Abrigar quase 30% das Unidades de Conservação do Brasil põe o Amazonas no topo do ranking ambiental nacional, com a maior taxa de guarda no banco genético da Hileia. Esta performance tem um preço – quantas toneladas de carbono a floresta retêm por dia? – que não é atrelado na relação direta com a renúncia fiscal, muito menos tivemos competência para exigir contrapartidas globais. E poderia. Esta é uma performance que deixará o país bem na foto da discussão das mudanças climáticas, que ocorrerá em Paris, em dezembro. Ninguém reconhece, porém, que foi o modelo ZFM que amorteceu a pressão sobre a floresta, e se credenciou para buscar opções de expansão econômica e de aumento na qualidade de vida comparativamente a outras intervenções direcionadas pelo próprio governo, responsáveis por desflorestar parte expressiva da Amazônia. Significa que, apesar de todas as dificuldades, com a ZFM, a biodiversidade e mesmo a geodiversidade puderam ser tratadas em bases distintas, menos deletérias ao meio ambiente e contando com unidades de conservação estabelecidas com generosa ampliação. Tudo isso significa que a encomia local tem crédito, espaço, possibilidade e necessidade de gerar novas matrizes de desenvolvimento. Projetos, como o da Silvinita, no Baixo Amazonas, Silves, Itacoatiara, Nova Olinda, entre outras ocorrências, se preparam para a produção de um item do agronegócio que o Brasil importa 85% do volume que o agronegócio demanda: o potássio, e daí os fertilizantes, para gerar novas atividade econômicas conectadas à economia do Polo Industrial de Manaus. Fertilizantes, produção agroindustrial, são parte de um desafio que exige revisão fiscal e vontade política geral. Os 120 mil trabalhadores do PIM, para se ter uma ideia da inter-relação entre os setores, nas três refeições feitas na fábrica, consomem mais de 90% de alimentos produzidos fora do Estado. O volume de recursos, em termos de evasão de receitas, exige por si só uma acurada reflexão.
Arrecadação e revisão de investimentos
A queda de arrecadação do Estado, que começou a preocupar o governo há um ano, provocou um corte em setores vitais da economia, incluindo a produção rural, uma pasta que tem orçamentos historicamente minguados. Os recursos destinados pela indústria para o interior – diga-se de passagem – têm sido usados para outras demandas diferentes de suas metas originais, que o próprio governo já anunciou a intenção de reverter. Esses recursos, quase R$ 1 bilhão em 2014, é preciso sentar e discutir, permitiriam não apenas reverter a evasão de divisas, mas diversificar a economia na direção da produção agrícola, especialmente no setor de alimentos. Já mencionamos aqui os 3,8 mil hectares de castanha e pupunha da Fazenda Aruanã, em Itacoatiara, a 230 quilômetros de Manaus, com um milhão e trezentas mil árvores enxertadas em fase de produção de frutos, sendo um milhão de árvores para produção de madeira, além de 700.000 palmeiras sem espinho, em fase de produção de palmito. De quebra, as pesquisas do Inpa recomendam o aproveitamento dessa biomassa para a produção de cosméticos, fitoterápicos, insumos para diversos segmentos industriais, sem falar na movelaria com design tropical que a Fucapi já se dispôs a desenvolver. As árvores plantadas têm o privilégio do manejo, ou seja, permitem planejar, empreender, diversificar e adensar as atividades econômicas na Velha Serpa, por exemplo, onde além de castanhas e pupunhas, existem um milhão de sumaúmas disponíveis ao abate sustentável da indústria local de laminados de madeira, encerradas pelo olhar vesgo do preservacionismo insano da intocabilidade.
Terra de Índio
Além de potássio, do calcário e quase da amônia – que a indústria do polo gás químico anunciou a Suframa jamais levou adiante, a despeito de ter os recursos da indústria para tal – a região metropolitana de Manaus já reúne as condições necessárias à diversificação e início do processo de interiorização da economia. A Grande Manaus é uma das maiores regiões metropolitanas do Brasil, formada pela união de oito municípios: Manaus, Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru, Novo Airão, Presidente Figueiredo e Rio Preto da Eva. De acordo com estimativas de 2014 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população era de 2.360.491 habitantes[2], fazendo desta a região metropolitana mais populosa do Norte do Brasil e a 11ª mais populosa do país. Além disso, a Região Metropolitana de Manaus é um dos maiores parques industriais da América Latina. Sozinha, representa 60% da população do estado do Amazonas e cerca de 14,89% da população de toda a Região Norte do Brasil. Pesquisas iniciadas pelo Inpa e Embrapa levaram para o laboratório fragmentos de terra encontrados com muita frequência nessa região, chamada historicamente de Terra de Índio, por conta da ocorrência de várias etnias em Manaus e região. Os pesquisadores chamam essa Terra Preta de Biochar, uma espécie de carvão feito a partir da queima, na agricultura milenar indígena ou em laboratório, de materiais e resíduos naturais descartados. O chamado bio-carvão, entre outras funções e benefícios para a agricultura, pode ser utilizado na recuperação de áreas degradadas através da queima controlada de produtos orgânicos – como faziam as etnias amazônicas ao longo de 14 a 20 mil anos de presença na Amazônia – para a fertilização do solo. Faz muita falta não investir os recursos pagos pela indústria para P&D no exercício de suas finalidades.
Pesquisa & Desenvolvimento
Depois de produzido, ainda falando da terra preta ou do Índio, o Biochar é enterrado para a fertilização do solo. Os especialistas ainda analisam quais espécies de plantas podem ser usadas para produzir o Biochar. Os pesquisadores da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas (CPCA) do Inpa, estreitaram recentemente laços de intercâmbio com universidades japonesas para a divulgação do trabalho sobre terra preta, ou Biochar, com o intuito de conhecer as técnicas de produção e uso desse extraordinário fertilizante no Japão e na Amazônia. Os japoneses tem o interesse de conhecer os trabalhos locais com diferentes espécies, diferente temperatura de carbonização. No Japão, o Biochar é produzido em escala, com a mesma configuração química e nutricional da terra preta há 14 anos e vendido do norte ao sul no país. Esta é uma nova tecnologia agrícola dos asiáticos, usando resíduos de carvão, proveniente da palhada de trigo, de arroz, de grãos, a quantidade descartada, usando-os como uma forma de melhorar condições físicas, químicas e biológicas do solo. Ecologia, economia, agronomia e agroindústria se entrelaçam e convidam a indústria para se integrar nessa corrente de colaboração internacional, troca de ideias e troca de conhecimentos. Cerca de 100 empresas fabricam o Biochar no Japão. O Brasil e o próprio Estados Unidos começaram a divulgar há apenas cinco anos. Isso não significa você sair desmatando e queimando do jeito que é feito hoje em dia. Significa pegar os resíduos que estão sendo descartados, subutilizados, resíduos da produção florestal, resíduo da produção agrícola, de restos de animais, de dejetos de animais.
Mais uma greve…
A entidade que representa os auditores fiscais do país, o Sindifisco, já havia decidido decretação de greve antes do entrevero político no Congresso. Num clima político marcado por disputas de grupos e tendências em permanente conflito, a greve seria inevitável. Mais uma. Depois dos estragos da greve da Suframa, com seu rescaldo danoso, a previsão da nova paralisação se configura trágica. A DEN (Direção Executiva Nacional) considera que ficou demonstrado ao parlamento e, também ao Governo, que o grau de insatisfação da Classe é grande e, agora, tende a estourar no que deve ser a maior crise da RFB (Receita Federal do Brasil). O número de Auditores que estiveram na capital federal, somado aos demais que estão envolvidos na mobilização trabalhando nas bases, é uma prova contundente de que a luta pela valorização do cargo não vai parar com a rejeição do DVS. Ou seja, é hora de preparar a defesa das empresas para o que vem por aí.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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