A Web Summit Lisboa 2024 reafirmou que o futuro está na interseção entre tecnologia e sustentabilidade. A Amazônia, com sua biodiversidade e projetos inovadores, mostra que é possível integrar tradição e ciência para construir um amanhã mais equilibrado
Por Alfredo Lopes
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A Web Summit Lisboa 2024 transformou a capital portuguesa no coração da inovação global, destacando a inteligência artificial (IA) e soluções tecnológicas que conciliam avanços científicos e sustentabilidade. Neste cenário, a Amazônia despontou como protagonista ao apresentar projetos inovadores que conectam tecnologia de ponta à conservação ambiental, reafirmando seu papel como fonte de inspiração e liderança em sustentabilidade.
Inovações amazônicas: tecnologia e biodiversidade
Entre os destaques amazônicos, um aplicativo que utiliza IA para identificar espécies de madeira chamou atenção pela precisão em mapear origem e métodos de extração. Esta solução combate o contrabando e apoia práticas de exploração sustentável, integrando ciência e tecnologia na gestão dos recursos florestais.
Outro projeto de impacto foi a criação de painéis de MDF a partir de resíduos do açaí, uma inovação colaborativa entre universidades locais e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Este trabalho não apenas substitui o MDF tradicional por uma alternativa sustentável, mas também agrega valor aos subprodutos regionais, reduzindo desperdícios. Antônio Mesquita, à frente do Centro de Inovação da UEA, lidera iniciativas que integram sustentabilidade e pesquisa aplicada, promovendo o desenvolvimento local.
Destaques globais: integração de sustentabilidade e tecnologia
A Web Summit também trouxe reflexões cruciais sobre questões globais como a descarbonização da aviação. A startup Twelve apresentou combustíveis hidrocarbonetos produzidos a partir do ar, visando voos mais sustentáveis. Inovações como esta dialogam diretamente com os esforços amazônicos em criar soluções que atendam às demandas climáticas.
Além disso, o evento revelou tecnologias disruptivas, como a Powerfoyle, baseada em fotossíntese artificial, que cria células solares eficientes e integráveis em múltiplos produtos. Essas soluções de energia limpa ecoam os valores da Amazônia, que alia biodiversidade e inovação no desenvolvimento sustentável.
Brad Smith, da Microsoft, destacou que a revolução da IA será tão transformadora quanto a eletricidade, enfatizando a necessidade de infraestrutura e acesso equitativo. A Amazônia, ao incorporar IA em soluções sustentáveis, posiciona-se como um laboratório vivo de inovação e um modelo para o mundo.
Empreendedorismo feminino e diversidade: a nova força da Amazônia
A diversidade também brilhou no evento, com exemplos como a Amazon Bioprotein, liderada por Antônia Bezerra. Aos 76 anos, Antônia introduziu suplementos proteicos feitos de cariru, hortaliça típica amazônica, conectando saberes tradicionais com inovação tecnológica. A história de Antônia exemplifica como a Amazônia pode ser um celeiro de ideias transformadoras que promovem inclusão e valorização cultural.
Conheça a história da empreendedora Antonia, de 76 anos, que transformou o cariru em símbolo de força e resiliência no Amazonas
https://exame.com/revista-exame/a-forca-do-cariru
Reconhecimento internacional e o papel da Amazônia
Paddy Cosgrave, CEO do evento, destacou a importância da integração entre tecnologias avançadas e práticas sustentáveis apresentadas pela Amazônia, evidenciando o impacto global desses projetos. Ele elogiou o protagonismo brasileiro e a capacidade da região de alinhar conservação ambiental e desenvolvimento econômico.
No entanto, é essencial reformular a visão comum sobre a Amazônia. Em vez de ser vista como o “pulmão do planeta” — uma analogia biologicamente incorreta, já que florestas maduras emitem tanto gás carbônico quanto absorvem —, ela deve ser reconhecida como uma “fábrica de oxigênio” e um regulador climático global. A floresta amazônica não só contribui para a manutenção da vida no planeta, mas também inspira novas formas de pensar e agir em prol do futuro.
A mensagem final: integração entre ciência, cultura e sustentabilidade
A Web Summit Lisboa 2024 reafirmou que o futuro está na interseção entre tecnologia e sustentabilidade. A Amazônia, com sua biodiversidade e projetos inovadores, mostra que é possível integrar tradição e ciência para construir um amanhã mais equilibrado.
As contribuições apresentadas não apenas promovem o desenvolvimento sustentável, mas também consolidam a Amazônia como um exemplo global de como a preservação pode ser aliada ao avanço econômico. A mensagem central que emerge do evento é clara: o futuro exige um equilíbrio inteligente entre tecnologia, natureza e humanidade.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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