Políticas Públicas são feitas com leis, ações, omissões, pessoas e dinheiro. Pode existir um discurso “vou apoiar a Zona Franca”, mas na prática existirem leis que são contrárias. Pode existir um discurso “sou favorável ao Brasil”, mas na prática as omissões beneficiam estrangeiros. Pode existir um discurso “sou favorável à soberania do Brasil na floresta”, mas na prática retira-se orçamento das pesquisas nacionais sobre a floresta.
Por Augusto Rocha
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A superficialidade norteia a discussão pública desde sempre, com ou sem as redes sociais. Os debates mais profundos, serenos ou não, tendem a ser realizados em salas fechadas, entre não especialistas e especialistas, com diferentes correntes de pensamento, quando democráticas, ou com uma única visão, quando não democráticas. Assim, são formuladas as políticas públicas. Fora dos lugares onde há o poder, há frequentemente a esperança inútil de uma visão sem ideologias, pura ou sem amarras.
A isenção é inviável. Tipicamente o que chamamos de “bom senso” ou “visão isenta” é aquilo no que acreditamos, como analisou Descartes séculos atrás. Os outros, possuem o “mau senso” ou “um pensamento enviesado”. Sem ter este contexto em mente, fica difícil transformar debates em políticas e políticas em ações. O bom da democracia é que os debates são públicos, para emergir os interesses e os propósitos das políticas, mas isso é trabalhoso e lento. O bom seria terceirizar tudo com “iluminados e isentos”, mas isso é outra esperança inútil.
Há muito ruído para enganar ou dissuadir do que realmente interessa. Quem não compreende esta questão termina possuindo visões que não são necessariamente suas ou, muito pior, passa a defender, com fervor exagerado, as visões que são contrárias ao seu próprio interesse. Muitas das discussões locais sobre a Amazônia deveriam começar com esta introdução, para desarmar os debatedores.
Quem vai dizer o que fazer na região? Quem comanda? Estrangeiros, brasileiros do Sudeste, Locais ou uma deliberação ampla? O resultado vai visar apenas interesses locais? Nacionais? Globais? Temos um papel no mundo e interagimos com o mundo? Queremos mercados globais ou vamos ficar restritos aos ambientes locais? Vamos ser eternas colônias ou vamos sair desta condição? Vamos enfrentar os inimigos reais ou vamos criar inimigos invisíveis e inexistentes para depois defender uma pauta bem visível e desinteressante para nós mesmos?
Políticas Públicas são feitas com leis, ações, omissões, pessoas e dinheiro. Pode existir um discurso “vou apoiar a Zona Franca”, mas na prática existirem leis que são contrárias. Pode existir um discurso “sou favorável ao Brasil”, mas na prática as omissões beneficiam estrangeiros. Pode existir um discurso “sou favorável à soberania do Brasil na floresta”, mas na prática retira-se orçamento das pesquisas nacionais sobre a floresta. Tudo isso pode ser chamado de dissonância ou de ressonância, depende muito dos interesses particulares de cada um.
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