“O Estado do Amazonas não pode continuar refém da capital, onde é gerado 95% do ICMS do Estado, nem de um único modelo de desenvolvimento, precisamos desenvolver novas matrizes econômicas”. Com esta afirmação, o presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), Wilson Périco, iniciou sua palestra no INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, convidado pelo Grupo de Estudos Estratégicos da Amazônia (GEEA). Segundo Périco, hoje o modelo industrial do Estado do Amazonas é focado em três setores, o eletroeletrônico, duas rodas e bens de informática. “Temos apenas quatro produtos que sustentam as atividades socioeconômicas do nosso Estado, e neste momento de crise econômica e política que o país vive a instabilidade se instala na Zona Franca de Manaus. Daí a grande necessidade de reinventar e aprimorar o modelo econômico”, acrescentando que os níveis de produção e consumo tem diminuído muito. “Tudo isso é muito danoso para a economia, sobretudo porque acarreta desemprego em todas as áreas, a começar na indústria”. Por outro lado, lembrou Wilson Périco, novos projetos nascem dentro da UEA, o maior legado que as empresas podem devolver à sociedade, na contrapartida dos incentivos fiscais. “Além dos 120 mil empregos diretos, 600 mil indiretos, as empresas do PIM estavam oferecendo antes da crise, temos orgulho de manter a UEA, que é a maior instituição multicampi do Brasil, presente nos 62 municípios do Amazonas.”. Para ele, nós já temos os instrumentos para promover a virada antes que, mais uma vez, como aconteceu com o Ciclo da Borracha e a ZFM no ciclo de importados, voltemos a chorar as oportunidades perdidas.
Tecnologias inteligentes
Ainda de acordo com Périco, o modelo econômico do Estado precisa se aliar ao senso de preservação, mas sem se deixar levar pelo ambientalismo inflexível. “Precisamos dos recursos da floresta, mas evidentemente devemos utilizar de modo inteligente as boas técnicas de manejo, como fazem os países desenvolvidos, sendo exemplo disso o Canadá”, disse o economista, salientando a importância de desenvolver tecnologias locais e estratégias de aproveitamento dos recursos naturais para desenvolver o interior, ainda totalmente dependente da capital. Ele lembrou a contribuição efetiva dos recursos que a indústria recolhe para Pesquisa & Desenvolvimento, confiscado em aproximadamente 80% nos últimos anos. Qualquer país com um projeto bem desenhado de desenvolvimento já teria promovido uma revolução tecnológica com tantos recursos, mais de R$ 6 bilhões desde 2008. Wilson também convidou a comunidade científica para criar novas modulações econômicas, com sustentabilidade, jamais com intocabilidade. “Chega de proibicionismo inconsequente, precisamos aprender a manejar a floresta para oferecer alternativas de prosperidade para as populações ribeirinhas, reféns de projetos desenhados no estreito mandato de 4 ou 8 anos, projetos de governo, não de Estado”. Com a geração de atividade econômica, ele defende que os recursos de proteção ou compensação de eventuais impactos estão assegurados.
Contribuição robusta
Dentre as discussões da reunião foi colocado por alguns pesquisadores esta questão sobre os investimentos no interior do Amazonas. Wilson Périco explicou que o Governo estadual conta com repasses da Indústria para o desenvolvimento do interior e para o Turismo (FTI). “Além de contar com repasses para o fundo de desenvolvimento das micros e pequenas empresas (FMPES) e também com repasses para o Fundo da Universidade do Estado (UEA),” disse o presidente, acrescentando que a sociedade organizada precisa participar mais ativamente para que a Amazônia possa conquistar de fato o desenvolvimento sustentável. Lembrou que, pelas dimensões continentais do Estado, o Amazonas paga mais caro para formar um aluno que a Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Por isso, a academia e os institutos como parceiros do setor industrial, devem ser mobilizados para aprimorar o a nova matriz econômica. “As universidades e os institutos de pesquisa da Amazônia podem oferecer o conhecimento necessário para desenvolvermos o aproveitamento das vocações de bionegcios da floresta, da silvicultura e das riquezas minerais, novas matrizes econômicas. “Vocês podem discutir e viabilizar as alternativas para minimizar possíveis impactos ambientais e gerar muitas oportunidades”.
Debates produtivos
Como alternativa para o desenvolvimento do interior do Amazonas foi colocado pela pesquisadora do Inpa, Ires Paula a questão do incentivo fiscal para as empresas investirem mais no interior do Amazonas. “Essa questão também é fruto de discussão e elaboração de um plano para o Estado, um plano de Governo para 10, 20, 30 anos para que assim possamos definir quais os níveis de benefícios e incentivos poderiam ser oferecidos”, arrematou o presidente da Cieam. Para o diretor do Inpa, o pesquisador Luiz Renato de França, é preciso planejar a longo prazo. “O Inpa pode participar desta matriz da Zona Franca, mas precisamos focar ainda mais na Amazônia e no país como um todo. Não podemos deixar a ZFM acabar para depois pensar em outro modelo econômico, temos que fazer o modelo de transição agora”, comentou o diretor ressaltando que é preciso diálogo entre o Inpa, Suframa e o Governo, “precisamos discutir várias vertentes e uma delas é nosso instituto continuar tendo condições de fazer investimentos na pesquisa”. No final, Wilson reafirmou o direito de ir e vir com a recuperação da BR-319, rodovia que liga Manaus ao resto do país e o convite de comunhão de todos para encontrar as saídas econômicas e sociais que a região oferece, com inteligência, autonomia e determinação.
Agradecimentos do GEEA
O Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA) é uma iniciativa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA/MCTI), sendo formado por estudiosos de várias áreas do conhecimento e de diversas instituições e que tem como objetivo o debate franco sobre relevantes temas amazônicos. O Secretário-executivo do GEEA, o pesquisador do Inpa Geraldo Mendes, revelou que no próximo ano o Grupo completa dez anos de existência. Na página do GEEA, no Facebook, o professor GERALDO assim se manifestou: “Agradecimento: A todos que compareceram à reunião de hoje, dia 2 de agosto, especialmente ao palestrante Wilson Périco, que deixou um recado contundente e que considero histórico para o GEEA. Agradecimento especial aos debatedores, que aportaram suas ideias de maneira franca, aberta e colaborativa; além disso souberam confrontá-las com ideias distintas, às vezes contrárias, mas sempre num clima respeitoso e solidário que o GEEA vem cultivando com esmero, desde a sua fundação. Agradecimento ao arcebispo de Manaus, dom Sergio Castriani, pela mensagem carinhosa e espiritualizada. Agradecimento aos assessores do INPA (eclético Augusto e atenta jornalista Fernanda), assessores da CIEAM e todos os presentes, solidários na escuta e no acompanhamento das falas. Agradecimento aos que não compareceram, mas tiveram a gentileza de manifestar a respeito do convite. Gratidão aos que tem acompanhado a movimentação do GEEA e às vezes, sem falar, prestam seu apoio na solidariedade intelectual, no silêncio. Gratidão… esse é o sentimento que reina absoluto em nossa alma e com o qual retribuímos a todos que estão conosco nesta caminhada em prol do GEEA e do desenvolvimento da Amazônia”. Em resposta, o presidente Wilson Périco também agradeceu a oportunidade e o privilégio de debater cenários melhores para o Amazonas e toda a região com seleto grupo de cientistas e pensadores.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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