Há décadas, as empresas instaladas na Zona Franca de Manaus alardeiam que protegem a floresta pelo fato de oferecerem milhares de empregos (atualmente 500 mil empregos entre diretos e indiretos, segundo o IBGE/FGV). A Ciência concorda com as premissas mas recomenda outras medidas que, além de confirmar o enunciado, poderiam monetizar os serviços ambientais que daí resultam. Confira as opiniões do cientista Niro Higuchi, 40 anos dedicado à investigação da Dinâmica do Carbono na rotina da rotina da fotossíntese na floresta.
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
Coluna follow-up- O desafio desafio que se coloca para a economia do Amazonas – baseada em compensação tributária para redução das desigualdades regionais – será demonstrar sua efetividade econômica, social e ambiental no próximo governo. Qual a contribuição da Ciência para demonstrar essa equação?
Niro Higuchi – Penso que as indústrias do PIM (Polo industrial de Manaus) se enquadram bem no novo movimento de negócios do mundo, ou seja, empresas que praticam o tripé ESG (meio ambiente, social e governança corporativa). Na área ambiental, essas empresas precisam partir para ações que estimem o tamanho do papel da floresta na manutenção dos serviços ecossistêmicos. O PIM tem-se apoiado no desmatamento relativo em relação aos outros estados amazônicos; daqui para a frente, o foco tem que ser em cima da floresta e suas funções (serviços ecossistêmicos, proteção da biodiversidade, diversificação da economia sempre na perspectiva da sustentabilidade…)
FUp – Os estudos do INPA, sob sua coordenação, sugerem que é possível descrever que as empresas do Polo Industrial de Manaus – por ofertarem empregos e oportunidades de novos negócios – favorecem a proteção florestal e os respectivos créditos de carbono. Isso é fato ou fake?
NIRO – A proteção pode ser facilmente constatada no site do PRODES (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Amazonas é o estado da Amazônia Legal com a menor taxa de desmatamento. Isso não é tudo. A atuação do PIM foi um importante freio para o desmatamento do Amazonas. Além disso, a própria Suframa é responsável por grandes áreas de floresta no Distrito Agropecuário. A manutenção dessas áreas, por si só, garante uma boa pegada (footprint) de carbono. As empresas do PIM precisam começar a focar na sombra (shadow) climática dos seus modelos de negócio. É preciso demonstrar alguma adicionalidade (pesquisa, educação etc.) à área protegida. Isso torna mais efetiva a proteção e é passível de monetização.
FUp – Empresas como a Honda ou Samsung, que geram 6 mil ou mais empregos diretos cada, geram ativos ambientais em sua pegada de carbono?
NIRO – Se essas empresas estiverem protegendo e mantendo florestas, além de gerarem empregos diretos e indiretos, elas estão produzindo ativos ambientais. Com a proteção de florestas, essas empresas estão também melhorando a pegada de carbono delas. No entanto, eu acho que elas poderiam sair da pegada de carbono e começar a trabalhar na sombra climática que elas produzem. Essas empresas poderiam, por exemplo, estudar com profundidade o papel da floresta nas ciclagens de água, carbono e energia e na proteção da biodiversidade. Num processo de educação pelo transbordamento do conhecimento gerado, essas empresas estariam contribuindo, efetivamente, com o Planeta das próximas gerações.
FUp – Desde o ensino fundamental a escola nos ensina o papel da fotossíntese na dinâmica florestal do carbono. Isso nos permite avaliar a importância da floresta em pé para a saúde do planeta?
NIRO – Por meio da fotossíntese, a árvore, como todas as plantas clorofiladas, tem a capacidade de retirar o CO2 da atmosfera e transformá-lo (com a água) em carboidratos ou madeira (celulose, hemicelulose e lignina). Enquanto houver luz solar, a árvore estará realizando a fotossíntese, ou seja, retirando CO2 da atmosfera. A pergunta que deveria ser feita é: para onde iria o CO2 removido pelas árvores? Esta questão é fundamental e precisamos avançar no seu esclarecimento.
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