A imponente Amazônia, conhecida por sua vastidão e exuberância, enfrenta um período de intensa seca, e os efeitos dessa adversidade são claramente sentidos pelos indígenas de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Amazonas. Essa região, situada em uma das áreas mais protegidas da floresta, vive agora um momento de tensão e escassez.
Nesse contexto, os moradores das áreas urbanas já enfrentam a falta de itens básicos, enquanto no território indígena, o acesso às roças tem sido dificultado pelo baixar dos igarapés. Rosivaldo Miranda, do povo Piratapuya, relata uma sensação perturbadora: “A sensação é que a água está fervendo”.
A Prefeitura de São Gabriel da Cachoeira, ao reconhecer a gravidade da situação, declarou situação de emergência pelo período de 90 dias nas áreas afetadas pela estiagem no último dia 03/10. Uma consequência imediata dessa seca é o avanço das praias de areia branca, trazendo consigo incertezas para aqueles nas áreas urbanas e também nas comunidades indígenas, uma vez que a temporada de seca ainda está no começo.
Sujeira exposta em um dos principais portos de São Gabriel. Seca extrema traz riscos à saúde e ao ambiente 📷 Juliana Albuquerque, povo Baré/Rede Wayuri
Baseando-se no Boletim de Monitoramento Hidrometeorológico da Amazônia Ocidental, emitido pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o prefeito Clóvis Moreira Saldanha assinou o decreto número 21. Este relatório demonstrou níveis preocupantes: na sexta-feira, 6 de outubro, o Rio Negro estava em 602 cm, uma queda significativa em comparação com outubro de 2022, quando se encontrava em 727 cm.
Diante desse cenário desafiador, a prefeitura busca apoio complementar do Estado e da União para enfrentar a seca, citando a superação de sua capacidade orçamentária para lidar com a situação. A esperança é que a Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil possa mobilizar os órgãos necessários para lidar efetivamente com o problema.
Avanço da faixa de areia já impede aproximação até das pequenas embarcações na principal orla de São Gabriel da Cachoeira 📷 Ana Amélia Hamdan/ISA
O reflexo dessa estiagem na economia local é notório. Com o rio secando, a navegação e, consequentemente, o abastecimento da cidade sofrem. As embarcações recreativas, responsáveis pelo transporte de passageiros, cessaram suas operações. As balsas, por outro lado, ainda estão em operação, embora enfrentem desafios consideráveis. Esta situação foi ilustrada pela exposição de resíduos na principal área portuária da cidade, um problema evidenciado e compartilhado pelos comunicadores da Rede Wayuri.
Em paralelo, no território indígena, Juvêncio Cardoso, o Dzoodzo Baniwa, destaca as dificuldades enfrentadas pelas comunidades. A estiagem tem obrigado os moradores a caminharem distâncias maiores para acessar suas roças. Além disso, há uma preocupação crescente com o impacto das altas temperaturas na saúde dos indígenas e no solo cada vez mais seco.
Em Açaí-Paraná, rio Uaupés, moradores furaram poço para encontrar água de beber|Rosivaldo Miranda, povo Piratapuya/Rede Wayuri
Dzoodzo faz eco às vozes dos mais antigos, que recordam secas extremas do passado. “Ainda não chegamos a vivenciar esses momentos do passado, mas a gente não duvida que pode acontecer. É bom que a gente fique em alerta”, alerta ele.
Este cenário, portanto, não só destaca a vulnerabilidade do Amazonas frente às mudanças climáticas, mas também ressalta a urgência de medidas efetivas para apoiar e proteger as comunidades e ecossistemas impactados.
Emergência climática no Amazonas: comunidades indígenas enfrentam seca severa e seus efeitos devastadores
No coração da imensidão da Amazônia, a comunidade de Açaí-Paraná, localizada no Baixo Uaupés, está vivenciando um período de adversidade sem precedentes. Rosivaldo Lima Miranda, do povo Piratapuya, descreve um cenário quase apocalíptico, com temperaturas elevadas e água praticamente imprópria para consumo.
“Devido à seca, a água está fervendo, está bastante quente para beber. Estamos com diarreia e dor de cabeça. E está descendo mais sujeira dos igarapés”, diz Miranda, preocupado. A busca por água potável tem se tornado um desafio, levando a comunidade a cavar poços na tentativa de encontrar água mais limpa para consumo, especialmente para crianças e idosos.
A logística da comunidade também foi fortemente impactada pela seca. Miranda comenta sobre a crescente dificuldade de navegação, que afeta diretamente o comércio e a troca de bens essenciais. “Com a estiagem, os barcos começam a parar a navegação. E é por meio dos barcos que a gente faz as nossas trocas de alimentação para ter o básico, como açúcar, sabão e combustível.”
Dados recentes do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) confirmam o que os moradores da região têm vivenciado. O Amazonas enfrenta uma seca severa, e as projeções não são nada otimistas. Há previsões de que o fenômeno climático El Niño intensifique-se no final de 2023, afetando ainda mais o período chuvoso da região e resultando em anomalias significativas de precipitação em 2024.
As imagens de peixes mortos e leitos de rios completamente secos têm repercutido internacionalmente, gerando preocupações tanto sobre o drama social vivido pelas comunidades quanto sobre os impactos mais amplos da emergência climática no bioma amazônico.
A realidade narrada por Miranda destaca a urgência da situação. “Aqui, no Alto Rio Negro, os bancos de areia estão de fora e temos impacto ambiental com alteração climática. Isso já está acontecendo, é nosso presente. Já não é mais do futuro”, conclui.
O cenário atual exige ações imediatas e coordenadas para aliviar os impactos da seca na região e garantir a sobrevivência e bem-estar das comunidades amazônicas, enquanto se trabalha para entender e mitigar as causas subjacentes dessa crise hídrica sem precedentes.
*Com informações INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL
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