Karl Polanyi, que analisou a Grande Transformação do capitalismo nos EE.UU. e na Suécia, a partir da crise de 1929, concluiu que: “A crença no progresso espontâneo pode cegar-nos quanto ao papel do governo na vida econômica. Esse papel consiste, muitas vezes, em alterar o ritmo de mudança, apressando-o ou diminuindo-o, conforme o caso. Se acreditarmos que tal ritmo é inalterável ou, o que é pior, se acreditarmos ser um sacrilégio interferir com ele, então não existe mesmo campo para qualquer intervenção”.
Paulo Roberto Haddad
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O que esperar da economia brasileira no biênio 2021-2022? Os indicadores socioeconômicos e socioambientais, neste início de 2021, estão bastante sombrios. São 32 milhões de brasileiros desempregados, subempregados e desalentados. O crescimento do PIB, em 2020, foi sensivelmente negativo, tornando o comportamento dos agentes mais dinâmicos dominado pelo desânimo e pela desesperança, o que diminui as perspectivas de consumo e de investimento.
As trajetórias das políticas sociais e ambientais que, desde a Constituição de 1988, estavam em processo de estruturação e reestruturação na busca de maior efetividade em seus objetivos, sofreram rupturas e descontinuidades. As políticas sociais vêm perdendo sua força compensatória, a classe média se empobrecendo, e avança a destruição inconsequente e incentivada do valor dos nossos ecossistemas.
Em momentos como este, a experiência histórica recomenda a transformação no sistema, a partir da renovação das ideias, dos paradigmas e das atitudes dos governantes. Quando um governante assume a direção de uma organização complexa, traz consigo um conjunto de ideias, crenças e convicções, que é determinante para o equacionamento dos problemas e das oportunidades que emergem durante a sua gestão administrativa e definem o seu estilo próprio de governar. Quando esse conjunto de ideias, crenças e convicções tem maior sistematização e integração interna, configura-se uma ideologia.
Como diz Joan Robinson, uma das sucessoras de Keynes na Universidade de Cambridge, as ideologias nascem no contexto de crises econômicas e sociais e a partir de setores da sociedade para os quais a perspectiva prevalecente tornou-se inaceitável. Elas dão suporte às transformações e, frequentemente, são o alicerce para a formulação de programas de ações políticas. Sem as proposições ideológicas, não saberíamos o que queremos saber.
Grande parte da crise social e da crise ambiental que estamos vivenciando nasceu de ideias e ideologias extemporâneas e equivocadas para o momento histórico que atravessamos. Não há sentido em manter a economia brasileira estagnada, desde 2014, sob o pressuposto de que a retomada do crescimento econômico tem como condição necessária e suficiente o equilíbrio fiscal e financeiro do setor público consolidado. Não faz sentido desativar as experiências de planejamento de médio e de longo prazo, que o País acumula desde a II Grande Guerra, e reduzi-las a um braço orçamentário do Ministério da Economia. Não faz sentido tratar as florestas, os rios e as terras do Brasil como um almoxarifado de recursos naturais, com acesso livre a seus bens e serviços e com a porteira aberta para o seu uso predatório.
Precisamos reestruturar um processo de planejamento de longo prazo para a reconstrução de uma economia competitiva globalmente, justa na distribuição da renda e da riqueza e sustentável ambientalmente.
Karl Polanyi, que analisou a Grande Transformação do capitalismo nos EE.UU. e na Suécia, a partir da crise de 1929, concluiu que: “A crença no progresso espontâneo pode cegar-nos quanto ao papel do governo na vida econômica. Esse papel consiste, muitas vezes, em alterar o ritmo de mudança, apressando-o ou diminuindo-o, conforme o caso. Se acreditarmos que tal ritmo é inalterável ou, o que é pior, se acreditarmos ser um sacrilégio interferir com ele, então não existe mesmo campo para qualquer intervenção”.
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