Augusto Cesar Barreto Rocha(**)
É impensável promover desenvolvimento sem priorizar esforços em infraestrutura, o fio condutor que conecta investidores e mercado na geração de riquezas. Na terra em que “se plantando tudo dá”, desde 1500, os recursos tropicais aparecem aos olhares europeus como oportunidades de bons negócios para atender às demandas do Velho Mundo. Somos os maiores produtores mundiais de café, graças aos agricultores do Sudeste, ou em antigas insistências de produção, como em Apuí, na Amazônia, onde começou a economia cafeeira. Todavia, países como Alemanha, terceiro exportador de café do mundo, sem plantar um cafeeiro, reexporta o café brasileiro, com polpudos lucros, com sua logística competitiva, ou vendendo café em capsulas ou latas, graças a seus investimentos em inovação tecnológica.
Entradas e Bandeiras
No passado Colonial/Imperial, as Entradas, do poder público, tinham a finalidade de expansão territorial e as Bandeiras, privadas, visavam o lucro. Alguns séculos depois, instalada a República, o presidente do Brasil, Washington Luis, afirmava que “governar é construir estradas”. Atualmente, há uma mudança significativa nesta filosofia, paralisando investidores pelo medo de fazer e, pior, tolhidos pela associação entre o ato de empreender e a busca do “se dar bem”. Assim, temos adotado a filosofia do nada fazer, mesmo que isso signifique permanecer subdesenvolvidas. Entre governos e empresas instalou-se a inércia de promover a economia do país, como se ambos estivessem paralisados por um pesadelo, que interessa apenas ao pensamento predador. A cada período econômico nos deparamos com uma encruzilhada da história que nos obriga a construção de um novo cenário. Sem assegurar infraestrutura, porém, não há economia pujante e onde a paralisia predomina, não há riqueza e não há vida. Empreender implica em correr algum risco, com os devidos cálculos, mas o risco é uma parte intrínseca é essencial do processo. De outra forma, seguiremos excluídos da galeria de países desenvolvidos. A propósito, cabe sublinhar que desenvolvimento é oportunidade construtiva para arrecadação de impostos sobre a riqueza gerada, e não como resultado da espoliação da pobreza com mais tributos. A pauta precisa mudar e abandonar o conservadorismo Intelectual, como alertou André Lara Rezende no Valor Econômico de 13/01. Precisamos refletir a respeito, integrar e adensar o coro no concerto e conserto da infraestrutura.
Proteção não é contemplação omissa
A quem interessa o isolamento eterno de uma região como a Amazônia, ativo imensurável de um país que não sabe o que fazer com ela? Alguém faria isso com parte da sua casa? Imagine: isolar o maior quarto para ninguém entrar nele. Ali existe um tesouro, mas ninguém pode tocar. Não parece razoável. Depredar este cômodo também não faria sentido. Qual a razão de não encontrarmos o caminho do meio para desenvolver a Amazônia? Apenas no Amazonas, o maior estado brasileiro, cabe Portugal 17 vezes, com restrições absurdas de aproveitamento de seus negócios. A CPI das ONGs, a propósito, identificou mais de milhares organizações estrangeiras, muitas delas com fachadas missionárias, que aproveitam este patrimônio. A dinâmica econômica global é rápida e voraz. Entre 2014 e 2016 os EUA saíram do Venture Capital para uma política formal de veículos sem motoristas.
BR-319: indicadores da insensatez
No Brasil, de 2005 a 2017 ainda não se conseguiu (re)asfaltar a BR-319 que liga Manaus a Porto Velho, mesmo tendo sido uma estrada operacional da década de 1970 e 1980. Faltam decisões e ações executivas que sinalizam a escolha pelo desenvolvimento. É legítimo o medo da devastação, mas não é legítimo para os interesses do país manter a região isolada. Há um potencial industrial enorme a partir da base da Zona Franca de Manaus e de seu entorno, formado por institutos de pesquisa, universidades, trabalhadores e empreendedores. A quem interessa manter a condição subdesenvolvida e de exploração? Devemos ter a vontade de enfrentar o problema de ausência de infraestrutura no Amazonas, de tal forma que a indústria ali instalada não pereça mais do que tem acontecido ao longo dos últimos anos, pois, mesmo com esta adversidade, é um dos poucos estados superavitários na contribuição de impostos federais. Recolhe mais de três vezes o que recebe dos cofres federais. Segundo estudos da Universidade Federal do Amazonas, em 2015, foram investidos 0,22% do PIB do estado em infraestrutura de transportes. Um número pífio que explica a manutenção da condição pouco competitiva da região. Sem infraestrutura não há desenvolvimento. O Brasil investe – dados da FEA/USP – 0,6% do PIB em infraestrutura enquanto os EUA, que abriram mão de parte de sua indústria para a Ásia, investem 7,7% de seu PIB. A matriz de transporte do Brasil é rodoviária e não há, neste modal, alternativas que conectem o estado aos maiores consumidores do país, por conta da imobilidade decisória no sentido de recuperar a BR-319. Enquanto os EUA de Trump querem ser “grandes de novo”, o sonho do Brasil grande começa no enfrentamento dos gargalos logísticos. Nesta semana, o ministro do Meio Ambiente desembarca em Itacoatiara, Amazonas, onde visita um projeto de Manejo Florestal Sustentável, da empresa PW da Amazônia. Custa R$ 7 000 o contêiner da madeira certificada para entregar em São Paulo e 50% menos para entregar em Rotterdam. Que nos invada a vontade de enfrentar o imbróglio da infraestrutura produtiva e sustentável, para Amazônia, para além do extrativismo e do burocratismo, com a eficiência da inovação.
(*) Publicado no portal Infomoney/Bloomberg. (**) Augusto é PhD em Engenharia de Transportes-UFRJ, empresário, professor da UFAM e Diretor do Centro e Federação das Indústrias do Estado do Amazonas.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected] |
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