Em audiência da Comissão de Meio Ambiente da Câmara, Marcelo Freire, um dos secretários do MMA, disse que o governo irá à Glasgow disposto a fechar o acordo sobre a regulamentação do Artigo 6 do Acordo de Paris, o artigo que trata de iniciativas de mercado de carbono.
O anúncio não detalhou se haverá mudanças nas posições dos negociadores brasileiros, que, nos últimos anos, emperraram um acordo. Pelo que contam os noticiários da Câmara e da Agência Brasil, a audiência contou com a presença de gente do ministério da agricultura. A narrativa oficial segue sendo a mesma: o país tem um enorme potencial de geração de créditos de carbono para ganhar o mercado internacional.
A esse respeito, Plínio Ribeiro, da Biofílica, em entrevista dada à Exame, diz enxergar o mercado internacional em momento de grande expansão, devendo crescer 15 vezes até 2030 e chegar a negociar 13 bilhões de toneladas até 2050. A título de referência, anualmente, o Brasil emite por volta de 2 bilhões de toneladas.
Em evento realizado na semana passada, o setor elétrico discutiu a precificação das emissões. Segundo a epbr, o representante do ministério da economia já havia descartado a tributação das emissões em um encontro anterior. Recuperando a frase do final da ditadura, qualquer tentativa de cobrar pelas emissões fósseis do setor terá que ser bem lenta e bem gradual com segurança por todos os lados. O recado do IPCC quanto à urgência e ao tamanho dos cortes nas emissões globais não entrou na sala.
Em tempo 1: Uma firma finlandesa que atua no mercado de carbono soltou um relatório pedindo para o mercado ser mais sério, posto que os standards internacionais estão fundamentalmente furados. 90% dos projetos que eles avaliaram não passam pelos seus critérios. “As razões variam, mas são todas igualmente alarmantes. Alguns projetos não podem ser considerados adicionais, outros têm sérios riscos de permanência. Alguns têm linhas de base não confiáveis, porque se supõe que o desmatamento está em grande parte inflacionado. E preocupa que muitos projetos também causam graves violações dos Direitos Humanos.”
Em tempo 2: Um artigo publicado na Bloomberg desconstrói as tentativas do setor fóssil de vender a ideia de “combustíveis carbono neutro”. Essa estranha combinação se baseia em compensar as emissões da queima dos fósseis, plantando ou preservando florestas, principalmente no Sul Global. O exemplo citado fica na fronteira entre Zimbabwe e Moçambique, onde o pessoal trabalha para evitar que incêndios florestais destruam a mata local. Técnicos da francesa Total fizeram contas de quanto carbono estariam evitando e usaram o volume para compensar um carregamento de gás natural. Um especialista do mercado de carbono, Renat Heuberger, da SouthPole, não acredita que proteger florestas compensem as emissões fósseis: “É um disparate tão óbvio. Até minha filha de 9 anos entende que não é esse o caso. Está-se queimando combustíveis fósseis gerando emissões CO₂”.
Fonte: ClimaInfo
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