A biodiversidade do nosso planeta está ameaçada. Uma pesquisa abrangente do IPBES (Intergovernmental Science-Policy Platform on Biodiversity and Ecosystem Services) afirma que um milhão de espécies de fauna e flora estão ameaçadas de extinção e que muitas delas vão ser extintas na próxima década.
Das 20 metas definidas em 2010 por 193 países, incluindo o Brasil, envolvendo ações concretas para deter a perda da biodiversidade global até 2020, apenas seis foram parcialmente alcançadas. A perda de biodiversidade podem levar a novas pandemias, falta de água e alimentos e agravar os impactos das mudanças climáticas
A perspectiva é bastante desanimadora, mas para ajudar a encontrar soluções, mais de 50 países se uniram no que foi chamado de “Coalizão de Alta Ambição para Proteção da Natureza e da Humanidade”, ou High Ambition Coalition (HAC) for Nature and People, em inglês.
A meta é proteger 30% da biodiversidade do planeta, nas áreas terrestres e marinhas, até 2030. Por este motivo, a iniciativa ganhou a referência de HAC 30×30.
“Nosso futuro depende da nossa capacidade de evitar o colapso dos ecossistemas e fontes naturais que nos garantem alimentos, água limpa, ar puro e estabilidade climática”, Rita El Zaghloul, coordenadora da HAC e Ministra do Meio Ambiente e Energia da Costa Rica.
A união de todos estes países pela preservação do planeta começou em 2019, quando um pequeno grupo de nações, incluindo Costa Rica e França decidiram juntar forças para combater as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. Essa discussão ganhou espaço em vários encontros internacionais nos últimos 2 anos, mas foi lançada oficialmente no dia 11 de janeiro de 2021.
A HAC tem a liderança compartilhada pela Costa Rica, França e Reino Unido, mas ganhou o apoio e participação de mais de 50 países incluindo Canadá,, Chile, Japão, Nigéria e Emirados Árabes. Juntas, as nações participantes representam 30% do território da biodiversidade do planeta, 25% das reservas de carbono, 28% de importantes áreas de biodiversidade marinha e mais de 30% das reservas marinhas de carbono.
As metas do grupo foram anunciadas durante o One Planet Summit for Biodiversity. No evento, organizado pelo Banco Mundial e Nações Unidas, o presidente francês Emmanuel Macron, convidou todos os países a se unirem à coalizão.
Veja o vídeo de lançamento (em inglês):
As metas 30×30 tem como base o consenso crescente entre cientistas de que proteger os ecossistemas da exploração humana é essencial para preservar as espécies que estes ecossistemas abrigam.
“Especialistas concordam que uma meta possível e necessária é atingir no mínimo 30% de proteção”, reforça El Zaghloul. Esta meta foi confirmada por mais de uma dúzia de cientistas e especialistas em um artigo publicado pela Science Advances em 2019.
A coordenadora da HAC listou 4 razões principais para que estes objetivos sejam cumpridos:
Prevenir perda de biodiversidade
Mudanças na maneira de uso da terra e dos mares são o principal motivo de perdas naturais. No caminho contrário, preservar os habitats terrestres e marinhos pode salvar espécies da extinção e ajudar as espécies ameaçadas a se recuperarem.
Combater mudanças climáticas
Preservar as reservas naturais de carbono, como a Floresta Amazônica, é uma parte fundamental do combate às mudanças climáticas. Um relatório da ONU de 2020 descobriu que preservar 30% dos ecossistemas terrestres pode evitar a emissão de 500 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera.
Economizar dinheiro
Muitas pessoas insistem no discurso de que a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento econômico são dois caminhos opostos, mas a verdade é que sem a natureza preservada, a economia vai colapsar. Um estudo conduzido por mais de 100 cientistas e economistas descobriu que a preservação de 30% dos ecossistemas, tem um retorno financeiro de pelo menos 5 para 1.
Prevenir novas pandemias
A pandemia da COVID-19 mostrou quais são as possibilidades de novas doenças serem transmitidas de animais para humanos. Proteger a natureza faz com que estas possibilidade diminuam muito no future.
A expectativa dos países participantes da HAC é de que a adesão seja global e que muitas outras nações se juntem à coalizão até o encontro da ONU para a Convenção de Biodiversidade, que vai acontecer na China.
E o movimento já vem ganhando força. Os Estado Unidos ainda não aderiram à iniciativa, mas o presidente eleito Joe Biden assinou uma série de resoluções, entre as quais está a proteção de pelo menos 30% da biodiversidade até 2030.
Povos indígenas e comunidades locais
Os líderes globais reconhecem que no passado, outras metas foram estabelecidas e não foram cumpridas. Mas desta vez, a expectativa é que o future seja diferente. Para Savio Carvalho, do Greenpeace, a coalizão em si não vai resolver. Para ele, é importante que as palavras dos líderes mundiais sejam acompanhadas de ações como o combate aos combustíveis fósseis.
Sávio lembra ainda que 30% do planeta já é parte de territórios indígenas, que são um exemplo de preservação do planeta já está em terras indígenas e que os povos indígenas são um exemplo a ser seguido na preservação dos ecossistemas onde estão inseridos. O simples fato de reconhecer as terras indígenas, demarcar estes territórios e garantir que eles sejam respeitados, já funcionaria como uma grande ação pela conservação.
Para ele, a conservação deve se afastar de políticas do passado, quando pessoas com mais poder aquisitivo podiam comprar e ocupar terras alheias. “Os países precisam descolonizar seus conceitos de conservação”, afirma Sávio.
Em comunicado enviado à imprensa a HAC reconhece a importância de trabalhar em parceria com povos indígenas e comunidades nativas na preservação, mas para Sávio este reconhecimento é o mínimo. “As garantias precisam estar asseguradas na legislação”.
Fonte: CicloVivo
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