“O buriti é uma das mais de 150 espécies mapeadas por pesquisadores do Inpa ao longo da BR-319. Eles estudaram e mapearam as propriedades destas espécies onde a pesquisa revela verdadeiros tesouros biológicos”.
Com ênfase na conjugação do verbo empreender e atento à necessidade de criar respostas para uma economia que depende fundamentalmente do modelo ZFM, o novo titular de C&T, Estevão Monteiro de Paula, é um experiente e qualificado servidor público, com PhD em universidade americana e paulista, que já dirigiu o órgão ambiental, IPAAM, o Serviço de Vigilância da Amazônia-Sivam e o Inpa, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, como diretor de Gestão Estratégica. Um currículo invejável de contribuição à ciência, desenvolvimento e construção da prosperidade do Amazonas.
FOLLOW-UP: Em 2016, o Estado parou para debater, com as Jornadas de Desenvolvimento, a Nova Matriz Econômica Ambiental, um projeto de gestão das oportunidades que o Amazonas oferece no setor agroindustrial, mineral, turismo e biotecnologia. Qual é o passo seguinte?
ESTEVÃO MONTEIRO DE PAULA: Quero lembrar que existe um marco nessa caminhada. O seminário sobre Pioneirismo do Amazonas e a Construção do Futuro, realizado em 2013, pelo CIEAM, FIEAM a USP e mais de 35 empresas, instituições públicas e privadas. Ali desenhamos o mapa dos desafios. A recomposição da pasta de Ciência e Tecnologia, traduz, depois das jornadas, um posicionamento do governador José Melo de administrar com ciência, tecnologia e inovação os novos caminhos que precisamos trilhar para a retomada do crescimento, com a Nova Matriz Econômica e Ambiental. As oportunidades, sua viabilidade, as condições necessárias e os resultados previstos estão consignados no documento que resume as Jornadas do Desenvolvimento, que estará disponível em breve no nosso portal. O passo seguinte é trabalhar, em parceria com os demais organismos de fomento, proteção ambiental e P&D, e antigos colaboradores da área federal, para organizar e incentivar iniciativas. O ator central e prioritário desta etapa chama-se empreendedor.
FUP: Recentemente, o CIEAM acompanhou a missão do BID Banco Interamericano de Desenvolvimento interessada em fomentar projetos não predatórios, nem assistencialistas, para apoiar empreendimentos no interior junto com a Agência de Fomento do Estado e descobrimos a desarticulação entre os entes públicos, convidados a integrar a empreitada. Como promover mudanças sem a cultura colaboracionista?
EMP: Tenho notícia de alguns avanços dessa parceria que está aguardando liberação do governo federal, envolvendo SEPROR, IDAM, SEBRAE e AFEAM, e da digitalização de demandas, vocações de cadeias produtivas, gargalos de transporte e comunicação. O caminho se faz caminhando quando estamos movidos pela premência das necessidades. Não nos resta outra saída que não empreender a partir desse almoxarifado de oportunidades que o Amazonas oferece. Tem muitos projetos acontecendo. E a hora é de aproxima-los dessa caminhada comum.
FUP: Num recente estudo, técnicos de sua equipe fizeram estudos de viabilidade com o buriti, uma espécie que a empresa Beraca está utilizando na indústria cosmética com grandes resultados. Estamos enveredando, enfim, pela bioeconomia?
EMP: Os ensaios da bioeconomia chegam com mais de cem anos de atraso. Se nós tivéssemos feito o dever de casa já teríamos transformado a economia, a partir da floresta, num monumental parque biotecnológico de produtos sustentáveis. O buriti é uma das mais de 150 espécies mapearas por pesquisadores do Inpa ao longo da BR 319. Eles estudam e mapeiam as propriedades destas espécies onde a pesquisa revela verdadeiros tesouros biológicos. Uma chance, regada pela infraestrutura viária que precisamos recuperar para promover economia de baixo carbono.
FUP: Os empresários reclamam a toda hora do proibicionismo que cerca o ato de empreender no estado do Amazonas, onde parece existir placa de veto para qualquer negócio que não seja uma atividade incentivadas da ZFM. Como contornar este embaraço?
EMP: Como ex-dirigente de órgão ambiental posso dizer que o medo de empreender é bem semelhante ao de liberar empreendimento pois se o técnico comete equívocos ele também será penalizado. A solução é fazermos colaborativamente. Errar é acertar juntos. Recentemente, em conjunto com o pessoal do CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, chamamos o CEGEN, o terrível órgão de fiscalização do acesso a biodiversidade. Com a nova lei, mais flexível, o receio continua e o jeito é trabalhar para assegurar a viabilidade de bons investimentos. Sugerimos uma Câmara de Arbitragem, com o propósito de flexibilizar o formalismo e dar sequência aos empreendimentos. Temos pressa, o estado do Amazonas é o que menos cresceu entre os vizinhos do Norte nos últimos 10 anos. Trabalhar em equipe é a chave do enigma.
FUP: No mês passado, a Assembleia aprovou o aumento de mais imposto, incluindo os combustíveis, onde a economia se baseia para se movimentar. Como trabalhar em parceria se a ótica do poder público é tributarista e não desenvolvimentista?
EMP: Não me compete avaliar as medidas fiscais do governo. Certamente há razões plausíveis para isso. Entretanto, a recriação da C&T como órgão autônomo, e agora com a incorporação do setor mineral, é sinalização clara de que o governo Melo está atrás de respostas robustas e rápidas. A instrução ao órgão ambiental e demais secretarias se dá exatamente nesta direção. A crise nos pegou de forma avassaladora e a hora é de somar talentos e propostas. Além da cosmética das palmeiras, temos a piscicultura com todo o gás para empinar, o polo mineral do Baixo Amazonas com potássio e caulim. Estamos promovendo o mapeamento do mercado de química fina. A criação da Rede Castanha permitiu a identificação de atores e produtos neste segmento, que será replicado em outras cadeias. O momento é de apreensão, portanto, um solo fértil para plantar soluções de curto, médio e longo prazo, junto com as entidades do setor produtivo.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected] |
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