“Agora, se faltar determinação política para enfrentar a inépcia da atual política econômica, estará se optando por preconceitos ideologicamente convenientes, o que poderá levar a atual administração a fazer mais do mesmo e pior. É bom lembrar que, pode demorar, mas o novo sempre vem”.
Paulo Roberto Haddad
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É bastante provável que iremos vivenciar, no próximo biênio, um período semelhante ao que Keynes descrevia, nos anos 1930, como: “uma situação crônica de atividade subnormal por um período considerável sem nenhuma marcada tendência para uma retomada ou para um completo colapso”. É o que denomino de uma economia em banho-maria: sem veias abertas e sem impulso sinergético.
Não devemos aceitar esse status quo, que significa, para um país com imenso potencial de desenvolvimento sustentável, uma opção pela mediocridade. Seria aceitar a persistência do desemprego, do empobrecimento da população, da ampliação das desigualdades sociais e da degradação ambiental. Precisamos mudar a trajetória das políticas econômicas e direcionar o País para uma Grande Transformação.
O primeiro passo, antes de formular, consensualizar e implementar políticas de crescimento com equidade social e sustentabilidade ambiental num contexto de estabilidade monetária, é sair desse imbróglio no qual nos encontramos em razão de uma política de austeridade interrompida pelo acúmulo de déficits fiscais, por reformas institucionais inacabadas e pela confiança desmesurada no potencial mobilizador de crescimento das forças desacorrentadas dos mercados.
Baseando-nos em experiências recentes das portas de saída adotadas, em diferentes contextos históricos, para superar esse tipo de imbróglio, podemos vislumbrar pelo menos três estratégias de transição, entre outras. O refinanciamento bastante flexível da dívida das famílias visando a reduzir a sua fragilidade financeira e a recompor a sua renda disponível para reacender, com intensidade, o consumo agregado, como ocorreu no EE.UU pós-crise de 2008. A negociação pactuada com poderosas cadeias de valor, como no início do Governo Itamar Franco, quando, na mesa de negociação, discutiu-se a concessão de incentivos fiscais e financeiros versus compromissos empresariais com metas de produção, inovação e emprego. E, como terceira estratégia, a cuidadosa elevação da dívida pública (até 3 pontos percentuais do PIB?) com vinculação específica para financiar um conjunto de projetos de investimentos que estão atualmente paralisados, desde que não apresentem conflitos legais, em termos de licitações e licenças ambientais, com o TCU e o MPF.
É evidente que cada uma dessas estratégias poderá apresentar eventuais controvérsias sobre os seus impactos não-intencionais: o aumento do passivo do Banco Central, a elevação das taxas de juros de longo prazo, o risco de uma leve escalada inflacionária, etc. Mas, em economias de maior complexidade como a do Brasil muitas vezes ocorre da seguinte forma: você resolve um problema sob o risco de gerar um novo problema. Exemplo: para realizar o objetivo de instituir corretamente o auxílio emergencial, o Governo Federal expandiu em cinco vezes o déficit fiscal de 2020.
Agora, se faltar determinação política para enfrentar a inépcia da atual política econômica, estará se optando por preconceitos ideologicamente convenientes, o que poderá levar a atual administração a fazer mais do mesmo e pior. É bom lembrar que, pode demorar, mas o novo sempre vem.
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