”…em quase 30 anos e depois de um estado de Mato Grosso do Sul inteiro desmatado, a prosperidade não ocorreu para os amazônidas em geral.”
Juarez Baldoino da Costa
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Nos 2 primeiros anos de cada governo brasileiro desde 1995, o período de Lula, nos anos de 2003 e 2004, é o primeiro colocado em quantidade de desmatamento da Amazônia com 53.168 Km². FHC – Fernando Henrique Cardoso vem em segundo lugar com 47.220 Km² no governo de 1995 a 1996, e em seus segundos mandatos, FHC e Lula ocupam ainda o 3° e 4° lugares. Jair Bolsonaro, nos 2 primeiros anos, fica em 5° lugar, com 20.980 Km².
O primeiro governo Dilma Rousseff foi o que menos apresentou desmate nos 2 primeiros anos, com 10.989 Km². Os dados estão no site do INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Nestes 26 anos até 2020 foram desmatados 350.000 Km², e somando os 13.000 Km² somente de 2021 até outubro, já o maior em 17 anos, se chega a 363.000 Km², área maior do que todo o estado do Mato Grosso do Sul; não é pouco.
Considere-se ainda que esta área já não é mais Amazônia, exceto pelo endereço, e que lá não caberia mais a famosa e brasileiríssima expressão militar Selva!!!
Neste período quem tomou a iniciativa foi a atividade civil, em boa parte à revelia do Estado, embora haja sempre iniciativas institucionais louváveis e até com algum resultado, mesmo que ainda modestos, principalmente em razão da estrutura precária do aparato público e de recursos insuficientes.
Por isso, pode-se dizer então, no dito popular, que a Amazônia segue ao “Deus dará”, e em cada momento de sua história há uma narrativa tentando justificar as ações ou inações, como, entre outras: ora ampliar pastagens ora restringi-las, considerar importantes os rios voadores ou desconsiderar que eles existam, plantar ou não plantar mais soja, considerar benéficos os efeitos climáticos da floresta ou considerá-los como inexistentes, permitir a mineração pelas multinacionais ou não minerar, negociar o carbono ou impedir que esta prática permita a continuidade da geração da poluição por quem quiser pagar para poluir, pesquisar a floresta cujos resultados são de médio ou longo prazo ou ao invés disto queimá-la para virar dinheiro mais rapidamente, ampliar ou reduzir os territórios indígenas, construir barragens ou evitar sua construção, ampliar o garimpo ou restringi-lo, integrar para não entregar ou não integrar para não desintegrar, dar ouvidos ao blá, blá, blá internacional e ao agro brasileiro e com isto potencializar a marca Amazônia ou assumir o blé, blé, blé nacional e mandar madeira abaixo e rasgar estradas mil, e que a marca Amazônia seja o que Deus quiser?
Esta situação não se confunde com ações de comando militar.
O espaço dos 363.000 Km² foi ocupado com atividade econômica, legal e ilegal, e gerou inegavelmente riqueza, lícita e ilícita; ambientalmente não faz diferença. Esta dinâmica tem mecanismos próprios e não tem sido interrompida independentemente dos governos vigentes.
Embora tenha havido geração de riqueza, é também inegável que em quase 30 anos e depois de um estado do Mato Grosso do Sul inteiro desmatado, a prosperidade não ocorreu para os amazônidas em geral, tanto que os indicadores de pobreza generalizada da região são os piores do Brasil segundo tem sido divulgado pelo IBGE.
As atividades de agropecuária e mineração têm até apresentado bons resultados, mas o sistema gera automática e inevitável concentração de renda, derivada natural do modelo capitalista.
Os fatos e os números demonstram que este caminho não produziu bons resultados para distribuir o desenvolvimento. É preciso buscar o sentido de continuar nele.
Os governos ditos de esquerda patrocinaram tanto os maiores desmates quanto os menores, e o governo atual dito de direita aponta também para números entre os mais elevados. Estes fatos indicam que a ideologia está longe da cobiçada Amazônia.
O que permitirá ao Brasil fortalecer o atual e frágil controle da região, é decidir quanto de floresta o país deseja ter e em que data.
Sem ter resposta a esta questão entendo que não há base para planejar.
A União Europeia e seus aliados vão continuar tentando decidir o que o Brasil não decide.
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