A maioria dos entrevistados, 65%, considerou que a proteção da Amazônia é importante para o desenvolvimento econômico do Brasil, contra 19% que não a consideram importante.
Pesquisa encomendada pelo Instituto Clima e Sociedade ao PoderData feita com 3 mil eleitores de todo o país mostra que para 65% deles o governo federal não está trabalhando para combater a grilagem, o tráfico de drogas, a exploração ilegal de madeira e outros crimes na Amazônia.
Os resultados revelam que oito em cada dez eleitores esperam do próximo presidente medidas urgentes de combate à violência na região. Os presidenciáveis, para 81% dos entrevistados, devem ter a proteção da Floresta Amazônica entre as prioridades.
A pesquisa detectou um aumento dos que querem ver a proteção da Amazônia entre as prioridades dos candidatos a presidente. No levantamento anterior, de 3 a 5 de junho, o índice era de 76%.
A maior parcela, 49%, considerou ruim ou péssima a atuação do governo federal na proteção da Floresta, um ponto percentual a mais do que na pesquisa anterior. O índice dos que consideram essa atuação ótima ou boa caiu de 19% para 15%. Na região Norte, o governo tem o menor índice de ótimo e bom na proteção da floresta, apenas 7%, e o maior índice de ruim e péssimo: 45%.
O tráfico de drogas foi indicado por 39% dos participantes como o crime que mais prejudica a floresta e as populações. Em seguida aparecem a grilagem de terras, com 17%, e o garimpo ilegal, com 13%. A corrupção (9%), a exploração ilegal de madeira (8%) e o tráfico de animais (4%) também foram destacados.
As perguntas sobre violência foram incluídas na série de pesquisas após os assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira.
A pior avaliação do desempenho do governo no combate à violência na Amazônia foi detectada nos estados da região Norte: 69% disseram que o governo não está trabalhando para combater crimes na região, contra 9% de avaliação positiva.
Para o sociólogo Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a percepção da maioria, especialmente dos moradores da Amazônia, é de que o Estado brasileiro está sem o controle da região, sem conseguir controlar a criminalidade.
Do total de entrevistados, 7% são de moradores da região Norte, 27% do Nordeste, 8% do Centro-Oeste, 15% do Sul e 43% do Sudeste,
Violência letal na Amazônia
A edição 2022 do Anuário do Fórum de Segurança Pública, informa Renato Lima, apontou que a violência letal da Amazônia foi 38% superior às demais regiões. “São mais de 20 organizações criminosas regionais e duas nacionais disputando as rotas de armas e drogas”, disse Renato.
“Qualquer projeto de desenvolvimento para a Amazônia deve considerar a necessidade de recuperar os territórios das mãos das facções e milícias, prevenir a violência e enfrentar o crime, o que, para a população, não está sendo feito pelo governo. Assim, não há investimento socioambiental que dê conta”, acrescentou.
Imagem no exterior
Cresceu também, em relação à pesquisa anterior, o índice dos que acham a preservação da floresta “muito importante” para a imagem do Brasil no exterior: de 41% para 44%. Foram de 25% para 29% os que consideram “mais ou menos importante”. O “pouco importante” se manteve em 12%, e o “não tem importância” oscilou de 9% para 8%.
A maioria dos entrevistados, 65%, considerou que a proteção da Amazônia é importante para o desenvolvimento econômico do Brasil, contra 19% que não a consideram importante.
Três pensamentos foram apresentados aos entrevistados. O mais votado, por 64%, diz que “o desenvolvimento do Brasil depende da proteção da Amazônia”. Em seguida, com 21%, aparece a frase “para o Brasil se desenvolver, proteger a Amazônia não é uma prioridade”. A menos cotada, com 5% das respostas, diz que “o Brasil consegue se desenvolver mesmo sem proteger a Amazônia”.
Modelo de desenvolvimento
Para Marilene Corrêa, doutora em Ciências Sociais pela Unicamp e coordenadora do Laboratório de Estudos Interdisciplinares da Amazônia na Universidade Federal do Amazonas, a pesquisa enterra a ilusão de que a Amazônia poderia copiar os modelos de industrialização, urbanização e agricultura intensiva de outras regiões.
“Esses modelos fracassaram aqui na Amazônia por incompreensão da relação entre natureza e cultura. As cidades se tornaram precárias, e a transformação da floresta em pasto não gerou empregabilidade. Esses modelos fracassados ampliaram a agressão aos povos da Amazônia, as principais vítimas da desigualdade e da violência”, disse.
Marilene afirma que a pecuária, garimpo, soja e contaminação dos rios agridem a floresta e não se tornam fonte de desenvolvimento.
“Após tantas frustrações, a proteção da floresta precisa se impor à agenda do desenvolvimento, com aproveitamento inteligente dos recursos naturais”, defendeu.
Ela destaca a preocupação com o crescimento do crime. Para Marilene, o modelo predador e a falta de mecanismos de comando e controle “estimularam as forças primitivas de acumulação de riqueza, que não usam a tecnologia nem a sabedoria tradicional, só a força para saquear e matar.”
“A Amazônia poderia ser um enorme laboratório de desenvolvimento sustentável, com três grandes focos de riqueza: água, floresta e alimentos. Temos muitos peixes e fontes inesgotáveis de riquezas como fungos, enzimas, extratos à espera de programas científicos de longo alcance que movimentem a bioeconomia, a bioindústria e a biotecnologia”, pontuou.
Confira os resultados da pesquisa AQUI.
Fonte: Amazonas Atual
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