Uma pesquisa Datafolha revela que 78% dos brasileiros acreditam no impacto humano sobre o aquecimento global, com a percepção variando conforme idade e educação. O estudo também mostra uma crescente preocupação sobre eventos climáticos extremos, com a maioria prevendo um aumento desses eventos no futuro.
Em território brasileiro, a maior parte da população está ciente do papel humano na crise climática. De acordo com um levantamento recente do Datafolha, divulgado em um domingo (17), cerca de 78% dos brasileiros reconhecem que as atividades humanas são um fator no aquecimento global. Destes, mais da metade (54%) crê que o impacto é significativo.
Por outro lado, 25% dos entrevistados veem esse impacto como menor, enquanto 5% não conseguiram responder. A minoria, representando 17%, nega a contribuição humana no aumento das temperaturas globais.
Consenso científico e evidências
O consenso científico atual indica que as mudanças climáticas são resultantes dos gases de efeito estufa provenientes de atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento. Uma análise abrangente, englobando aproximadamente 90 mil artigos científicos, constatou que mais de 99,9% dos pesquisadores ao redor do globo concordam com essa visão.
A pesquisa do Datafolha foi conduzida face a face, abrangendo 2.004 indivíduos com 16 anos ou mais, distribuídos em 135 cidades brasileiras, realizada em 5 de dezembro. A margem de erro é de dois pontos percentuais, e a pesquisa tem um nível de confiança de 95%.
“Esse dado de 78% é interessante porque revela que o Brasil é um país que sabe que sofre os impactos climáticos. Em outros lugares, não é assim. Um exemplo são os Estados Unidos“, observa Julia Neiva, diretora-adjunta da Conectas Direitos Humanos e responsável pelo programa de defesa dos direitos socioambientais da organização.
“Nos últimos anos, pesquisas comparando os dois países mostraram que o Brasil tem um número bem mais alto de pessoas que entendem que as mudanças climáticas estão acontecendo e que são provocadas e intensificadas pelas ações humanas.”
Negacionismo climático e demografia
O nível de conscientização sobre as causas da crise climática varia significativamente com a idade e o grau de educação formal dos indivíduos. Entre os jovens de 16 a 24 anos, 85% reconhecem a influência humana no aquecimento global, um percentual que diminui para 70% em pessoas com 60 anos ou mais. A percepção sobre a influência humana no clima é ainda mais alta (90%) entre aqueles com ensino superior, caindo para 66% entre os que possuem apenas o ensino fundamental.
O negacionismo climático, que é a recusa em aceitar o consenso científico sobre a crise climática, é mais prevalente entre os mais velhos e menos educados. Cerca de 21% das pessoas com mais de 45 anos e 24% dos que têm apenas o ensino fundamental negam as mudanças climáticas.
A margem de erro da pesquisa varia de acordo com o grupo demográfico, sendo de cinco a seis pontos percentuais para a faixa etária e de três a cinco pontos percentuais para o nível de escolaridade.
Julia Neiva destaca a correlação entre educação e idade na percepção sobre a crise climática. Ela aponta que os mais jovens, beneficiando-se de currículos escolares mais completos e atualizados em educação ambiental, tendem a ter maior consciência sobre o assunto. Neiva observa que a educação ambiental não sempre foi parte integrante do currículo escolar, o que pode explicar a resistência de gerações mais velhas em aceitar informações sobre mudanças climáticas.
Neiva também menciona que indivíduos com maior escolaridade, tendo acesso a informações científicas qualificadas, são menos suscetíveis a fake news e desinformação. Ela enfatiza a importância de diminuir a lacuna no acesso à educação formal no país.
Educação socioambiental e seus efeitos
A diretora-adjunta da Conectas Direitos Humanos sublinha a importância da educação socioambiental na compreensão das interconexões entre clima, acesso à justiça, direitos humanos e a defesa de territórios. Ela exemplifica com a questão do desmatamento no Brasil, destacando a necessidade de proteger as florestas e os povos que nelas habitam e trabalham pela sua preservação.
O Ano Mais Quente e Extremos Climáticos Observados
Este ano, indicado pelo observatório europeu Copernicus como o mais quente em 125 mil anos, foi marcado por uma variedade de extremos climáticos no Brasil. Exemplos incluem deslizamentos em São Paulo, alagamentos no Rio Grande do Sul, seca histórica na Amazônia e incêndios no Pantanal.
A pesquisa Datafolha revela que 64% dos entrevistados acreditam que eventos extremos como estes estão se tornando mais comuns. Dentro deste grupo, 46% percebem que tais eventos ocorrem com frequência cada vez maior, enquanto 18% veem um aumento ligeiro na frequência.
Contrastando, 25% dos participantes da pesquisa pensam que a incidência de eventos climáticos extremos está diminuindo: 12% acreditam que eles ocorrem um pouco menos, e 13% sentem que estão se tornando cada vez menos frequentes.
Além disso, 9% dos entrevistados percebem que a frequência destes eventos permanece constante, e 2% não conseguiram formar uma opinião a respeito.
Expectativas futuras sobre Eventos Climáticos Extremos
Quando questionados sobre a frequência futura desses eventos, a maioria (79%) prevê um aumento, enquanto 6% acreditam que ela permanecerá igual e 12% esperam uma diminuição. Dois por cento não emitiram opinião.
Projeções do IPCC
As projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) sugerem que o aumento da temperatura global levará a eventos climáticos extremos mais intensos e frequentes, incluindo secas, ondas de calor, tempestades e furacões.
Com informações da Folha de São Paulo
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