ELANNY VLAXIO
Popularmente conhecido no folclore brasileiro como ‘amigos de pescadores das águas’, os botos podem deixar de existir, caso sua população continue sendo exterminada. A pesca, degradação ambiental e a comercialização, contribuem para que a espécie seja cada vez menos vista pelos rios.
Segundo a Associação dos Amigos do Peixe-boi (AMPA), até 7 mil botos eram mortos por ano no Amazonas, para serem utilizados como isca para a pesca da piracatinga, antes da moratória interministerial que teve o prazo estendido para mais um ano pela Secretaria de Aquicultura e Pesca.
Desde de 2018 na categoria “em perigo de extinção” da “lista vermelha” da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), o boto cor-de-rosa ganhou no fôlego em sua jornada de sobrevivência nos rios Amazônicos, com a moratória interministerial estendida até junho de 2021, que proíbe a pesca e a comercialização do peixe-liso, conhecido como piracatinga e ou urubu d’água.
A bióloga e pesquisadora, mestre em Biologia de Água Doce e Pesca Interior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Vera da Silva, explicou que há duas grandes causas para a população dos botos continuarem a decrescer, uma é o excesso de redes e malhadeiras e a segunda e a captura direta do animal como isca.
“O primeiro problema de casos de mortes de botos é o excesso de redes e malhadeiras na água e a segunda é a captura direta para uso como isca, existe uma moratória de cinco anos, uma segunda foi estabelecida, mas não existe o controle efetivo uma fiscalização para garantir que botos não sejam mortos”, relata.
Na bacia amazônica, existem basicamente duas espécies de botos: o famoso boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis) e o boto-preto (Sotalia fluviatilis), conhecido como tucuxi. Esses eram espécimes abundantes na bacia, mas hoje, de acordo com um estudo do Inpa, eles estão quase em extinção.
“Medidas devem ser mais rigorosas”
Até 2015, era costume entre os pescadores usar de forma irrestrita a gordura do boto como isca para a captura da piracatinga (Calophysus macropterus), um tipo de alimento na região Norte.
Em janeiro daquele ano, diante de alertas crescentes de pesquisadores e conservacionistas, o governo decretou uma moratória de cinco anos sobre a pesca da piracatinga, que se estendeu por mais um ano em 2020.
Ainda segundo a pesquisadora, as medidas devem ser mais rigorosas sobre a questão de captura do boto, assim como a fiscalização em barcos de pescas e frigoríficos.
“As medidas para prevenir essa captura é a continuidade dessa moratória porque a gente vê que uma redução da captura do boto, um aumento de fiscalização, em frigoríficos e em barcos de pescas, a fiscalização não é suficiente para controlar essa atividade ilegal e criminosa”, destaca Silva.
Segundo a Radioagência Nacional, cerca de dois mil botos são mortos anualmente para servir de isca para pesca da piracatinga que, embora proibida, continua ocorrendo.
Conservação da espécie
Desde 2019, há um Plano de Ação Estadual para Conservação da espécie, com o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) e demais entidades parceiras como o Instituto do Meio Ambiente (Ibama) e a Polícia Militar Ambiental (PMA).
Entre as metas estão a de reduzir a captura acidental de botos-pescadores por emalhe, fazer o ordenamento do complexo lagunar por embarcações e emissão de ruídos e monitorar os parâmetros populacionais e das condições de saúde do boto-pescador.
A pesquisadora de genética de botos, Waleska Gravena, destacou que é possível a prática de um turismo sustentável desde que haja uma fiscalização, além disso, com multas e notificações para que essa prática seja correta.
“Desde que seja realizado corretamente. Os donos de flutuantes que recebem turistas, receberam um treinamento para que o turismo fosse feito da melhor forma possível, sem afetar a biologia da espécie. Os mesmos donos já fizeram denúncias de companheiros que estão fazendo de maneira errada, mas como estes não recebem multa, continuam praticando dessa forma”, explica.
Para alertar a população sobre a situação da espécie, foi criada a Campanha Alerta Vermelho, idealizada pela Ampa e tem a parceria do Inpa, MPF, ICMBio, Ibama, Ipaam, IUCN, e o Instituto Anahata.
Acesse alertavermelho.org.br e saiba mais.
Fonte: Em Tempo
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