Seca extrema no Rio Madeira compromete transporte de cargas e pode elevar os custos de produtos agrícolas; entenda as causas e consequências
O Rio Madeira enfrenta uma das piores secas já registradas. Na última sexta-feira (20), o nível do rio atingiu apenas 40 centímetros, uma marca que não era vista desde 1967, quando o rio começou a ser monitorado. Até o momento, o menor nível havia sido de 91 centímetros, registrado em 7 se setembro. O fenômeno climático tem causado sérios impactos na navegação, transporte de cargas e, consequentemente, na economia de Rondônia e estados vizinhos.
Com o nível do rio em patamares críticos, a navegação, especialmente de cargas, foi gravemente afetada. O Porto de Porto Velho, um dos principais pontos de escoamento da produção agrícola da região, já sofre uma queda de 60% nas operações. Além disso, o tempo de transporte, que antes levava de 7 a 8 dias, agora pode se estender até 20 dias, devido à proibição de navegação noturna e ao aumento dos riscos associados à baixa profundidade do rio.
O surgimento de bancos de areia e pedras no leito do rio torna as rotas ainda mais perigosas. Um exemplo desse risco foi o recente acidente de uma balsa carregada com veículos, que colidiu com pedras e ficou parcialmente submersa. A Marinha informou que realiza o monitoramento do nível da água e possíveis acidentes por meio do Plano de Ação da Seca de 2024.
Como resultado da seca, o principal porto de cargas da capital já registrou uma queda de 60% no transporte de granéis sólidos, como milho, soja e fertilizantes. Segundo Fernando César, presidente da Sociedade de Portos e Hidrovias do Estado de Rondônia (Soph), a situação é inédita, uma vez que as embarcações enfrentam visibilidade reduzida pela fumaça das queimadas e precisam desviar constantemente de obstáculos recém-formados, como bancos de areia e pedras.
Nesse sentido, a dificuldade em navegar no Rio Madeira tem um impacto direto no transporte de produtos agrícolas, especialmente milho e soja, principais commodities exportadas pela região. A redução no escoamento desses produtos pode gerar um efeito dominó em toda a cadeia de suprimentos, atrasando entregas e encarecendo os custos logísticos.
Efeitos econômicos
Embora não haja uma escassez imediata de produtos, os consumidores já começam a sentir os impactos indiretos. Os custos de transporte estão aumentando significativamente, uma vez que as embarcações consomem mais combustível e demoram mais tempo para completar os trajetos. Esse aumento nos custos de operação pode resultar em preços mais altos para os consumidores finais, especialmente em produtos agrícolas.
De acordo com César, o cenário é preocupante: “A logística está mais cara, as entregas demoram mais e há um consumo maior de combustível e insumos. É difícil prever o impacto exato nos custos e na economia de Rondônia e Amazonas, mas certamente o consumidor final será afetado”.
Causa da Seca no Rio Madeira
Dois fatores principais estão contribuindo para o recuo drástico das águas do Rio Madeira: o aquecimento anormal do Oceano Atlântico Norte e o fenômeno El Niño. O engenheiro hidrólogo Marcus Suassuna, do Serviço Geológico do Brasil (SGB), explica que o Atlântico Norte, estando mais quente que o Atlântico Sul, altera os padrões de circulação de ventos e umidade, reduzindo a formação de chuvas na Amazônia, conforme destacou o portal O Antagonista.
O El Niño, por sua vez, está atrasando o início da estação chuvosa, agravando a situação da seca. Com menos chuva na região, o nível dos rios, que já vinha caindo, atingiu o patamar histórico de baixa. As mudanças climáticas intensificam esses fenômenos. As florestas e rios da Amazônia estão cada vez mais vulneráveis.
Consequências para o futuro
A seca no Rio Madeira é um reflexo direto das mudanças climáticas globais, e suas consequências podem ir além do impacto econômico imediato. A escassez de água afeta diretamente a biodiversidade da região, comprometendo ecossistemas já fragilizados pelas atividades humanas, como o desmatamento e as queimadas.
Medidas emergenciais para mitigar os efeitos da seca estão sendo discutidas, mas especialistas alertam que, se não houver uma ação coordenada para enfrentar as causas profundas da crise hídrica, o cenário pode se repetir com maior frequência nos próximos anos. As populações ribeirinhas, que dependem do rio para sua subsistência, são as mais vulneráveis aos impactos da seca prolongada.
O que pode ser feito?
A solução para mitigar os efeitos da seca no Rio Madeira passa pela combinação de medidas emergenciais e políticas de longo prazo voltadas para a preservação dos recursos naturais e a adaptação às mudanças climáticas. Ações como a redução do desmatamento e a recuperação de áreas degradadas são essenciais para garantir o ciclo natural das águas na região.
Além disso, investimentos em infraestrutura logística e tecnológica para a navegação em condições adversas podem ser necessários para reduzir os impactos econômicos em momentos de crise hídrica. A longo prazo, a mudança climática exige uma reavaliação profunda de como a Amazônia é manejada e preservada.
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