A pressão do governo e do Congresso Nacional sobre a Petrobras e os importadores de diesel para reduzir o preço do combustível no mercado doméstico pode não surtir o efeito desejado. Nos últimos dias, a ofensiva se intensificou depois de uma nova mudança no comando da petroleira, que abre a possibilidade de alterações em sua política de preços, e a aprovação pela Câmara de um projeto de lei que limita a cobrança de ICMS dos estados sobre os combustíveis em 17%.
No Valor, Taís Hirata conversou com um executivo de uma das maiores distribuidoras de combustível do Brasil, sobre os efeitos potenciais dessa movimentação no mercado. Para ele, o risco de um desabastecimento existe, especialmente se o governo forçar um preço doméstico muito mais baixo do que o praticado no mercado internacional. Ainda assim, se isso não for forçado, o cenário mais provável é de uma nova alta no preço do diesel, mesmo com a redução dos impostos.
Essa é a pior possibilidade para o presidente da República, que não esconde o medo de que o encarecimento contínuo dos combustíveis coloque a lápide em suas chances de reeleição em outubro. Nesta 2ª feira (30/5), ele voltou a atacar a Petrobras, dizendo que um novo reajuste dos preços pode “quebrar o Brasil” e que o governo busca maneiras legais, “sem interferir” na empresa, para baixar o preço dos combustíveis.
De fato, o presidente tem motivos para temer. Como a Bloomberg assinalou, o consumidor brasileiro é quem mais paga hoje para encher o tanque na América Latina. Em média, os brasileiros gastam cerca de R$ 400 para abastecer um tanque com capacidade de 55 litros – ou seja, quase ⅓ do valor do salário mínimo atual (R$ 1.212) é gasto com combustíveis. Para efeito de comparação, em relação à renda média nacional, os motoristas dos EUA gastam cerca de 6% de seu salário para fazer o mesmo. O Valor também destacou esses dados.
Enquanto isso, os produtores de biodiesel tentam sensibilizar o governo federal para aumentar o volume do combustível na mistura com o diesel fóssil. Hoje, esse percentual está em 10%, mas empresas do setor entendem que isso pode aumentar para pelo menos 13%, aproveitando um combustível renovável de fabricação doméstica e, consequentemente, diminuindo a necessidade de diesel tradicional importado. Como o Valor observou, o setor ainda não digeriu nem os cortes sucessivos na mistura: pelo cronograma original, o teor de adição era para estar em 14% agora e, depois, 15% a partir de março de 2023. No entanto, o governo alegou que a alta no preço da soja afetaria o preço final aos consumidores, adiando essa mudança.
Fonte: Clima INFO
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