“Sonho com o dia em que as escolas, deixando de lado tudo o que a tradição escolar acumulou e endureceu, se transformarão em ‘escolas de jardinagem’ em que as crianças desde pequenas, serão ensinadas a amar e cuidar da nossa Terra. Porque se a Terra não for cuidada, se a Terra nossa Mãe, morrer, de que servirão os outros saberes acumulados?”
Rubem Alves citado pelo projeto Jardineiro
Sim, Rubem Alves tinha razão. O futuro do meio ambiente está nas mãos das nossas crianças. Elas herdarão um planeta com muitos problemas, mas têm disponíveis muita informação para orientar a condução das ações da sociedade no futuro.
Hoje temos pensadores ecológicos e vários projetos de conscientização ambiental, mas somente com a disseminação desses conceitos formaremos indivíduos críticos e realmente envolvidos com a causa ambiental.
A chamada “alfabetização ecológica” consiste na aprendizagem dos ecossistemas que constituem a vida na terra com a devida inclusão do ser humano como parte disto.
Somente com uma construção robusta somando questões sociais, econômicas, políticas e culturais às questões ecológicas é que encontraremos o caminho para um planeta verdadeiramente sustentável.
O despertar do pensamento ecológico deve ser introduzido na mais tenra idade, junto com os primeiros passos de aprendizagem formal.
Reconexão
O ambientalista austríaco e um dos pioneiros em eco alfabetização, Fritjof Capra, defende que a reintegração do indivíduo com a natureza na infância é o meio de garantir e preservar o futuro da humanidade.
Para ele, formar indivíduos críticos que propõem mudanças significativas nos problemas ambientais só pode ocorrer com uma cultura embasada no atendimento das necessidades humanas, partindo dos princípios que regem a vida na terra.
É uma mudança de pensamento importante, pois devolve ao indivíduo seu papel de ser pertencente a natureza e não dissociado dela.
Com a urbanização a sociedade perdeu esse contato com o ambiente e para a maioria das crianças é difícil entender o ecossistema tão distante de sua realidade.
Educação e consciência
Por isso, mais uma vez o papel dos educadores como multiplicadores de conhecimentos é de real importância. Muitas vezes eles são os únicos canais da visão ambiental que a criança possui.
Várias organizações tentam estreitar a distância entre a vida nas cidades e o conhecimento ecológico das crianças. Alguns inclusive utilizam técnicas da pedagogia de Jean Piaget e Maria Montessori e acreditam que a experiência sensorial e cognitiva são mais efetivas na aprendizagem ambiental.
Projeto Jardineiro
Um exemplo de que é possível conectar as crianças na natureza, é o Projeto Jardineiro que nasceu no Sítio A Boa Terra, um dos pioneiros em agricultura orgânica no Brasil, que atua no segmento desde 1981. O sítio cultiva os produtos orgânicos em 10 hectares de sua área e mantém uma reserva natural de cerca de 70 hectares.
O envolvimento em disseminar o amor a natureza surgiu no ano de 2003, quando os proprietários criaram o Centro de Ecologia e Educação Ambiental e passaram a receber grupos e desenvolver projetos junto as escolas da região.
Em 2007, junto com outros parceiros e a Prefeitura de Itobi, município do interior paulista, o sítio criou o Projeto Jardineiro, com o objetivo de alfabetizar ambientalmente três turmas da escola José Zilah. Em 2010 o sítio expandiu a atuação a todos os alunos da escola.
Até 2019, o Jardineiro já havia formado mais de 4 mil crianças e hoje são atendidos 386 alunos, compondo 100% da rede escolar do município.
Teoria e prática
Os encontros são realizados no Sítio e divididos em 16 turmas com crianças de 7 a 11 anos. Segundo Felipe Quadros e Kátia Augustinho, eco educadores do Jardineiro, a aprendizagem começa com a integração dos alunos a natureza, de forma lúdica e participativa.
As atividades são diversas, como passeios na mata para observação, práticas de cultivo de horta e jardinagem, contação de histórias, danças, músicas, culinária e debates sobre meio ambiente. O programa evolui na medida que a criança cresce, de modo que quando conclui o curso, o aluno carrega consigo o conhecimento teórico conectado com as atividades práticas.
Kátia assegura que o sucesso do projeto, está ligado a vivência das crianças na prática e que os alunos esperam sempre muito ansiosos para o dia de visitar o sítio.
Infelizmente durante a Pandemia, as atividades tiveram de ser interrompidas. Mas para tentar minimizar o distanciamento, os coordenadores têm enviado atividades através de filmes gravados no sítio, que são encaminhados às escolas participantes que tentam fazer chegar a maior parte dos alunos possíveis.
Todos esperam que logo possam retomar as atividades de forma normal para seguir crescendo com sua formação ambiental e integração com o Planeta.
Acesse a página do Projeto Jardineiro no Facebook e saiba mais sobre o projeto.
Fonte: Ciclo Vivo
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