelo de negócio próspero e sustentável – apenas ideias e ideais vagos. Precisamos encontrar a forma de sair da Feira de Ciências e passar para a próxima fase.
Por Augusto Rocha
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A Amazônia é muito encantadora. Certamente já era para os que aqui viveram, faz centenas de anos, como os assentamentos que construíram pirâmides, na Amazônia “da Bolívia”, conforme publicação da revista Nature, em maio deste ano. Para os que se mudam para cá, há também um grande encantamento pelo desconhecido e pelas enormes possibilidades. Todavia, para compreender um “quase nada” de uma região como esta, são necessárias vidas inteiras de muitas pessoas.
A falta de senso sobre o tamanho e a “mera” geografia já é um desafio. Da Bolívia ao Maranhão, passa por fronteiras que não são percebidas pela natureza. Da mesma forma que do Amazonas ao Pará, há fronteiras políticas, que são ignoradas pelo seu complexo ecossistema. É certo que a “Amazônia”, não é apenas uma, como o belo livro e exposição de fotografias do Sebastião Salgado demonstra.
A falta de compreensão das dimensões, a falta de harmonização da toponímia, a falta de compreensão da diversidade de ecossistemas e microclimas de cada pedaço desta região é uma enormidade de possibilidades econômicas para acontecerem. Entretanto, a natureza ignora tudo isso e segue seu curso. Se os humanos não possuem os sensos ou as habilidades para interagir com ela, isso é problema nosso.
Na bela ExpoAmazônia Bio&TIC, viu-se a tentativa de juntar elementos de natureza distinta. Esta busca segue desde os primórdios da Suframa, com o tripé, Indústria, Agricultura e Comércio. O evento evoluiu para o Bio&TIC. A junção ainda não tão viável da Biologia com a Computação. Do Fármaco com o Agroindustrial. Dos Bionegócios com o Software. Uma enorme energia que vai sendo pulverizada em várias frentes e que – talvez – virem algo pujante, mas talvez, como, a chuva fina, não sirva sequer para sair da folha até o solo, evaporando antes.
Tipicamente quando se quer incentivar algo, faz-se muito em um setor – da natureza ao mercado e não apenas numa fase. Muito recurso, muita tecnologia, muita gente, muita pesquisa etc. em toda a cadeia produtiva e não apenas num pedaço dela. Aquela bela feira, cheia de jovens e expectativas de negócios, parecia ser uma grande feira de ciências, nos seus lados positivos e negativos.
Positivo pelo brilho nos olhos dos jovens, com tecnologias em punho. Negativo, pela distância da construção de negócios prósperos e de escala. São muitos sonhos, que precisam ser convertidos em realidade. Tudo parece com gotas de chuva fina, distantes do solo.
Sigo a acreditar que os nossos inimigos não estão no exterior, mas nos autoenganos. Todos sabemos que há potencial, mas, como nos primórdios do Google ou da BioNTech, seguimos sem o modelo de negócio próspero e sustentável – apenas ideias e ideais vagos. Precisamos encontrar a forma de sair da Feira de Ciências e passar para a próxima fase.
Anseio também que as fotos do Sebastião Salgado terminem o périplo, que começou no exterior. Atualmente está por São Paulo e irá para o Rio de Janeiro, para poder vir para Manaus e Belém. Deve ter alguma conexão entre tudo isso e talvez seja a necessidade de juntar os sensos de responsabilidade, tamanho e medição. Eles parecem isolados entre si e as gotas vão evaporando, antes de chegar ao solo.
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