O Rio Grande do Sul enfrenta uma das piores tragédias climáticas de sua história, com chuvas contínuas que já resultaram em 24 mortes, 21 desaparecidos e mais de 8 mil desabrigados. Entenda o que a complexa série de anormalidades que causou esse desastre climático e que podem estar sendo cada vez mais normais. Dados para doação no fim da matéria
O estado do Rio Grande do Sul enfrenta uma das suas piores tragédias climáticas devido a uma chuva contínua que já dura mais de uma semana, colocando toda a região em estado de calamidade. Espera-se que essa situação se prolongue nos próximos dias, provocando ainda mais danos. Até o momento, 24 pessoas perderam a vida e várias estão desaparecidas devido às inundações.
Meteorologistas identificam que a catástrofe é causada por uma combinação de ao menos três fenômenos que impactam a área, todos exacerbados pelas mudanças climáticas, e preveem que a situação pode se agravar ainda mais devido a novas previsões de chuvas.
O alerta inicial foi dado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), uma entidade do governo federal, em 26 de abril, prevendo tempestades para várias partes do estado. Desde então, a situação só tem piorado. (Veja a imagem acima)
Contribuição de fatores atmosféricos
Os especialistas apontam que a situação calamitosa é resultado da interação de diversos fatores atmosféricos:
- Presença de um cavado, uma forte corrente de vento que instabiliza o clima na região;
- Um fluxo de umidade originário da Amazônia, que intensifica as chuvas;
- Um bloqueio atmosférico, causado por uma onda de calor, que manteve o clima seco e quente no centro do país, fazendo com que as chuvas ficassem restritas às extremidades.
A região já estava instável há dias, mas a convergência desses elementos intensificou as precipitações. As várias frentes frias que chegaram ao estado não puderam se dissipar devido ao bloqueio atmosférico e, por isso, acabaram impactando de maneira generalizada todo o Rio Grande do Sul, conforme explicado por Fábio Luengo, meteorologista da Climatempo.
Impacto das mudanças climáticas
E você pode se perguntar: o que as mudanças climáticas têm a ver com isso? O aquecimento global da Terra e dos oceanos influencia a atmosfera e intensifica os eventos climáticos.
Luengo esclarece que, embora o Sul do país seja propenso a tempestades nesta época do ano, o que normalmente seria um evento isolado agora se transforma em catástrofe:
“O oceano mais quente, como estamos vendo agora, faz com que seja gerada mais energia para a formação das chuvas. Com isso, elas chegam nesses níveis, que nunca vimos antes. A mudança no padrão do clima interfere na atmosfera e muda o ciclo dos fenômenos que aconteciam, deixando-os mais intensos”, afirma Luengo.
Monitoramento
Marcelo Seluchi, coordenador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), destaca que a interação das condições climáticas atuais pode resultar no maior volume de chuvas já visto na história do Rio Grande do Sul. Estima-se que a situação crítica se prolongue até sábado (4), com previsões de acumulados que podem alcançar até 400 milímetros, adicionando-se aos mais de 300 milímetros já registrados nos últimos quatro dias.
“Estamos diante de um acumulado já muito significativo, que ainda aumentará, pois as chuvas continuarão até o final de semana. É um dos maiores volumes registrados em uma extensão que cobre um estado inteiro, com impactos severos e uma tendência de piora”, relata Marcelo Seluchi.
O Cemaden, vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, é responsável por prever desastres e fornecer informações essenciais à Defesa Civil e ao governo para a adoção de medidas preventivas. Atualmente, o foco dos alertas está tanto no volume excessivo de chuvas quanto no risco de deslizamentos.
De acordo com a Defesa Civil, até o início desta tarde, o balanço é de 24 mortes, 21 desaparecidos e mais de 8 mil desalojados devido aos temporais.
Riscos
Além das chuvas intensas, que saturam o solo aumentando o risco de deslizamentos, a região enfrenta a ameaça de uma microexplosão atmosférica. Esse fenômeno ocorre durante tempestades severas e é caracterizado por uma poderosa corrente de ar que se desprende das nuvens em direção ao solo. O impacto ao atingir o solo pode gerar ventos que excedem 100 km/h.
“Essa é uma preocupação adicional, pois a condição para que ocorra está presente. Durante tempestades fortes, é como se o ar que se desprende da nuvem fosse uma esfera lançada em direção ao solo. Ao não encontrar escape, ela se dissipa no impacto, causando rajadas de vento extremamente intensas”, explica Fábio Luengo, meteorologista.
Rompimento de barragem
Um das últimas novidades rompimento parcial da barragem 14 de Julho, localizada entre Cotiporã e Bento Gonçalves na Serra. O incidente ocorreu na tarde desta quinta-feira (2), conforme confirmado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) nas redes sociais. Apesar de não prever uma devastação imediata, o rompimento da ombreira direita da barragem liberou o curso do Rio Taquari, trazendo preocupações adicionais para a região já afetada pelas chuvas contínuas.
A orientação do governo estadual é que moradores de municípios próximos ao Rio Taquari, como Santa Tereza, Muçum, Roca Sales, Arroio do Meio, Encantado, Colinas e Lajeado, evacuem as áreas de risco e busquem refúgio em regiões mais elevadas. O Rio Taquari alcançou um nível de 31,2 metros nesta quinta-feira, superando o registrado durante a enchente de setembro de 2023.
Para aqueles que não possuem alternativas de moradia, o governo recomenda que busquem informações sobre abrigos públicos, rotas de fuga e pontos seguros junto à Defesa Civil local. A Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) esclareceu que o rompimento ocorreu devido ao aumento contínuo da vazão do Rio das Antas e às intensas chuvas que têm assolado o estado, e confirmou que a Defesa Civil foi prontamente notificada sobre o incidente.
Ajude com uma doação
Dados para doação:
Pix para a conta SOS Rio Grande do Sul
CNPJ: 92.958.800/0001-38
Banco do Estado do Rio Grande do Sul
Atenção: quando realizar a operação, confirme que o nome da conta que aparece é “SOS Rio Grande do Sul” e que o banco é o Banrisul.
Com informações do G1
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