“A Indústria 4.0 e a diversificação fabril em direção à floresta não são apenas tendências inevitáveis, mas também oportunidades de transformação econômica e social. Para capitalizar esses avanços, é imprescindível investir em educação, inovação e parcerias que promovam o desenvolvimento sustentável e a inclusão social na Amazônia.”
Por Alfredo Lopes e André Ricardo Costa
____________________________________
Na tarde do dia 6 de agosto, um evento significativo reuniu representantes de empresas do Polo Industrial de Manaus, bem como dos setores de educação estadual e municipal, para discutir os resultados de uma pesquisa detalhada sobre as demandas profissionais atuais e futuras do Polo Industrial de Manaus (PIM). Promovido pela Comissão de Recursos Humanos do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM), em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM) e a Associação Brasileira de Recursos Humanos seccional Amazonas (ABRH/AM), o encontro lançou luz sobre as necessidades emergentes em termos de mão de obra qualificada e as expectativas das empresas para a próxima década. Uma demanda gerada pelo conjunto das empresas é a prioridade para talentos, habilidades e capacidades locais.
Premissas e Itens da Investigação
A pesquisa, conduzida por André Ricardo Costa e apresentada com a colaboração de Carla Virginia, revelou insights, no mínimo curiosos, sobre as demandas atuais e futuras do PIM. Garantida pela Reforma Tributária, a indústria da Zona Franca de Manaus já sabe que, até 2073, quando a prorrogação dos incentivos chega ao fim, a diversificação de sua rotina fabril incluirá o aproveitamento sustentável dos recursos naturais e minerais da região. E que essa diversificação, como adensamento, buscará insumos, ativos e bioativos no imenso patrimônio natural da Amazônia, mantendo a floresta em pé e aproveitando com sustentabilidade e inovação tecnológica o Eldorado das miragens europeias. Os principais itens destacados incluem:
- Necessidade de Requalificação: A pesquisa indicou uma necessidade urgente de requalificação da força de trabalho para se adequar às novas exigências tecnológicas. Com o avanço da Indústria 4.0, a automação e a digitalização dos processos produtivos estão transformando as competências necessárias no ambiente industrial.
- Áreas de Maior Demanda: Tecnologia da informação, engenharia e gestão industrial foram identificadas como áreas com maior demanda atual. Essas áreas são fundamentais para a transição onde processos mais automatizados e eficientes.
- Impacto da Diversificação Fabril: A diversificação das atividades industriais em direção à floresta, alinhada aos princípios da bioeconomia, já está no radar, destacando a necessidade de novos perfis profissionais voltados para a exploração sustentável de recursos naturais para o médio e longo prazo.
- Demandas Profissionais Atuais e Futuras: As demandas profissionais identificadas pela pesquisa refletem a evolução do PIM e suas expectativas para a próxima década. Isso significa que a evolução profissional necessária aos novos tempos já está presente nas expectativas, necessidades e providências das empresas.
- Profissionais de Tecnologia da Informação: Com a crescente digitalização, há uma demanda por especialistas em cibersegurança, desenvolvimento de software e análise de dados. Estes profissionais são essenciais para implementar e manter sistemas automatizados e inteligentes.
- Engenheiros: Engenheiros com especialização em automação, mecatrônica e robótica são altamente demandados para projetar, implementar e manter sistemas de produção automatizados.
- Especialistas em Bioeconomia: A diversificação fabril para a exploração sustentável da floresta vai gerar uma necessidade crescente de biólogos, biotecnólogos e engenheiros florestais. Esses profissionais serão essenciais para desenvolver produtos sustentáveis a partir de recursos naturais, sem comprometer o ecossistema amazônico.
Perfis profissionais esperados
- Capacidade de Adaptação: Profissionais flexíveis e capazes de se adaptar rapidamente às mudanças tecnológicas.
- Habilidades Analíticas: Competências em análise de dados e resolução de problemas complexos.
- Conhecimento em Sustentabilidade: Entendimento das práticas sustentáveis e capacidade de aplicar esse conhecimento na exploração de recursos naturais, avaliação da dinâmica do carbono e inventários de ativos ambientais.
Expectativas das Empresas
As empresas do PIM têm expectativas claras para os próximos anos:
- Educação e Capacitação: Espera-se uma maior colaboração com instituições de ensino para desenvolver programas de formação que atendam às novas demandas do mercado.
- Inovação: As empresas estão focadas em inovação contínua para se manterem competitivas no mercado global.
- Sustentabilidade: Há uma ênfase crescente em práticas sustentáveis que sejam capazes de atender às regulamentações, e que possam se colocar verdadeiramente em consonância com os princípios da economia verde.
Demandas e expectativas adicionais
Colaboração com a Educação
A indústria está proativa em colaborar com a educação amazonense, buscando que seus colaboradores e líderes sejam, preferencialmente, amazônidas. Houve um tempo em que a maioria dos cargos de liderança no PIM era ocupada por pessoas de fora do estado. Isso se devia à necessidade dos gestores de RH de viajar para outros estados para encontrar mão de obra qualificada. Esse cenário começou a mudar com o aumento extraordinário nos investimentos, produção e empregabilidade no PIM ao longo dos anos 2000.
Resposta das instituições de ensino
Na primeira pesquisa realizada, identificou-se uma grande necessidade de profissionais nas áreas de elétrica e mecânica. Como resposta, os líderes da pesquisa de 2012 apresentaram os resultados às instituições de ensino, demonstrando a necessidade de ajuste na oferta educacional. Ao longo dos anos 2010, as instituições aumentaram consideravelmente a oferta de cursos técnicos e superiores correlatos ao PIM.
Necessidade de ajustes contínuos
Mesmo com o aumento da oferta educacional, ainda são necessários ajustes para lidar com demandas específicas do PIM, derivadas da maior especialização tecnológica e diversidade setorial. As áreas de automação, elétrica e eletrônica, informática e química são as mais demandadas, tanto em nível técnico quanto superior. Conhecimentos específicos em injeção e extrusão plástica, construção naval e processos gráficos também foram citados como necessidades.
Indústria 4.0 e Bioeconomia
É perceptível a preocupação com as novas profissões demandadas pela Indústria 4.0 e pela bioeconomia. A Indústria 4.0 é caracterizada por automação pura, sendo o cargo mais citado na pesquisa. Embora a bioeconomia não tenha sido expressamente tratada como demanda pontual, entende-se que ela se fará presente com a melhor qualificação dos profissionais, tanto na transversalidade quanto na interdisciplinaridade da qualificação, quando poderão aplicar as melhores práticas produtivas do PIM à bioeconomia e afins.
As entidades promotoras da pesquisa, FIEAM, CIEAM e ABRH-AM, se anteciparam aos novos tempos com a iniciativa. As respectivas Comissões Setoriais das entidades entenderam que essas informações e demandas já circulavam cada vez mais no cotidiano das reuniões, debates e iniciativas conjuntas. A pesquisa, portanto, sistematizou aspirações, intuições e necessidades das empresas. Curiosamente, essa atmosfera já revela a expectativa da segurança jurídica em processo de consolidação da legislação ordinária da Reforma Tributária. Um novo tempo já espalha planos, metas e novas lutas na afirmação, reestruturação e ajustes da indústria da floresta, o Polo Industrial da Zona Franca de Manaus.
Educação é a base
Cabe ainda considerar que, além de buscar realinhar as ofertas das instituições de ensino às demandas do PIM, os líderes da indústria declararam a meta de tornar a nossa indústria competitiva não apenas pelos incentivos fiscais, mas também pela qualidade da mão de obra dos profissionais aqui formados. Isso somente será alcançado com a participação ativa na educação básica, no envolvimento integrado de educadores, investidores e gestores empresariais.
A Indústria 4.0 e a diversificação fabril em direção à floresta não são apenas tendências inevitáveis, mas também oportunidades de transformação econômica e social, a ser conquistada com envolvimento de seus respectivos atores e gestores. Para capitalizar esses avanços, é imprescindível investir em educação, inovação e parcerias que promovam o desenvolvimento sustentável e a inclusão social na Amazônia.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
André Ricardo Costa é Doutor em Administração pela FEA/USP e professor da Ufam
Comentários