“É natural que o resultado não seja o mesmo. Enquanto não houver esforço concentrado em poucas áreas, com um olhar sobre toda a cadeia de produção científica, será pouco provável que o tripé ciência, tecnologia e inovação comece a florescer. Será muito mais plausível ver atividades ilegais e o espraiamento da fumaça.”
Augusto César Barreto Rocha
_______________________________
Quem exerce o poder aprecia impor as suas verdades, sem ligar muito se são ou não afirmações que possuem sustentação científica, moral ou simplesmente “se para de pé”. Em uma civilização contemporânea onde não existam guerras, espera-se o compartilhamento de mínimas verdades para que a prosperidade surja na união de alguns objetivos comuns. Contudo, quando não se quer a união, a necessidade de compartilhamento de verdades fica esvaziada.
Entender as oportunidades com a floresta Amazônica protegida envolve um esforço grande. Usar seus recursos com responsabilidade, envolverá um esforço ainda maior. Será que esta verdade interessa, quando não se tem a ciência como um Norte? É pouco provável. O Brasil tem alocado recursos para investimento na economia da Amazônia, mesmo que em proporções insignificantes frente ao desafio. O problema é que ele vem isolado, para propósitos pontuais e sem integrar amplamente as cadeias produtivas, de ponta a ponta.
Criar uma economia a partir da vida da Amazônia será um esforço de longo prazo para algumas atividades, como seria natural. Isso não combina com a pressa da era da Internet e dos cliques no WhatsApp, pois o tempo da ciência básica é outro, uma vez que, quanto mais próximo do desconhecimento, maior será o prazo para ter algum fruto expressivo para geração de impacto no PIB. Para uma reflexão mínima, todo o orçamento brasileiro para Ciência e Tecnologia na Lei Orçamentária Anual de 2021 é de R$ 10,4 bilhões e apenas R$ 2,8 bilhões para investimentos, em todo o país. Mesmo o FNDCT, que seria um recurso “a parte” foi contingenciado em 90% dos seus R$ 5,3 bilhões.
Como elemento de comparação, no seu último relatório de acionistas, a Pfizer, declara ter dispendido US$ 9.4 bilhões em Pesquisa & Desenvolvimento, de um faturamento de US$ 41.9 bilhões, com seus 78.500 funcionários e 43 fábricas. Talvez um dos caminhos para viabilizar bionegócios na região até envolva a atração de empresas como esta ou deste setor. Acontece, que não conseguimos ter sequer uma política para indicar quais os setores são prioritários na região. Garimpo ou madeira é o que apregoam os faróis do passado. Por outro lado, existem programas para fomentar negócios na região usando mais ciência, tecnologia e inovação.
Consigo ver que, com este recurso, que supera em muito qualquer valor pensado pelo Brasil para investir em ciência, a Pfizer se concentra em seis áreas terapêuticas e 95 projetos de pesquisa clínica. E só. E por aqui? Bem, por aqui pulverizamos recursos muito menores em muito mais áreas, duplicando esforços, sem focar em nada. É natural que o resultado não seja o mesmo. Enquanto não houver esforço concentrado em poucas áreas, com um olhar sobre toda a cadeia de produção científica, será pouco provável que o tripé ciência, tecnologia e inovação comece a florescer. Será muito mais plausível ver atividades ilegais e o espraiamento da fumaça.
Comentários