O Grupo Chibatão entregou, neste mês, ao DNIT um estudo sobre como fazer a obra de dragagem na região mais crítica da “hidrovia” do Amazonas. Ele acolheu as recomendações de estudar antes e investiu cerca de R$ 20 milhões no estudo, executando o papel do Governo Federal, que deveria ter sido o autor da investigação. Agora, sabe-se que a obra é a dragagem e onde devem ser feitas as intervenções. O amadorismo e a ignorância reduziram. Será possível fazer a obra mais apropriada
Por Augusto Rocha
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Um rio, por si, não é uma hidrovia. O rio Amazonas, se não for investigado em suas características de hidrovia, mapeado, mantido com obras e entendido em sua complexidade, não será uma hidrovia. O caminho que insistimos na Amazônia é encontrar uma profusão de razões para não fazer nada, incluindo aquelas mais absurdas, tais como “se já vivemos sem isso até aqui, poderemos seguir a viver sem isso”. Este caminho de nada fazer precisa ser transcendido.
A seca de 2023 chamou a atenção para o descaso histórico. Aquele rio exuberante também pode ser uma vítima do aquecimento global. O isolamento da seca não espantou pelos habitantes sem água ou pelos navios interrompidos, mas alarmou pela possibilidade de não ter produtos para a Black Friday ou para o Natal. As interações sobre desabastecimento não foram preocupações com as pessoas. Elas se concentram nas preocupações com o comércio e com a arrecadação.
Isso ajuda a explicar a normalização do fato de o interior do Amazonas ter tantos municípios com um índice baixíssimo de desenvolvimento humano, ao mesmo tempo que é extremamente perigoso não ter produto industrial no final do ano do Sudeste. As inquietações não são pelo desenvolvimento ou pelas pessoas da região. Assim, pela seca, pelo risco de faltar produto, colocou-se luz sobre os riscos associados com a falta de infraestrutura da Amazônia. Fora disto, seguiríamos como sempre.
O Grupo Chibatão entregou, neste mês, ao DNIT um estudo sobre como fazer a obra de dragagem na região mais crítica da “hidrovia” do Amazonas. Ele acolheu as recomendações de estudar antes e investiu cerca de R$ 20 milhões no estudo, executando o papel do Governo Federal, que deveria ter sido o autor da investigação. Agora, sabe-se que a obra é a dragagem e onde devem ser feitas as intervenções. O amadorismo e a ignorância reduziram. Será possível fazer a obra mais apropriada.
A execução será feita em tempo? Será adequada? Só o tempo dirá, mas seguimos, na Amazônia, precisando da iniciativa das pessoas da região. Os papeis institucionais seguem incompletos e isso explica o isolamento eterno. A transcendência da situação dependerá de uma mudança de pauta e de imaginário. O fato de ainda termos mais de 400 mil pessoas sem energia elétrica, em localidades que poderiam ter energia elétrica ou dezenas de municípios com o IDH baixo não inquieta o país. Estamos adormecidos e precisamos acordar.
Talvez precisemos propagar que investigar e desenvolver a Amazônia fará com que o país ganhe dinheiro e proteger a floresta ajudará a combater o aquecimento global. São duas verdades, mas parece que precisamos de mentiras ou de ganhos mais rápidos, afinal o que importa é que não pode faltar produto para o Natal do Sudeste. Esta foi sempre a primeira pergunta de qualquer jornalista nacional sobre a interrupção das cadeias logísticas no ano passado. Veremos como será neste ano
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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