Suspensa a greve, certamente mais uma entre as que virão por aí, temos que repensar direitos e deveres de cada um, dos múltiplos segmentos, de maneira mais ampla e que resguarde o interesse geral. Desta vez a paralisação foi dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil, que prometia riscos de implosão de uma economia já ameaçada pelos reflexos da crise política. Não questionamos que a greve se deu em nome de reivindicações legítimas da categoria, apesar das barganhas equivocadas, temerárias e preocupantes. Por isso, cabe indagar qual é o sentido de prejudicar, nas negociações de direitos, justamente o setor que produz as respostas para as mazelas sociais, entre elas a distribuição capenga de oportunidades e legítimas necessidades, para achar saídas de conflitos setoriais? Prejudica-se, assim, de maneira aloprada, um setor estrutural com prejuízos em todas as direções, incluindo, no médio prazo, o setor em questão.
Qual é o papel do poder público?
E aí cabe perguntar qual o papel do Estado à luz de sua base econômica, das expectativas de mudança do polo industrial da ZFM, sua competitividade decrescente e a gestão/retenção dos recursos que aqui se produz à vista e as necessidades de infraestrutura, do adensamento do segmento industrial, da diversificação e interiorização de suas oportunidades e benefícios? Estas ponderações escondem a ponta do iceberg da fragmentação institucional e da insegurança jurídica e funcional da Zona Franca de Manaus, sua existência e necessidade de resgate legal e revisão operacional. Em outras palavras: qual é o papel do poder público na relação com a economia e com o tecido social, senão mobilizar de forma transparente os atores sociais, ouvir suas demandas e propostas, compreender e administrar os conflitos, para alinhar interesses, corrigir distorções e promover o avanço dos direitos e deveres de cada um. De quebra, cabe repensar de forma transparente e equilibrada, os atuais paradigmas da liderança política e limitada visão de totalidade, exigências vitais que se tornaram escassas e ausentes na gestão do país e dos conflitos da sociedade. Hoje, os governos gastam o melhor de suas energias em embates jurídicos, para provar a coerência ou ausência dela na peleja eleitoral. Está na hora de parar para acertar, dando voz e vez às manifestações de todos que clamam por um novo tempo.
Jornadas desenvolvimento regional
Nesse contexto, salta aos olhos do bom senso a emergência da boa gestão dos fundos repassados pelo setor produtivo, notadamente aqueles mais robustos, repassados pela indústria para o desenvolvimento de novas matrizes econômicas. Estamos, em nível local, concluindo as discussões das Jornadas de Desenvolvimento, em conjunto com a Pasta de Planejamento, e todos os atores locais ligados ao fortalecimento das novas modulações produtivas, para debater, não apenas os gargalos da indústria, dos PPB’s travados, da infraestrutura precária, da burocracia ambiental desvinculada da questão geral, dos nós fundiários, e das novas oportunidades que se impõem com novas cadeias produtivas pré-selecionadas, incluindo a produção de látex, para atender a expansão do polo industrial na produção de pneus, fibras vegetais, como a juta, malva, curauá, guaraná, açaí, feijão de praia, piscicultura, castanha, fármacos, cosméticos e nutracêuticos. A homenagem prestada ao empresário Sérgio Vergueiro, da Fazenda Agropecuária Aruanã, em Itacoatiara, pelo CIEAM, através de seu Conselho Superior, segundo Wilson Périco, presidente da entidade, representa um emblema do futuro, pois repõe os estoques naturais florestais, cria oportunidades e mobiliza a herança de inovação tecnológica que o polo industrial tem desenvolvido.
Rescaldo e reconstrução
Vivemos em clima de rescaldo do modelo, que tem um largo prazo de meio século para se consolidar nos moldes de sua criação e potencialidade de sua atuação. Temos, portanto, que olhar de frente suas fragilidades, distorções e emergência de seus ajustes para encontrar o caminho que queremos para este Estado, está região e nação. Nesse contexto não podemos fechar os olhos para o abandono da economia do interior, a concentração de recursos, mal administrados, na capital enquanto esta cidade, onde as empresas constroem oportunidades, se vê transformada em exportadora de recursos enquanto padece de distorções socioeconômicas sem precedentes. Não podemos, também, seguir omissos na busca de novas diversificações da economia, não das novas matrizes de gestão econômica do grupo político ora afastado do poder. Quando usamos esta expressão, estamos falando em diversificar a economia sem demagogia, sem gastar mais do que se arrecada para evitar aquilo que o jargão popular descreve, de cobrir um santo para descobrir os demais. A proposta que esta entidade propõe, associada aos demais atores do tecido social, é potencializar as vocações regionais de negócios, com as lições de inovação tecnológica consolidadas pelo polo industrial de Manaus e demais segmentos que compõem a roda da economia, para criar com inteligência e sustentabilidade novos negócios na região, a bioeconomia, a gestão das oportunidades do setor mineral, turístico, florestal e cultural. Os escombros urbanos, os baixos parâmetros de desenvolvimento humano na capital e nos municípios da região, não são problemas novos, mas são igualmente antigas a protelação e a indiferença em relação a seu enfrentamento, que traduzem a ausência de prontidão por parte do poder público, a transparência precária da aplicação da riqueza aqui produzida. Por isso, impõem-se um mutirão no atacado sem tirar a atenção do varejo cotidiano do entendimento. Num e noutro, os danos alcançam percentuais inquietantes de perdas irrecuperáveis, que precisamos ajustar. Vamos à luta!!!
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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