O Atlas da Violência 2023 revela um aumento alarmante na proporção de pessoas negras assassinadas no Brasil em 2021, destacando também a violência crescente contra grupos vulneráveis como pessoas com deficiência, idosos e a comunidade LGBTQIA+.
O relatório do Atlas da Violência 2023, publicado pelo Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revela um aumento preocupante na proporção de pessoas negras assassinadas no Brasil. Em 2021, esta proporção atingiu o maior nível em 11 anos, com 78,5% das vítimas de homicídio sendo negras, um aumento significativo em comparação com 71,4% em 2011. Notavelmente, a taxa de homicídios entre negros era três vezes maior que entre outras etnias (brancos, amarelos e indígenas).
Segundo a classificação do IBGE, os negros incluem tanto pretos quanto pardos. Esses grupos representam 56% da população brasileira, conforme indicado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. O Atlas da Violência faz uma análise detalhada das vítimas de violência no país, destacando as diferenças entre os grupos populacionais.
Análise dos dados de homicídios
Em 2021, foram registrados 47 mil assassinatos no Brasil. Desses, em 98,3% dos casos foi possível identificar a cor da vítima, sendo 78,5% das vítimas negras. Apesar do número total de assassinatos não ter aumentado proporcionalmente, houve um aumento de 3,7% no número de negros assassinados de 2011 a 2021, enquanto o total de homicídios caiu 9,4% no mesmo período.
A violência tem se mostrado mais direcionada a certos grupos desde 2018, com um aumento da violência contra negros, mulheres e indígenas. O Amapá, Bahia e Rio Grande do Norte apresentam as maiores taxas de homicídios entre negros, enquanto São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais têm as menores. No entanto, estados como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo possuem uma proporção menor de negros entre as vítimas de homicídio.
Violência contra pessoas com deficiência e mulheres
O relatório do Atlas da Violência 2023 aborda também as violências sofridas por pessoas com deficiência, com uma incidência maior entre jovens de 10 a 19 anos. Mulheres com deficiência intelectual são particularmente vulneráveis, com uma taxa de violência significativamente maior que a dos homens. A violência sexual é uma preocupação especialmente para mulheres com deficiência.
Violência contra idosos e variações por idade
A violência contra idosos é outro ponto destacado no estudo, com um aumento alarmante de 170% em registros de violência interpessoal de 2011 a 2021. A negligência e o abandono são particularmente comuns entre os idosos, especialmente na faixa etária de 80 anos ou mais. Idosos negros enfrentam taxas mais altas de morte por agressão em comparação com não negros.
Diferenças na expectativa de vida e violência contra LGBTQIA+
A diferença na expectativa de vida entre homens negros e mulheres não negras é notável, com uma diferença de mais de 10 anos. O relatório também destaca o aumento da violência física e psicológica contra pessoas trans e travestis, com a maioria dos casos registrados em indivíduos de 15 a 29 anos. A população negra representa a maioria entre os diversos grupos de orientação sexual e identidade de gênero.
Ausência de dados sobre agressores e aumento na violência contra indígenas
O Atlas menciona a falta de dados detalhados sobre os perfis dos agressores, bem como sobre a orientação sexual da maioria dos agressores, que são homens. A taxa de homicídios entre indígenas também aumentou em 2021, mas o estudo ressalta a escassez de dados e categorias que elucidem as motivações por trás desses homicídios.
Com informações da Folha de São Paulo
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