Pesquisadores analisaram oscilações de temperatura e eventos climáticos extremos, constatando que os prejuízos econômicos podem ser 50% maiores do que as estimativas anteriores baseadas apenas em médias anuais. A pesquisa publicada na Nature alerta para a urgência de reduzir as emissões de gases de efeito estufa para mitigar impactos devastadores das mudanças climáticas na economia global.
As emissões de CO2 já presentes na atmosfera são projetadas para reduzir o PIB global em um quinto até 2050, equivalendo a aproximadamente US$ 38 trilhões ou R$ 200 trilhões, conforme revela um estudo publicado na revista Nature nesta quarta-feira (17). Este declínio econômico ocorrerá independentemente dos esforços para diminuir as emissões futuras, conforme indicam os especialistas responsáveis pelo relatório.
Urgência na redução de emissões
Conforme discutido no artigo, é essencial diminuir as emissões de gases de efeito estufa o mais rapidamente possível para evitar prejuízos econômicos ainda mais severos. As previsões até 2100 sugerem perdas financeiras substancialmente maiores, possivelmente alcançando dezenas de trilhões de dólares, se a temperatura do planeta exceder 2º C. Atualmente, a temperatura média da superfície terrestre já é 1,2° C mais alta do que esse limiar. Esse aumento tem exacerbado fenômenos como ondas de calor, secas, inundações e tempestades tropicais, intensificados ainda mais pelo aumento do nível do mar.
Os pesquisadores enfatizam que o investimento necessário anualmente para manter o aquecimento global abaixo de 2°C, principal meta do Acordo de Paris de 2015, representa apenas uma fração dos custos de inação. Permanecer sob este limite “poderia restringir a perda média de rendas regionais a 20%, em comparação com 60%” em um cenário de altas emissões, afirmou Max Kotz, autor principal do estudo e especialista em sistemas complexos do Instituto Potsdam para a Pesquisa do Impacto Climático (PIK).
Desigualdade nos impactos climáticos
Os países tropicais, que majoritariamente terão os maiores prejuízos devido a estes danos climáticos, são destacados no estudo. Anders Levermann, cientista principal do PIK, explica que “espera-se que os países menos responsáveis pela mudança climática sofram uma perda de rendimento 60% maior à dos países de renda mais alta e 40% superior à dos países com as emissões mais elevadas”. Além disso, esses países são os que dispõem de menos recursos para adaptar-se a esses impactos.
Mesmo os países desenvolvidos enfrentarão desafios significativos: projeta-se que o crescimento econômico da Alemanha e dos Estados Unidos diminua em 11% até 2050, e da França em 13%. Estas projeções são baseadas em quatro décadas de dados econômicos e climáticos de 1.600 regiões, fornecendo uma análise mais detalhada que inclui efeitos como chuvas extremas, frequentemente omitidos em estudos anteriores.
Possíveis subestimações
Os especialistas expandiram sua análise ao incluir as oscilações de temperatura, além das médias, e ao considerar os impactos econômicos de eventos climáticos extremos que persistem além do ano de ocorrência. Leonie Wenz, pesquisadora do PIK, destacou que “Ao levar em conta essas variáveis climáticas adicionais, os danos são cerca de 50% maiores do que se incluíssemos apenas as mudanças nas temperaturas médias anuais”, que são a base para a maioria das estimativas anteriores. De acordo com a nova análise, os danos inevitáveis provocarão uma redução de 17% no PIB global até 2050, em comparação com um cenário sem impactos climáticos adicionais após 2020.
Apesar das revisões, Bob Ward, diretor de políticas do Instituto de Pesquisa Grantham sobre Mudança Climática e Meio Ambiente em Londres, suspeita que essas estimativas ainda possam ser conservadoras. Ele comentou que “É provável que subestimem os custos dos impactos da mudança climática“, devido à exclusão de fatores como o aumento do nível do mar, ciclones tropicais mais fortes, desestabilização das camadas de gelo e redução das principais florestas tropicais.
Viabilidade econômica da redução da poluição
Gernot Wagner, economista climático e professor da Escola de Negócios de Columbia, que não participou do estudo, argumentou que a garantia de “trilhões em danos” não elimina a rentabilidade de reduzir a poluição por carbono. Pelo contrário, ele enfatiza que “os custos de agir são uma fração dos custos da mudança climática não mitigada”. O estudo destaca o potencial crescimento do PIB global, que era pouco mais de 100 trilhões de dólares em 2022 (cerca de 521 trilhões de reais na época), prevendo que este valor poderia dobrar até 2050, assumindo que não ocorram impactos climáticos adicionais.
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