Modelo de telha hidropônica pode ser usado para cultivo de vegetais, plantas ornamentais e grandes culturas, como feijão e arroz.
A vontade de simplificar e criar novas formas para levar mais verde às construções e cidades foi o que motivou o engenheiro agrônomo Sérgio Rocha a criar a Kaatop, uma telha hidropônica onde é possível cultivar diversas espécies de plantas.
“Se você olhar uma imagem de satélite de qualquer centro urbano, vai perceber que a maior parte do espaço construído é tomado pelos telhados e coberturas – então não dá pra gente pensar em mudar o clima sem mudar os telhados”, diz Rocha em entrevista ao CicloVivo.
O lampejo para a criação da telha hidropônica veio da atuação profissional no desenvolvimento de telhados verdes e jardins suspensos. Há mais de 10 anos trabalhando no ramo, o agrônomo percebeu como as técnicas e sistemas disponíveis no mercado eram difíceis de ganhar espaço nas obras.
“As pessoas têm medo de danos na impermeabilização, de sobrepeso, falhas de drenagem… então pensamos em simplificar essa interface, entre o telhado base e o telhado verde, fazendo disso um único produto, integrado e pronto para instalar e plantar”, conta.
O que é a Kaatop e como funciona
A telha hidropônica é um produto que permite plantar alimentos no próprio telhado, sem precisar instalar jardins sobre a cobertura preexistente. Com ela, é possível cultivar até 20 mudas ornamentais ou agrícolas para cada metro quadrado.
Desenvolvida seguindo os princípios da biomimética, que busca olhar para a natureza para trazer soluções, a Kaatop é basicamente uma telha sanduíche com orifícios, para inserir mudas, e um sistema interno que permite a passagem de mangueiras de gotejamento e distribuição de água interna por capilaridade.
Além disso, a água de irrigação do sistema de hidroponia pode ser recirculada sem perdas de nutrientes para o meio ambiente. E mesmo quando a irrigação está desligada, o design do produto permite a condensação de gotículas a partir da umidade do ar, ou seja, é capaz de produzir água em pequenas quantidades contribuindo para a redução do consumo de água de todo o sistema.
A instalação do produto não requer grandes recursos. O dimensionamento e peso da Kaatop é similar ao das telhas cerâmicas convencionais e, portanto, é preciso ter um madeiramento ou estrutura metálica para dar suporte. A telha em si pode ser empregada como um telhado verde para espécies rústicas, o que não exige irrigação. Agora, se a intenção for usá-la para a produção agrícola ou paisagismo de alto desempenho, é preciso obter também um sistema de irrigação, coleta e recirculação para o cultivo hidropônico.
Projetos realizados
A aplicação da telha hidropônica é versátil. Além do uso no paisagismo (com plantas ornamentais) e agricultura urbana (com culturas como trigo, arroz, feijão, aveia, etc.), durante a pandemia, Rocha praticamente zerou os gastos com vegetais frescos. Isso foi possível usando somente um pequeno painel de cultivo com três telhas (de 3 m2), que rendeu uma produção continuada de alface, rúcula, chicória, cebolinha, pimentas, salsinha, abobrinha, berinjela, beterraba, tomates, pepinos e almeirão.
A telha Kaatop já foi também empregada em um jardim vertical de 175 m2 – onde foi cultivado uma mistura de forrações e espécies ornamentais tropicais – e um telhado verde com 60 m2, usado para produção de arroz.
Em breve no mercado
Desde a apresentação do produto em 2019 e início da produção em março de 2020, a Kaatop teve uma avalanche de interessados no produto, porém a sequência de lockdowns e a crise de fornecimento de matérias primas afetaram as entregas e também levaram a empresa a repensar toda a cadeia de fornecedores. “Foi preciso reinventar o produto para que pudesse ter mais segurança para entrega e maior escalabilidade”, afirma o engenheiro agrônomo.
Em 2021, a startup conseguiu atrair o interesse de grandes investidores do setor e agora está desenvolvendo a industrialização da telha para que a distribuição do produto possa ser feita ao mercado. A Kaatop vai contar primeiramente com uma fábrica no interior de São Paulo, mas já planeja se expandir para Barcelona, na Espanha.
“O lançamento obteve grande atenção internacional e Barcelona é um dos principais hotspots para startups no mundo, está imersa em um ambiente de inovação e transformação ecológica”, explica Rocha, que atualmente atua com uma empresa espanhola para montagem e distribuição das telhas na Europa.
O engenheiro revela que os primeiros lotes devem estar prontos para o mercado no segundo trimestre de 2023. O novo design irá passar por mais uma bateria de testes de desempenho junto ao IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), de São Paulo, e a expectativa é realizar as primeiras instalações dos modelos beta no primeiro trimestre. Já na Europa, ele busca o selo CE (registro para vender o produto na União Europeia) e espera que a Kaatop esteja pronta para exportação até o final de 2023.
Esverdeando as cidades
O engenheiro explica que há muito espaço para crescer no setor. Segundo ele, são 20 bilhões de metros quadrados de telhados convencionais, secos e áridos, sendo instalados anualmente no mundo. “É um setor que movimenta mais de US$ 90 bilhões por ano e que contribui para o aumento do aquecimento global. Os telhados verdes convencionais representam menos de um milésimo deste mercado”.
Com mais da metade da população mundial vivendo em áreas urbanas – e uma estimativa que esta proporção aumente para 70% até 2050 – repensar os padrões de construção e a produção de alimentos é crucial. “Nosso produto é uma ferramenta para que as pessoas possam contribuir na remediação de grandes problemas atuais, como as ilhas de calor, custo energético, escassez de alimentos frescos… enfim, para que possamos nos adaptar ao novo mundo que se aproxima”, conclui.
Fonte: CicloVivo
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