Os ingleses, longe de serem amaldiçoados, deveriam receber nossos aplausos pelo pioneirismo da Bioeconomia na floresta. Eles levaram as sementes para os laboratórios de Kew Gardens, no oeste londrino, antes de cultivarem extensivamente nos seringais asiáticos. Fizeram a mimese, ou seja, imitação da natureza que multiplica ativos de acordo com a demanda ambiental. Imitar ou reformar a dinâmica reprodutiva natural é o caminho. Dois eventos marcaram este final de novembro – na pauliceia mais do que nunca desvairada – a procura ansiosa da academia, economia e poder público por entender os estragos que a recessão espalha em todas as direções. Um deles, na USP, sobre o Futuro do Trabalho, e o outro sobre Desenvolvimento com Economia de Baixo Carbono, no INSPER, por caminhos diversos e razões das mais distintas, desembarcaram na Amazônia.
É curiosa a forma com que esta região é tratada na narrativa de todos esses atores. É como se a geografia do Brasil parasse em Minas e, dali para frente – e esta é uma boa notícia –, não dá mais para ficar na desculpa da ignorância. Todo mundo já descobriu, há muito tempo, que chegou a hora de entender o resto do território nacional e continental florestal, a Amazônia. Na procura de achar caminhos ninguém se constrange em reconhecer e validar o agronegócio do Brasil central e, aos poucos, reconhecer que a Bioeconomia guarda múltiplas oportunidades de conservar a Amazônia, adensar e proteger sua floresta e criar alternativas de prosperidade para o país. Em outras palavras, investir na região os recursos de pesquisa e desenvolvimento, gerados pelas indústrias da Zona Franca de Manaus – algo superior ao PIB de vários países do Continente – permitiria desenvolver na floresta uma bioeconomia tão ou mais pujante que o agronegócio, com a vantagem de reduzir drasticamente os danos ambientais de que o acusam, 70% das emissões de carbono do Brasil.
Quarta Revolução Industrial
E a impressão geral – nos debates paulistanos – é que todo mundo andou lendo Indústria 4.0, o texto didático sobre a Quarta Revolução Industrial de Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, publicado somente neste ano no Brasil. Para um país que despencou seus investimentos em ciência, tecnologia e inovação, e que desindustrializa seu parque industrial, essa leitura enche a todos de constrangimento e frustração. Ou, para os altruístas e obstinados em fazer da crise novas oportunidades, o livro mostra que quase tudo por aqui ainda está por fazer. Temos alguns ensaios e muitas narrativas no que se refere às transformações tecnológicas, descritas na obra, e sobre as principais características da nova era, os caminhos e os gargalos que ela representa para o Brasil que esvazia as condições do próprio avanço. A Quarta Revolução Industrial já estava presente nas intuições dos atomistas, na Grécia dos pré-socráticos, quando eles detectaram o movimento como a única instância imutável no universo.
Despertar para os negócios da biodiversidade
Por isso, juntar tecnologia, biologia e inovação já era uma premonição escrita nas estrelas da alegoria teológica. E essa obviedade aparece no debate paulistano como um imperativo de desembarcar na Amazônia, arregaçar as mangas do conhecimento para decifrar os enigmas de suas promessas e respostas. Mais do que nunca esta descoberta pode representar a saída para o Brasil rever seus tropeços, sacudir a poeira de seus percalços, e inaugurar uma nova investida na direção de um futuro que se ensaia nas inquietações da brasilidade constrangida. A quarta revolução, porém, precisa ser sobretudo ética, pois precisará ter claro o conceito e os valores que as mudanças precisam considerar. Para quem serão os benefícios, que impactos causará na humanidade a mudança de paradigmas, os fatores e indicadores de distribuição de oportunidades, como se dará a relação homem e natureza a partir de então? O que precisa assegurar para utilizar sempre, cada descoberta, são os mecanismos de distribuição de seus benefícios. A ordem social é e será sempre a premissa e as condições de viabilidade e crescimento da ordem econômica. E tudo isso, tecnologia, nanobiologia, e engenharia digital precisará sempre resguardar a ordem socioambiental. Daí a hora e a vez da Amazônia. Voltaremos…
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
Comentários