Vamos realmente explorar as potencialidades? Queremos isso? Afinal, existem potencialidades dentro da realidade? Muitas perguntas sem respostas, ao mesmo tempo em que faltam as perguntas sobram respostas que apontam para o passado. Por isso estamos como estamos.
Por Augusto César Rocha
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Começar uma reflexão por uma pergunta é uma prática frequente no pensamento científico. As perguntas movem a construção do futuro, pois elas norteiam as inquietações e caminhos, como analisou Hal Gregersen. A pergunta colocada possui sentido apenas se for percebida alguma potencialidade. Se o olhar for para o passado agrário e escravocrata, a investigação da resposta será neste contexto.
Se o respondente refletir pela alta tecnologia, a busca das potencialidades será por este outro contexto. Tudo depende de quem pergunta, de quem responde e de qual o propósito da deliberação.
A questão é que se não sabemos as potencialidades, as discussões sobre como “explorar as potencialidades regionais” seguirão num debate estéril ou meramente intelectual. O que temos de potencialidades na Amazônia? Desde madeira, agricultura, minerais, para pensamentos reducionistas e de dependência, até para enormes fontes de tecnologias construtoras e influenciadoras do futuro num outro extremo. No meio há uma variedade enorme de oportunidades. Quanto mais riqueza, mais pessoas para atrapalhar ou para roubar.
Assim, não fazer nada é sempre mais confortável, em especial para quem está bem ou se considera bem. Assim, um ribeirinho que se sinta confortável sem uma geladeira, estará em um mundo tão agradável quanto o filósofo em meio à uma biblioteca ou um operador do mercado financeiro que ganhou milhões em uma transação poucos instantes atrás.
Ficamos repetindo em uma discussão sem fim sobre a interiorização do desenvolvimento ou sobre as oportunidades para a Amazônia, mas sempre me pergunto se há realmente interesse nesta transformação. A quem interessa? Interessa? Se para nós não é algo interessante e estamos conformados com isto, para que transformar? Precisamos de estratégia apenas quando queremos mudar. Se não queremos mudar, toda a discussão se torna inútil.
Temos potencial para o turismo? Será? Ou será um “otimismo cruel”, como analisado por Lauren Berlant. Se nem nós – que somos daqui – apreciamos ou conseguimos realmente realizar este turismo, por qual razão algum estrangeiro apreciaria? O desafio do turismo interno é inicialmente capturar o turista local. Ainda estamos longe disto. Vamos realmente explorar as potencialidades? Queremos isso? Afinal, existem potencialidades dentro da realidade? Muitas perguntas sem respostas, ao mesmo tempo em que faltam as perguntas sobram respostas que apontam para o passado. Por isso estamos como estamos.
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