“Pouco se fala em seres humanos na Amazônia. É irônico pensar que um ser humano não tenha desejos de crescer socialmente e viver com dignidade, tendo acesso a saúde, a educação e oportunidade para dias melhores aos seus descendentes. Assim, projetos para o Amazonas devem ter como métrica os benefícios sociais e econômicos para a população local, evidenciando-se também os cuidados ambientais”
Estevão Monteiro de Paula
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A Teoria da Janela Quebrada
Próximo da década de 60, a universidade de Standford (EUA) realizou uma experiência de Psicologia Social colocando dois carros idênticos abandonados em dois bairros distintos. Um bairro em uma zona conflituosa de Nova York (Bronx), e o outro em um bairro rico (Palo Alto) e sem conflito na Califórnia. O carro do Bronx foi rapidamente vandalizado enquanto o carro de Palo Alto manteve-se intacto. Os pesquisadores então decidiram quebrar a janela do carro de Palo Alto; como resultado, ele (o carro) foi rapidamente destruído de forma igual ao do Bronx.
O vidro quebrado de um carro abandonado dá uma ideia de desinteresse e quebra o código de convivência, um lugar sem regras, sem leis e a impressão de que naquele lugar “vale-tudo”.
Não se pode deixar a janela do Amazonas quebrada para que se evite conflitos e geração de delitos. É preciso de manifestações para que se perceba a presença e a preocupação do cidadão da Amazônia. Não com lutas e carreatas, mas com ideias, planos e iniciativas promissoras que tragam a sustentabilidade ambiental e melhoria da qualidade de vida do amazônida.
Mudar o rumo da história
O crescente conflito em curso nas questões ambientais em relação a Amazônia provoca cada vez mais ameaças globais e nacionais que colocam em risco o bem estar do interiorano dessa região. É provável que o cidadão do interior já se encontre em terrível conflito interno pela massificação do sistema de comunicação. Seduzido, com qualquer outro ser humano, pelo estimulo de sua memória afetiva e a sensibilidade artística provocada pela propaganda veiculadas pelos meios de comunicação, este cidadão tem a sensação de exclusão social intensa por não poder adquirir os produtos desejados.
Este desejo de obter as coisas de difícil acesso dado as distâncias geográficas e dificuldade de mobilização do cidadão no interior do Amazonas foi detectado pelo um trabalho produzido pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas na década de 1990. O IPAAM contratou uma consultoria para identificar o perfil do lixo produzido nas cidades do interior do Amazonas e encontrou produtos em quantidades significativas que refletiam os desejos iguais ao desejo do cidadão que mora na capital. Portanto, qualquer que seja a proposta para desenvolver o interior deve ter em mente que este cidadão que tem relação direta com o projeto precisa saber seus benefícios com métricas atualizadas para seus benefícios.
Pouco se fala em seres humanos na Amazônia. É irônico pensar que um ser humano não tenha desejos de crescer socialmente e viver com dignidade, tendo acesso a saúde, a educação e oportunidade para dias melhores aos seus descendentes. Assim, projetos para o Amazonas devem ter como métrica os benefícios sociais e econômicos para a população local, evidenciando-se também os cuidados ambientais.
O problema é mesmo com os outros?
A politização da questão ambiental fez com que esta crise aumente cada vez mais. Jamais se poderia imaginar que pessoas de extrema esquerda pudessem apoiar o desejo do futuro presidente dos Estados Unidos em dominar a questão ambiental brasileira. Além disso, a justificativa de que se deve tomar determinada atitude na Amazônia pela dificuldade que o Brasil encontrará com o mercado – não se defende a causa e sim o efeito. Se a causa é ambiental, deve-se adotar medidas para protegê-la, independentemente do efeito que dará. Portanto, perde o efeito ético da pessoa em relação ao meio ambiente quando ela baseia-se em argumentos de pressões internacionais.
Mas no momento pouco importa o partido ideológico. O que importa é a ideologia Amazonense independentemente se é de esquerda, direita, centro e etc. O que interessa é a sociedade sustentar ideias para o desenvolvimento do Amazonas. O que interessa é que as inteligências da Amazônia se unam para propor medidas alternativas para o desenvolvimento desta região.
Sim. Inteligência na Amazônia. Ela existe, mas nunca é referenciada. Quando se fala na Amazônia dificilmente se fala da população que vive nessa região. Esta inteligência não é só de doutores e mestre, mas a do interiorano que é a mais preciosa de todas. Infelizmente, fica difícil de contar com algumas representações de classe que estão doutrinadas em políticas que não cabe na discussão em torno do bem estar do cidadão.
Não adianta arranjar culpados; adianta arranjar caminhos independente de sua complexidade. Adianta motivação, vontade de ver um mundo melhor para todos, compreendendo que nela está intrínseco a sustentabilidade ambiental/econômica e porque não dizer a sustentabilidade da vida do ser humano que vive nessa região.
Inteligência, técnica, ciência e pessoas
A complexidade do ecossistema Amazônico implica na necessidade de se aprofundar tecnicamente e cientificamente em qualquer iniciativa para o uso ou conservação de seus ativos econômicos, sociais e ambientais. Não se pode cair no mesmo erro do Jacaré. A pressão política e social fez com que se estabelecesse um rigor de proteção ao jacaré, mas sem o mesmo cuidado das demais espécies. Como resultado, os rios e lagos da Amazonia estão cheio de jacarés com falta de peixe. Sem bases cientificas possivelmente é difícil estabelecer medidas que mantenham equilíbrio no ecossistema amazônico.
Na Amazônia, o cardápio de oportunidade de negócios é grande, mas precisa ser preparado a oferta e torná-la atrativa. Ou seja, qualidade, funcionalidade e competitividade. As informações obtidas das bases cientificas são promissoras; no entanto, elas são fragmentadas e apresentam “gaps” (lacunas) que precisam ser preenchidos. Não adianta saber somente sobre o princípio ativo derivado de uma fruta; é preciso descobri como domesticá-la, como produzir em escala e como comercializá-la.
O sentido de urgência para Amazônia pelos conflitos em curso requer uma tomada de posição da sociedade. Construir resiliência para proteção do Brasil frente as pressões internacionais não contribuirão com crescimento sustentável e inclusivo sem a formulação de um plano de ação apropriados a realidades locais.
Em 2017 foi elaborado um plano de C,T&I para contribuir com o desenvolvimento do Estado com ênfase em desconcentração da Ciência na área metropolitana de Manaus. Embora defasado, carente de atualização e sem discussão com outros parceiros vale ter ideia do que se tratava.
Plano Macro Estratégico de Desenvolvimento de C,T&I (2017)
No ano de 2018, a Secretaria Executiva de Ciência e Tecnologia da SEPLANCTI do Estado do Amazonas escreveu, mas não publicou, o Plano Macro Estratégico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Amazonas que tem com estratégia o estabelecimento de condições para que as inteligências no interior sejam fortalecidas para o aproveitamento econômico e sustentável dos recursos naturais existentes na sua localidade. Trata-se do fortalecimento das instituições de ensino, pesquisa e extensões locais e possíveis ampliações de oferta de serviços que contemple o interior com condições mínimas de um ambiente inovador. Portanto, é um processo de desconcentrar o domínio de produção de conhecimento e capacitação da capital Manaus para outros municípios. A desconcentração baseia-se na multiplicação de ações de C,T&I (a serem realizadas simultaneamente tanto em Manaus quanto no interior), com a finalidade de distribuir de forma equânime a produção de conhecimento e o desenvolvimento tecnológico do Estado.
A transformação da economia do interior do Estado se dará com o desenvolvimento de empreendimentos focados nos segmentos econômicos locais que já são conhecidos, ou no desenvolvimento de novos negócios utilizando ativos naturais que tenham possibilidades comerciais de sucesso.
O plano também enfatizava a participação de investidores e lembra a importância da parceria do Estado como apoiador dos empreendimentos no interior. O Estado tem o papel importante de apoiador dos empreendimentos no interior, esforçando-se para que o empreendedor sinta confiabilidade e apoio técnico para suas iniciativas. Itens importantes devem ser apoiado pelo Estado, tais como: obtenção de recursos federais e estaduais; licenças de acesso ao patrimônio genético; questões relacionadas à patente; assistência técnica; apoio da ciência e tecnologia; combate a doenças, pragas e outras questões fitossanitárias; na construção de infraestrutura adequada para escoamento de matéria prima, insumos e bens manufaturados.
A transformação produtiva do interior parte de um processo de motivação da população local com uma forte iniciativa de capacitação e pesquisa com base na cadeia de conhecimento do que se pretende potencializar a produção. Neste caminho, está incluída a possibilidade de estruturar um órgão do Estado para que, juntamente com o empreendedor, direcione seus esforços para sustentabilidade econômica dos negócios.
Continua…
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