Agência Meteorológica Espanhola descreveu a tempestade causadora das enchentes na Espanha como ‘a mais adversa do século na Comunidade de Valência’
Mais de 220 pessoas morreram e dezenas permanecem desaparecidas após inundações devastadoras na região de Valência, no leste da Espanha. Na última terça (29), chuvas intensas trouxeram um volume de água equivalente a um ano de precipitação em apenas algumas horas, resultando em enchentes severas que deixaram cidades submersas e milhares de pessoas ilhadas. Em algumas localidades, a precipitação chegou a impressionantes 445,4 litros por metro quadrado. Este já é considerado o desastre natural mais mortal na história recente do país, superando enchente mais fatal da Europa desde 1970, quando 209 pessoas morreram na Romênia.
A AEMET, agência estatal de meteorologia, informou nesta sexta-feira (01) que quatro regiões, incluindo Valência, devem manter-se em alerta devido ao risco de novas tempestades. Cerca de mil soldados já se deslocaram para ajudar nas operações de resgate dos desaparecidos e afetados pelo fenômeno, que já superou o número de mortes das graves enchentes no Rio Grande do Sul há alguns meses – 183 no total, segundo dados da Defesa Civil.
O serviço meteorológico espanhol chegou a fazer alertas sobre o temporal, mas o aviso chegou à população por volta das 20h de terça-feira (29), quando as chuvas já estavam em nível crítico. Segundo o jornal britânico The Guardian, milhares de pessoas na Espanha estão sem acesso à energia, água e comida e os locais mais atingidos permanecem inacessíveis.
Fenômeno comum, mas com potencial destrutivo
As fortes chuvas foram acompanhadas por ventos intensos e tornados, consequência de um fenômeno meteorológico conhecido na Espanha como Depressão Isolada em Altos Níveis (Dana). Este fenômeno afeta amplamente o sul e o leste do país, causando chuvas intensas e temporais devido à interação de ar frio em altitude com o ar mais quente e úmido das regiões afetadas, intensificando a formação de tempestades severas.
“Isso gera um ambiente intensamente instável, e é aí que o ar sobe. Rapidamente, isso permite que as nuvens de tempestade realmente voem, com a ajuda e o incentivo dos ventos que atingem áreas mais altas e também sobem. E quanto mais altas as nuvens de tempestade estiverem, mais umidade haverá nelas”, explica o meteorologista Matt Taylor, da BBC.
O termo passou a ser usado para diferenciar esse fenômeno da chamada “gota fria”, um termo mais genérico e se refere ao ar frio que se desprende de uma corrente de jato em altura e desce até camadas inferiores da atmosfera. Ocorre sobretudo na costa mediterrânea da Península Ibérica, durante o outono.
Nem todas as DANAs são destrutivas como a que provocou as enchentes na Espanha esta semana, mas esse potencial aparece justamente quando se misturam com as temperaturas quentes da terra e do oceano. Além disso, ela pode permanecer no mesmo local por dias, segundo a AEMET.
Reflexo das mudanças climáticas
“Sem dúvida alguma, essas chuvas explosivas foram intensificadas pelas mudanças climáticas”, pontua Friederike Otto, da Universidade Imperial College London, no Reino Unido. Ele lidera um grupo internacional de cientistas que tenta entender o papel que o aquecimento global desempenha neste tipo de fenômeno climático extremo.
“A cada fração de grau de aquecimento provocado pelos combustíveis fósseis, a atmosfera pode reter mais umidade, o que leva a pancadas de chuva mais fortes”, completa.
Desastres mais lentos e duradouros – consequentemente, mais catastróficos – também são uma característica influenciada por mudanças climáticas e, especialmente, o aumento da temperatura média global.
Comentários